O presidente Jair Bolsonaro esteve a ponto de demitir seu
ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, segundo informações de bastidores
que circularam em Brasília ao longo de toda a segunda-feira. Não o fez, mas
isso não significa que não venha a fazê-lo no futuro próximo, a julgar pelo
clima de crispação criado pelo próprio Bolsonaro, empenhado nos últimos dias em
desmoralizar publicamente o ministro Mandetta mesmo diante da brutal crise
sanitária causada pela epidemia de covid-19.
O motivo do recuo de Bolsonaro não ficou muito claro, assim
como já não eram muito claros os motivos pelos quais o presidente estava
investindo contra um de seus ministros – e não um qualquer, mas sim,
justamente, aquele sobre cujos ombros está a responsabilidade de organizar os esforços
do governo federal para enfrentar a epidemia. Sob a Presidência de Bolsonaro, a
rigor, nada parece fazer muito sentido, a não ser para a chamada ala
“ideológica” que assessora o presidente, e para a qual tudo se resume à luta
pelo poder contra os “comunistas” – nome genérico de todos os que essa turma
considera como inimigos.
Seja como for, o recuo de Bolsonaro em sua escalada contra o
ministro Mandetta, ainda que provavelmente seja apenas momentâneo, é um
indicativo de que o presidente se viu limitado pelas circunstâncias. Ou seja,
teve que se conformar com as coisas como elas são, e não como os bolsonaristas
radicais que o cercam gostariam que fossem.
A julgar pelo que tem sido o comportamento de Bolsonaro até
aqui, no entanto, é difícil acreditar que o presidente tenha se dado conta
sozinho de que não é prudente brigar tanto com a realidade, especialmente no
momento em que o País mais precisa de paz para enfrentar a calamidade sanitária
e econômica causada pela epidemia. No caso específico da quase demissão do
ministro Mandetta, Bolsonaro voltou atrás depois de ser convencido pelo seu
ministro da Casa Civil, general Walter Braga Netto, segundo revelou reportagem
do Estado.
Essa informação confirma o papel de “gerente” do governo
assumido pelo ministro Braga Netto, formalmente escalado para comandar o comitê
de crise que coordena as ações do governo durante a epidemia. A Casa Civil tem
entre suas funções primárias justamente a de coordenar a ação do Ministério,
mas atualmente, em razão das características caóticas da governança de
Bolsonaro, seu titular também está tendo de fazer entrar em forma a própria
Presidência.
Assim, o ministro Braga Netto, general que se destacou ao
liderar a intervenção federal no Rio de Janeiro em 2018, parece trabalhar ao
mesmo tempo como uma espécie de moderador no Palácio do Planalto em face do
avanço da ala “ideológica” dentro do governo – a ponto de um de seus principais
expoentes, o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente e líder do chamado
“gabinete do ódio”, ter ganhado uma sala ao lado do gabinete do pai. Não à toa,
partem de Carlos Bolsonaro alguns dos piores ataques nas redes sociais aos
militares que estão no governo e que, como Braga Netto, tratam de temperar os
ímpetos voluntaristas do presidente.
A tarefa dos militares hoje lotados no governo, portanto,
tem sido a de proteger o presidente Bolsonaro de si mesmo e do tal “gabinete do
ódio”, dirigido a distância por um ex-astrólogo que mora nos Estados Unidos.
Essa figura extravagante, ao exigir a demissão de Luiz Henrique Mandetta,
escreveu nas redes sociais que o ministro da Saúde “é o exemplo típico do que
acontece quando um governo escolhe seus altos funcionários por puros ‘critérios
técnicos’, sem levar em conta a sua fidelidade ideológica”.
Ao desestimular a demissão do ministro Mandetta, o general
Braga Netto e outros que nisso se empenharam provavelmente atuaram pela lógica
segundo a qual essa atitude intempestiva minaria o governo a ponto de ameaçar
sua própria continuidade. É justamente esse clima de confronto e até de ruptura
que interessa muito aos fanáticos do “gabinete do ódio”, que apostam no caos,
mas não interessa nada ao País, que precisa desesperadamente de tranquilidade
política para atravessar a tormenta.


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