Como alguém pode ser acusado de ser, ao mesmo tempo, responsável pela eleição de Bolsonaro, fanático por Lula, direitista, petista, comunista, tucano e fazer campanha para Sérgio Moro? Pois é. Muitos, incontáveis, são atacados assim. Eu, inclusive.
Esse Frankenstein, metamorfose ambulante ou geringonça política é uma das ficções criadas nas redes sociais pela irracionalidade e polarização da política brasileira. E quem cai nessa rede será, certamente, um saco de pancadas de variados militantes doentios neste ano eleitoral de 2022.
Preparem-se jornalistas, analistas, cientistas políticos, responsáveis por pesquisas e, de forma mais direta, os ministros do Supremo, apedrejados pelos petistas no mensalão e no petrolão e agora pelos bolsonaristas, após a anulação dos processos contra Lula que permitiu o que o próprio Supremo havia lhe negado em 2018: a candidatura à Presidência. Favorito em 2022, Lula é a maior ameaça à reeleição de Bolsonaro.
Além disso, o Supremo serve de anteparo aos ataques do presidente e do governo a isolamento social, máscaras, vacinas, ciência e realidade e foi também quem deu um basta ao gabinete do ódio e à indústria de fake news e ataques às instituições – principalmente ao próprio STF.
Isso tende a disparar em 2022, já que Bolsonaro dobrou a aposta em suas maluquices até o finzinho de 2021, com falas, live e pronunciamento, entre um jetski e outro, insistindo em desmoralizar urnas eletrônicas, a “gana por vacinas” e a exigência de imunização.
Marcelo Queiroga, da Saúde, dificulta a vacinação de crianças de 5 a 11 anos, com invenções como receita médica e consulta pública, e a ministra Cármen Lúcia entrou em ação. Milton Ribeiro, da Educação, emergiu do anonimato e do silêncio durante o caos nas escolas na pandemia, para impedir universidades federais de exigir vacinas, e o ministro Ricardo Lewandowski suspendeu a decisão. Ambos no último dia de 2021.
Como gato e rato, o governo faz loucuras, o STF desfaz. E, assim como Bolsonaro se tornou o maior cabo eleitoral de Lula, também conseguiu unir a Corte. Os ministros viviam às turras, não vivem mais. “Estamos mais protegidos contra disputas internas”, diz um deles, preparando-se para a guerra de 2022.
Os ataques, porém, não serão só dos bolsonaristas nem só contra o Supremo. Serão de todos contra todos e as geringonças políticas, como boa parte dos jornalistas, estaremos no meio do tiroteio, expondo e comentando fatos e com crise existencial. Como alguém pode ser bolsonarista, lulista, tucano e morista, tudo ao mesmo tempo? Só na Terra plana da internet.
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