Diário da Crise LXXVII
Um dos temas do fim de semana é a divulgação dos dados sobre
mortos pelo Covid. O governo ensaiou uma censura temporária, para evitar que
fossem divulgados no Jornal Nacional.
Deu errado. Os dados foram divulgados num plantão do Jornal
Nacional e obtiveram uma audiência ainda maior.
Esse é o problema da censura, temporária ou permanente. Ela
atrai mais curiosidade das pessoas. Um pouco como aquela famosa frase do Freud,
o dado reprimido acaba se vingando do repressor.
No governo militar, censuraram uma epidemia de meningite.
Mas as circunstâncias hoje são muito diferentes. Além da liberdade de imprensa,
as redes sociais estão aí prontos para combater, na prática, qualquer tipo de
censura.
O milionário da Wizard que entrou para o governo questiona o
número de mortos. Nenhuma novidade. O processo de negação é a tônica de Bolsonaro:
negam-se a importância da pandemia, o número de mortes, o conteúdo dos caixões
que se enterram – eles vão assim até os últimos dias. No futuro, deve financiar
pesquisas para demonstrar que o coronavírus foi apenas uma ilusão.
A única coisa que afirmam é a cloroquina, sem jamais
mencionar o fato de que é um remédio que veio de uma árvore amazônica, a mesma
floresta que adotaram devastar.
Outra discussão é sobre os protestos de rua. Muita gente se
manifestou contra a saída às ruas nesse momento. Bolsonaristas também estarão
protestando contra o STF .
As manifestações nesse momento são problemáticas pois
estamos no auge da pandemia. Bolsonaro espera o conflito pois pretende
utilizá-lo a seu favor.
Aliás até Trump quis se aproveitar das grandes manifestaõçes
americanas ao pedir que fossem reprimidas com vigor.
Figuras como Trump e Bolsonaro precisam desses conflitos.
Não se importam em unificar o país, ou como disse o ex-Secretário de Defesa,
James Mattis, nem fingem que querem a unificação nacional.
Seu objetivo é o conflito para que apareçam como os grandes
cavaleiros da ordem.
Espero que mesmo as pessoas que decidam ir para as ruas,
compreendam essa realidade. Nos Estados Unidos, grupos supremacistas brancos,
se fazem passar por manifestantes, saqueiam e queimam.
Isto pode acontecer também no Brasil com grupos da extrema
direita ou mesmo com um tipo de extrema esquerda que quer ver o circo pegar
fogo.
Será preciso muita união e maturidade para superar esse
momento delicado no Brasil.
Domingo é mais uma prova.
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