Segundo frase do governador João Dória estampada na coluna
da jornalista Rosângela Bittar no Estadão
de 28/01/2020, o novo partido estaria apoiado em um grupo de políticos:
“Bruno Araújo, Eduardo Leite, Bruno Covas, eu, o Reinaldo Azambuja, esse é o
novo PSDB”.
Se de fato o partido se renovou, seria conveniente que
alguém o apresentasse formalmente. Política não são somente nomes, por mais
expressivos que possam ser eles. Partidos, em especial, precisam de nomes,
quadros, organização, marca e ideias. Sem isso, não passam de agregados de
pessoas ligas por interesses particulares e circunstâncias episódicas.
A luta interna que estiolou o PSDB foi vencida por Dória.
Ponto claro, estabelecido, insofismável. Em decorrência, afastaram-se,
discretamente ou com ruído, importantes lideranças tucanas do passado recente,
parte delas composta por fundadores da legenda, em 1988, décadas atrás. Foi
assim com FHC, Serra, Aloysio Nunes, Tasso Jereissati, José Aníbal. Antes de
falecer, o ex-governador Alberto Goldman bateu de frente com Dória.
Explicações e justificativas não faltaram.
Para Dória, era preciso “oxigenar” o partido, afastar a
turma mais velha, convencida do valor da social-democracia. Para tanto, cabeças
teriam de ser cortadas e um novo grupo dirigente deveria ser imposto.
Os perdedores, que se retiraram do cotidiano partidário,
alegaram que Dória joga pesado demais, com poucos princípios e muito
personalismo, impedindo qualquer oposição interna de respirar.
Com a divisão, o PSDB ficou à deriva. Foi mal nas eleições
de 2018: era a 3ª maior bancada em 2014, declinou para o 9º lugar, 25 deputados
a menos. O bunker paulista caiu por inteiro nas mãos de Dória, que passou a
atrair políticos de outros estados, formando boa maioria. Ao disputar a
reeleição em 2018, o governador fez campanha praticamente abraçado a Bolsonaro,
em nome do pragmatismo.
Não estão claras as ideias do novo PSDB, assim como não há
indícios de que o projeto inclua alguma iniciativa diferente em termos
organizacionais. O abandono da social-democracia se traduziu numa tentativa
para enxertar na doutrina do partido alguns princípios mais consistentes de
“neoliberalismo”, deslocando a legenda para a direita: mais mercado, menos
Estado, retórica fiscal mais aguda, um tipo particular de populismo
tecnocrático que flutua conforme a necessidade e uma busca obstinada de
visibilidade midiática. Tudo evidentemente bem amarrado pelos barbantes de
Dória.
Sobrou entretanto o nome, a marca: PSDB, indicação
clara de um compromisso social-democrático que já não mais existe. O que será
feito dessa marca ninguém sabe. O que se sabe é que ela virou algo postiço, que
incomoda e não contribui para modelar uma imagem. Pode ser que se espere para
ver se o enxerto de Dória vingará e produza, com o tempo, folhagens de outra
coloração. Pode ser que não se dê tempo ao tempo e se promova um retrofit
radical, que mude a legenda de cima a baixo, com alterações doutrinárias, de
linguagem e cultura.
Porque, no fundo, a alma social-democrática do PSDB já subiu
aos céus. Ou desceu aos infernos. E sem uma nova alma nenhum partido terá como
se renovar e sobreviver, de modo a fazer alguma diferença.
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