Na economia o pior já
passou, diz o governo
Para os economistas do governo, as projeções do Fundo
Monetário Internacional e do Banco Mundial para o nível de atividade do país
este ano estão simplesmente “erradas”. O FMI divulgou, na revisão do World
Economic Outloock, uma queda de 9,1% do PIB e o Bird calculou em 8% a recessão
no Brasil. Os técnicos do FMI consideraram uma retração de 0,6% no Produto
Interno Bruto (PIB) para cada semana de isolamento social, mais que o dobro do
estimado pelo Ministério da Economia (- 0,27%) e por um período maior do que o
preconizado pelos economistas locais.
Nas contas do Fundo Monetário, depois do tombo levado pela
atividade econômica doméstica, que atingiu o fundo do poço em abril, não
haveria praticamente nenhuma recuperação, segundo o relato de assessores da
área econômica que estiveram com os enviados do Fundo. O ministro da Economia,
Paulo Guedes, qualificou os prognósticos do FMI de “chute”.
A Secretaria de Política Econômica (SPE) do ministério
continua apostando em uma recessão próxima a 4,7%. No Banco Central, a última
revisão do Produto Interno Bruto (PIB) aponta para um desempenho pior: queda de
6,4% este ano. Ambos, contudo, convergem no entendimento de que o pior já
passou e buscam nos dados de alta frequência as informações que sustentam a
avaliação de que a economia já começou a reagir.
“Em relação ao que se esperava em abril, que eram dados
muito ruins, eles estão vindo só ruins”, pontuou um dos secretários do
ministério, para deixar claro que apesar de alguma perspectiva melhor não há
razão para grandes comemorações. Isso é o que estariam mostrando as informações
sobre emissão de nota fiscal e de vendas no cartão, dentre outras.
Os demais indicadores que chamam a atenção dos técnicos da
área econômica e que apontam para o início de um processo de retomada da
atividade, embora esta ainda esteja bem abaixo do período pré-pandemia, são:
Emplacamento de veículos: depois de uma retração de mais de
70% entre fevereiro e abril, o número de veículos emplacados em maio e junho
aumentou, respectivamente, 12% e 84%, ajustados os efeitos sazonais. O dado
desagregado revela forte aumento no emplacamento de caminhões, superando em
junho os patamares pré-crise, segundo informações da Fenabrave (Federação
Nacional da Distribuição de Veículos Automotores).
Consumo de energia elétrica: após recuar 16%, em meados de
abril confrontado com igual período do ano passado, o consumo de energia
aumentou nas últimas semanas, segundo informações do ONS (Operador Nacional do
Sistema Elétrico). Dados do fim de junho indicam que o consumo se encontra
apenas 5% abaixo de igual período de 2019. “O dado é volátil, e apresenta
heterogeneidade regional, mas a tendência é robusta: há uma melhora consistente
nesse indicador nas últimas semanas”, atestam os economistas oficiais.
Faturamento do varejo (ICVA -Indice Cielo do Varejo
Ampliado): o faturamento nominal do varejo teve queda de mais de 50% no fim de
março, quando começou o isolamento social. É possível notar, porém, uma
recuperação nas últimas semanas. Na ultima semana de junho constata-se um recuo
de 24% em relação a período comparável antes da pandemia. “Há diferenças
setoriais importantes, mas os dados sugerem recuperação consistente em diversos
setores”, asseguram os técnicos.
Dados de mobilidade do Google: o Google elaborou um
relatório para identificar os impactos que a pandemia da covid-19 causou no
distanciamento social e nas tendências de mobilidade. A base de comparação é um
valor médio das cinco semanas entre o dia 3 de janeiro e 6 de fevereiro de 2020
(pré-pandemia). Os últimos dados disponíveis são do dia 27 de junho e apontam
uma melhora expressiva na mobilidade para locais de trabalho e mercearia e
farmácia. “Já os dados de varejo e recreação são mais heterogêneos por região e
encontram-se em patamares ainda baixos”, ponderam.
A SPE elaborou um indicador proprietário que sintetiza os
dados do Google e revela que após recuar aproximadamente 55% em abril, o
indicador encontra-se atualmente próximo de 30% negativos.
Confiança empresarial: depois de passar por uma queda de
mais de 40% entre março e abril, a confiança voltou a subir, informa a Fundação
Getúlio Vargas (FGV). Os meses de maio e junho mostraram avanço de 8.2% e 19.1%
na margem, respectivamente, com ajuste sazonal.
Incerteza econômica: o indicador da FGV começou a recuar na
margem em maio (-9.6%) e junho (-8.8%), depois de acumular uma alta de 83% no
período entre o início da pandemia e abril. Mesmo com as quedas, a incerteza
continua elevada.
A ampliação, por mais dois meses, do auxílio emergencial
para os trabalhadores informais, desempregados e microempreendedores
individuais (MEI) e o impacto dessa ajuda na expansão da massa salarial, assim
como o aumento da oferta de crédito para as médias, pequenas e microempresas,
devem ajudar na retomada da atividade.
O auxílio deverá ser pago em três parcelas de R$ 500, R$ 400
e R$ 300 e vai disputar o peso dessa renda no PIB com o risco fiscal que o
gasto com esses pagamentos traz embutido.
Entre os economistas oficiais não há grandes esperanças de
que os bancos em geral vão se engajar, efetivamente, em conceder crédito para o
universo de micro e pequenas empresas – cujo risco de falência aumentou muito
nesta crise – apesar das garantias asseguradas pelo Tesouro Nacional. Até
agora, apenas a Caixa, por ser um banco 100% estatal, está operando com a linha
do Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno
Porte).
Do ponto de vista do comportamento do PIB é melhor um abre e fecha do comércio de bens e serviços, pautado pela evolução da doença, do que manter um estrito isolamento social em que funcionam somente supermercados e farmácias.
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