quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

COM LIRA E PACHECO, CENTRÃO SE CACIFA PRA AUMENTAR PREÇO DE APOIO A LULA

Edna Lima, OS DIVERGENTES

Até agora Lula surfou na onda anti-bolsonarista, principalmente depois da frustrada tentativa de golpe no 8 de janeiro que o deixou fortalecido pela rejeição da sociedade aos atos de vandalismo praticados contra as sedes dos três Poderes em Brasília. A partir desta quinta-feira (2), no entanto, o mundo real da política começa a mostrar a sua verdadeira face. O Centrão e sua conhecida voracidade por cargos e recursos do orçamento público é o grande vencedor até agora. Vai continuar dando as cartas no Congresso, como tem feito há anos.

Assim, as pautas do governo terão que, necessariamente, passar pelas mãos dos líderes do Centrão, em especial pelo todo-poderoso presidente da Câmara, Arthur Lira. Reeleito para mais dois anos à frente da Casa na quarta-feira, com uma votação histórica, provou que o Orçamento Secreto era apenas uma das pontas de sustentação do seu poder junto aos pares.

Lira sabe jogar como poucos o pôquer da política. Foi o fiador de Bolsonaro no momento mais frágil do seu governo. Assegurou-lhe a governabilidade em troca apenas da “simples criação” do famigerado Orçamento Secreto. Seguiu de braços dados com o ex-presidente até o aeroporto e de lá foi direto ao encontro de Lula para prestar apoio ao novo governo sem sequer corar.

Pacheco já não sai tão fortalecido quanto o colega Lira, em parte graças ao aliado Davi Alcolumbre, que tem se tornado um estorvo e pode render uma boa disputa pela presidência da Comissão de Justiça do Senado. Mas isso é tema de um outro artigo. De qualquer forma, assim como Lira, o presidente do Senado foi, durante os últimos dois anos, aliado de Bolsonaro. Fez o que pode para impedir a instalação da CPI da Covid até ser obrigado por decisão do STF. Com a mudança de governo, não hesitou em trocar de lado.

É com essa turma que Lula terá que negociar. E o governo, também, terá que colocar no papel, de forma clara, os seus projetos para os próximos quatro anos. Coisa que ainda não fez ainda.

É bem verdade que no começo todo governo vive em paz com o Congresso e com a sociedade. Os parlamentares correm para apoiar o novo presidente, assim como o rio corre para o mar. Tanto assim que até agora oito senadores aproveitaram a janela partidária para trocar de legenda e ingressar na base de apoio ao governo Lula, entre eles o senador Chico Rodrigo – aquele flagrado com dinheiro na cueca-, ex-vice-líder do governo Bolsonaro.

Ainda é muito cedo para dizer que Bolsonaro morreu ou que o governo não terá uma oposição ferrenha. As cartas estão sendo distribuídas agora e o jogo tá só começando.

Ganha quem souber jogar ou blefar melhor.

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