sábado, 1 de julho de 2023

BOLSONARO FORA

Editorial Folha de S. Paulo

Ex-presidente sai da cédula, mas eleitorado e quadros à direita continuam fortes

Consumou-se o desfecho esperado do julgamento de Jair Bolsonaro (PL) no Tribunal Superior Eleitoral. O ex-presidente foi condenado à inelegibilidade até as vésperas do pleito nacional de 2030.

Sendo irrisória a probabilidade de reversão por meio de recurso ao Supremo Tribunal Federal, a política nacional começará depressa a acomodar-se ao fato de que o candidato preferido por 49% dos eleitores no segundo turno de 2022 não disputará as próximas eleições.

Não se trata de movimentação banal. Com Bolsonaro habilitado, haveria pouca dúvida de que seria ele mesmo o principal desafiante do candidato governista em 2026. Sem ele na cédula, abre-se um leque de incertezas e possibilidades.

Uma das incógnitas é o cacife político remanescente de Bolsonaro. Numa situação em alguns aspectos assemelhada, ocorrida em 2018 com o PT, mesmo afastado pela Justiça da possibilidade de concorrer, o então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva logrou beneficiar com seu apoio a candidatura de Fernando Haddad a ponto de qualificá-la para o segundo turno.

Naquele caso, no entanto, Lula arrastou a incerteza sobre a sua habilitação até as portas da votação. A inelegibilidade de Bolsonaro sacramenta-se a mais de três anos da próxima eleição presidencial, um período enorme para a dinâmica frenética da política brasileira.

A permanência de uma alargada fatia do eleitorado disposta a votar na centro-direita parece o fator menos transitório. Seus temas de preferência —como a liberdade de empreender, a desconfiança das regulações estatais e o tradicionalismo nos costumes— dificilmente deixarão de ser encarnados por chapas competitivas em 2026.

A força demonstrada por essa corrente na eleição de outubro passado não foi suficiente para assegurar a reeleição de Jair Bolsonaro, mas deixou um legado de quadros políticos em posição privilegiada seja em governos estaduais, seja no Congresso Nacional. Desse conjunto, provavelmente, surgirá o sucessor de fato do ex-presidente.

Já a centro-esquerda e o governo Lula poderão se beneficiar no curto prazo do enfraquecimento da personificação mais vocal da oposição, mas incorrerão em erro estratégico se tomarem essa situação momentânea como endosso às suas plataformas mais típicas.

Seria o momento, pelo contrário, de a gestão Lula aproveitar a fraqueza do adversário para cativar a parcela centrista do eleitorado que, tudo o mais constante, tende a decidir o vencedor do certame de 2026, como decidiu o de 2022.

O apagar-se do expoente da radicalização odiosa e obscurantista que arrebatou a política brasileira nos últimos anos deveria favorecer as forças da moderação.

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