O desemprego atingiu 14,4% no trimestre encerrado em agosto
e está em franca aceleração – o índice foi de 12,9% no trimestre encerrado em
maio e de 11,8% no mesmo período do ano passado. Já são 13,8 milhões de
brasileiros procurando emprego sem sucesso. Foram fechados 12 milhões de vagas
em um ano, reduzindo a população ocupada em 12,8% em relação a agosto de 2019.
Só nos últimos dois trimestres, a população ocupada diminuiu 5%, o equivalente
a 4,3 milhões de desempregados, e a maior parte das vagas fechadas era com
carteira assinada.
Considerando-se também os trabalhadores subocupados – que
trabalham menos do que podem – e os desalentados – que poderiam trabalhar, mas
desistiram de procurar emprego e, por isso, não são considerados desempregados
–, chega-se a uma massa de 33,3 milhões de brasileiros em situação crítica
neste momento de grave crise.
Enquanto isso, o governo não parece ter se dado conta nem do
tamanho nem da urgência do problema que lhe cabe administrar. Nos últimos dias,
ministros importantes dedicaram energia a trocar ofensas em redes sociais, a
maldizer colegas no Congresso e a provocar em termos infantis o presidente da
Câmara, Rodrigo Maia, justamente no momento em que a articulação política
inteligente se faz tão necessária.
Num resumo rápido, mas suficiente para confirmar o
baixíssimo nível do governo Bolsonaro, tivemos o ministro do Meio Ambiente,
Ricardo Salles, chamando o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz
Eduardo Ramos, de “Maria Fofoca”, acusando-o de plantar notas na imprensa para
atacá-lo.
“Não satisfeito em destruir o meio ambiente, (o ministro
Salles) agora resolveu destruir o próprio governo”, ironizou Rodrigo Maia
no Twitter. Em resposta, o perfil de Ricardo Salles no Twitter retrucou
chamando o presidente da Câmara de “Nhonho” – personagem rechonchudo do seriado
infantil Chaves, que se tornou o apelido maldoso dado pelos
bolsonaristas a Rodrigo Maia nas redes sociais. Salles jura que não foi ele
quem cometeu a grosseria, mas os bolsonaristas vibraram.
Logo depois foi a vez do ministro da Economia, Paulo Guedes,
protagonizar constrangedor episódio. Em audiência pública no Congresso, o
“superministro” acusou a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) de financiar
“programa de ministro gastador para enfraquecer ministro que quer acabar com
privilégios”. O “ministro gastador” é Rogério Marinho, do Desenvolvimento
Regional, e o “ministro que quer acabar com privilégios” é, claro, ele mesmo,
Paulo Guedes. Além de voltar à carga contra seu desafeto favorito, o ministro
da Economia fez grave acusação de que um colega seu é lobista de bancos para
sabotá-lo.
Enquanto isso, a votação do Orçamento está travada no
Congresso, graças a uma obstrução patrocinada pelos próprios governistas;
nenhuma reforma avança, como consequência da inação e das barbeiragens do
governo; e o Pantanal continua a arder, sob o olhar indiferente do ministro do
Meio Ambiente.
A consequência natural, diante dessa entropia, é a fuga de
investidores, de que a disparada do dólar é símbolo maior. As perspectivas são
as piores possíveis, com a escalada acelerada da dívida pública e com a previsão
de alta de juros e da inflação. Por uma infeliz confluência de fatores
políticos, coube ao mais despreparado presidente da história brasileira
conduzir o País neste momento de profunda crise, e é claro que isso não ajuda a
resgatar a confiança dos investidores.
Enquanto seus ministros se comportam como lavadeiras a
brigar na beira do rio, o presidente da República, líder de todos eles, dedica
sua atenção integral à sua campanha pela reeleição, inaugurando trecho de
obras, bebendo guaraná em botequins e prometendo “mandar embora o comunismo no
Brasil”. Entre um evento e outro, o presidente achou tempo para dizer que “está
dando certo a economia nossa” – frase em que o mau português é o menor dos
problemas.
O caos em Brasília é o retrato de um governo cujo presidente
fez carreira política com o discurso da destruição e da discórdia. Seus
ministros brigões só estão se inspirando no chefe.
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