Números apresentados pelo prefeito de São Paulo, Bruno Covas
(PSDB), em entrevista coletiva na sexta (31), quantificaram um drama social que
os habitantes da cidade observam cotidianamente a olho nu: a população de rua
atingiu a marca de 24.344 pessoas em 2019.
Trata-se de um salto de 60% em quatro anos —em 2015, eram
15,9 mil os moradores em tal situação.
A progressão é indissociável da grave recessão econômica que
o país enfrentou e da morosidade com que se ensaia a retomada do crescimento.
Nesses anos, marcados, entre outras dificuldades, por forte queda da indústria
e perda de dinamismo do setor imobiliário, a capital registrou um aumento do
desemprego de 13,2% para 16,6%.
O cenário em algumas regiões, em especial aquelas em que
vivem dependentes de álcool e drogas pesadas, como o crack, é devastador.
Note-se que os
dados revelados pela prefeitura foram contestados por pessoas que
participaram da contagem. Alegando que áreas da cidade teriam sido esvaziadas
antes do levantamento e que habitantes de barracos e favelas sob viadutos não
foram computados, o Movimento Pop Rua estima que o número estaria em torno de
32 mil.
Seja como for, o fato é que uma verdadeira cidade de pessoas
sem-teto vive nas ruas de São Paulo.
O quadro exige urgente melhoria das políticas públicas para
o setor. Sabe-se, por exemplo, que os albergues
destinados a abrigar os sem-teto têm mais de 5.000 vagas ociosas.
Muitas das pessoas abordadas por agentes públicos recusam-se
a morar nesses locais, que adotam regras não raro hostis, como horários
inflexíveis e proibição da guarda de carroças usadas para coleta de material
reciclável —além de alimentação de má qualidade.
Na entrevista, Covas anunciou a intenção da prefeitura de
aumentar investimentos e mudar algumas das estratégias até aqui adotadas.
Seriam alterados os valores pagos aos encarregados de fazer a abordagem de
moradores de rua, premiando os que forem mais bem-sucedidos na tentativa de
conduzi-los voluntariamente aos albergues.
O prefeito também mencionou planos para ampliar a oferta de
empregos públicos, como zeladoria
de parques e praças. Pretende-se, ainda, investir em prédios abandonados e
regulamentar o artigo da lei 17.252, que prevê vagas para pessoas nessa
situação por empresas contratadas pelo município.
Além dos percalços da economia, o drama dos sem-teto
agrava-se com a insuficiência de investimentos em habitação social, problema,
na realidade, de dimensões nacionais.
São, decerto, elogiáveis as intenções manifestadas pelo
prefeito. Resta saber se serão efetivadas ou se farão parte das eternas
listas de promessas em anos eleitorais.
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