domingo, 31 de maio de 2020

O MASCATE DA MORTE

Weiller Diniz, OS DIVERGENTES

A putrefação e o rastro pestilento infectam a insalubre milícia do capitão Bolsonaro. Ao longo do tempo os cadáveres estão sendo empilhados. Uma necrópole infame e particular desse mascate da morte. Sua vida é tracejada pelo extermínio. A morte é a meta, o ódio o método. Prescrevendo, ilicitamente, o medicamento ineficaz contra a Covid-19 e letal, escarneceu: “Quem é de direita toma cloroquina, quem é de esquerda tubaína”, debochou seguido de uma depravada zombaria.

O escárnio diante de 18 mil mortes naquele dia – derivadas de um recorde diário de óbitos – mascarou outra perversão primitiva. Tubaína, além do refrigerante, especula-se, teria sido um método de tortura que provoca o afogamento da vítima através do excesso de líquido empurrado por um funil através da garganta. Em ato falho, o adorador do pau de arara e maníaco por rituais mortuários, não disfarçou a índole mórbida e o sadismo torpe.

A falange macabra é ancestral. A fedentina fúnebre o circunda como varejeiras em fezes, dia sim, outro também. Na escalada da pandemia desprezou com um “e daí?” a superação dos números chineses e a marca mais de 5 mil mortos no Brasil. Dias antes excrementou: “brasileiro tem que ser estudado. O cara não pega nada. Eu vi um cara ali pulando no esgoto, sai, mergulha… Tá certo?! E não acontece nada com ele”. As metáforas nauseabundas são inquilinas confortáveis da débil cognição do capitão.

A marcha patogênica diante da pandemia expeliu esterco suficiente para adubar o planeta. Na eclosão da crise palpitou “superdimensionamento” e “fantasia”. Insistiu no menoscabo à vida comparando a letalidade a outras gripes menos virulentas (H1N1) e empacou na “histeria” após a 1 morte, em 17 de março. Agredir governadores e a mídia passou a ser um método diversionista até atingir o ápice da estupidez no pronunciamento no dia 14 de março: “gripezinha”, “resfriadinho”, minimizou após falsear um armistício com governadores.

O trote do descaso prosseguiu ao proclamar o fim da pandemia, em 12 de abril. Já eram 22 mil casos e a marca dos mil óbitos: “Parece que está começando a ir embora essa questão do vírus”. O negacionismo, desmentido pelas valas e corpos empilhados, foi desmascarado em 20 de abril, quando atingimos 40 mil infecções e 2,5 mil mortes: “Eu não sou coveiro”, em outro solavanco de insanidade. Antolhado em crenças tão vaporosas quanto flatulências, seguiu receitando o medicamento fatal, proscrito pela OMS e banido na França.

Ao conspirar contra o isolamento, o capitão sabotou a ciência e contribuiu para aumentar a velocidade da infecção e letalidade dos casos brasileiros. Estudo da universidade de Cambridge atribui uma parcela de mortes à retórica sepulcral contr o relaxamento. “Brevemente o povo saberá que foi enganado por esses governadores e por grande parte da mídia nessa questão do coronavirus”, golfou, equivocadamente, no final de março.
Entre 26 de fevereiro até o final de maio, o número de casos da Covid-19 explodiu no Brasil. Do caso 01 até os dados atuais de mortes foram apenas 3 meses. CPFs indisciplinados que insistem em falecer diante da insipiência do capitão. Foram 3 ministros da saúde, boicotes contra o isolamento e uma pregação demente sobre a eficácia da cloroquina.

O culto a morte, armamentismo, idolatria a sanguinários, milícias e extermínio de adversários resumem o doentio ideário do capitão. “Só vai mudar, infelizmente, quando um dia nós partimos para uma guerra civil., aqui dentro e fazendo o trabalho que o regime militar não fez: matando uns 30 mil…Se vai morrer alguns inocentes, tudo bem, tudo quanto é guerra morre inocente”, apregoou em 1999. Após 3 décadas o agouro é sempre lembrado.

Na escatológica reunião do covil golpista, em 22/04/2020, o capitão regurgitou novamente o desejo de armar a população e impedir rastreamentos de balas. Isso só interessa ao crime. Na sua primeira investida foi brecado pelo parlamento, que fuzilou, em maio de 2019, o decreto banalizando o acesso às armas. O tiro saiu pela culatra. O Congresso abateu a medida. As únicas vidas que preza é a própria e dos filhos. Por isso o rapapé a Augusto Aras, titular da ação penal. Visitas pessoais, promessas de cargos e medalhas. A família tem pendor pela bajulação. Flávio Bolsonaro condecorou o miliciano Adriano da Nóbrega.

A promiscuidade com a face mais aterradora da morte – a milícia, que assassinou Marielle Franco, é íntima. Flávio Bolsonaro na Alerj em 2007: “A milícia nada mais é do que um conjunto de policiais, militares ou não, regidos por uma certa hierarquia e disciplina, buscando, sem dúvida, expurgar do seio da comunidade o que há de pior: os criminosos”. O pai ricocheteou: “Elas oferecem segurança e, desta forma, conseguem manter a ordem e a disciplina nas comunidades. É o que se chama de milícia. O governo deveria apoiá-las, já que não consegue combater os traficantes de drogas. E, talvez, no futuro, deveria legalizá-las”.

A desenvoltura ultrapassa a retórica. Flávio Bolsonaro contratou o PM das ‘rachadinhas’, Fabricio Queiroz, amigo do pai. Queiroz era camarada de Adriano da Nóbrega. Adriano foi condenado por homicídio e o capitão o inocentou no plenário da Câmara. A medalha de Tiradentes a Adriano, da assembleia, foi entregue na cadeia. Tempos depois foi medalhado com uma rajada de tiros. Flavio empregou a então esposa de Adriano, Danielle Mendonça da Costa, e a mãe, Raimunda Veras Magalhães.

O gestual da ‘arminha’ maculou a campanha, bem como a cena de fuzilar “a petralhada” no Acre. Ao votar contra Dilma Rosseuf, reverenciou o ex-chefe do Doi-Codi, o condenado Carlos Alberto Brilhante Ustra, síntese do sadismo assassino da ditadura. Na presidência estendeu o tapete vermelho de sangue para o facínora major Curió, comandante da repressão no Araguaia, que resultou em 41 mortes. O novo recruta, sargento Tainha Roberto Jefferson, já posou com armas. As analogias mortíferas contagiaram Paulo Guedes, que colocou uma granada no bolso do inimigo, o servidor público.

Agônico e marchando para a deterioração. Essa é a trajetória fúnebre do capitão flagelo. A escumalha é a borra de um dos mais vis embates, há 84 anos na Universidade de Salamanca, opondo civilização e barbárie. O general franquista, José Millán-Astray instigava a plateia fascista, no início da guerra civil espanhola. Coincidência, a palavra de ordem era liberdade: “Abaixo a inteligência e viva a morte”. Miguel de Unamuno, intelectual, reitor e ex-franquista que não se calou: “Às vezes o silêncio é mentir”.

Em nome da razão contra ignorância, da prevalência da ciência diante do obscurantismo, dos verdadeiros democratas em detrimento dos fascistas, do triunfo da verdade sobre a mentira, da civilização em desfavor da bestialidade, da predominância da paz contra o belicismo e, sobretudo, da afirmação da vida antepondo-se a morte, não é hora de silêncio, menos da mentira: nem cloroquina, nem tubaína. Desinfetem a latrina.

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