Outro dia num bate-papo informal e algo provocativo propus
uma solução meio piadista e meio séria para a polêmica que divide a oposição:
se a aliança contra Jair Bolsonaro deve ser uma frente ampla democrática ou uma
frente de esquerda. “Façam como no Uruguai: criem uma frente de esquerda e
chamem de Frente Ampla.”
Claro que não solucionaria o cisma, hoje distante de
solução, mas seria um truque do tipo que Tancredo Neves e Magalhães Pinto
operaram na passagem dos anos 1970 para os 80. Criaram um partido de
centro-direita e chamaram do nome que na época era cogitado para rotular uma
eventual frente de esquerda: Partido Popular. Roubaram a marca. Acontece.
A história conta que depois o presidente João Figueiredo e
seu PDS, sucessor da Arena, impuseram o voto vinculado, e na urna de 1982 o
eleitor seria obrigado a votar de vereador a governador em candidatos do mesmo
partido. Aí os liberais sentiram-se traídos e a maioria deles reagruparam-se no
PMDB, que sucedera o MDB do bipartidarismo.
Essas histórias hoje já antigas ajudam a compreender que o
dito centro tem esse nome exatamente porque pendula conforme a circunstância,
mas sem nunca perder a identidade, que aponta mais para a direita que para a
esquerda. Aliás esse locus político tem como vocação principal não exatamente
apoiar outros, mas recolher apoio.
A frente ampla até vinha razoavelmente bem, daí Bolsonaro
resolveu jogar mais o jogo da política. Como se pode notar a partir dos fatos,
esses teimosos, as defecções nela agora têm sido mais frequentes. Vão desde os
que caíram fora da live do “Direitos Já” até quem de repente mudou de ideia e
passou a defender que não, não é hora de pensar em impeachment.
Mas a prova de fogo vai ser mesmo nas eleições. O que vai
prevalecer, em especial onde terá segundo turno? A frente contra a esquerda ou
a frente contra a direita? Ou não vai ter uma regra, uma tendência? Ou vai
predominar, dentro de cada campo, a guerra fratricida de olho na necessidade de
atrapalhar o fortalecimento excessivo de algum “aliado”?
Na real, não existe frente sem programa político. Frentes
“de resistência” são frágeis, também porque são óbvias. Uma ampla frente
político-social opõe-se, por exemplo, aos movimentos que pedem o fechamento do
Congresso Nacional e do STF. E do mesmo modo que facilmente se agrupa,
desmancha-se quando o “que fazer?” é colocado na mesa.
O MDB e depois o PMDB dos idos do regime militar tinham
objetivos programáticos claros. O principal era, no caso do primeiro, a
revogação da legislação excepcional. Do segundo, a volta das eleições diretas
em todos os níveis. Ambos foram vitoriosos, o AI-5 acabou em 1978 e as diretas
voltaram em duas etapas: 1982 e 1989.
Depois o PMDB teve um momento brilhante, no Plano Cruzado
que lhe deu safra gorda na eleição de 1986. Daí produziu uma Constituição, que
hoje agoniza, e entrou em declínio.
No momento, seus diversos spin-offs misturam-se aos
derivados da velha Arena para formar a constelação que a imprensa chama de
centrão, quando não aceita que negociem com o governo de turno. E que chama de
“partidos de centro” quando um governo que ela apoia precisa negociar para
obter apoio no Congresso.
Não chega a ser um desfecho glorioso.
*Alon Feuerwerker é jornalista e analista político/FSB Comunicação
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