Agenda
brasileira permanece em sua contumaz esquizofrenia entre moderno e arcaico
Não é de estranhar que os bolsonaristas incentivem memes contra Fernando Haddad. Desde já percebem de onde surgem indícios de uma política pública alternativa à polarização — e com resultados. Estranho seria se os alvos fossem Sonia Guajajara ou Anielle Franco, com suas práticas datadas. O ótimo livro de Daron Acemoglu e Simon Johnson “Poder e progresso”, ao mergulhar na história das tecnologias e de seus reflexos sociais, escancara como a agenda brasileira permanece em sua contumaz esquizofrenia entre moderno e arcaico. Calma, o Brasil não é personagem da obra, porque nossa vocação extrativista é antes um fenômeno sociopatológico, jamais econômico. Nas páginas, encontram-se até pistas para compreender o retrocesso chamado Trump. Ou Bolsonaro, seu êmulo (até nos muitos casamentos).
Como ocorreu noutras revoluções — entre elas a Industrial —, as tecnologias digitais provocaram desnorteamento em muitos setores econômicos, com reflexos imediatos na organização social. Diversas ocupações foram extintas, muitas profissões perderam seu valor, junto a fábricas hoje obsoletas e, em seu rastro, a bairros e cidades inteiras diante de uma inesperada decadência.
Dois momentos da História brasileira poderiam constar da obra de Acemoglu:
1) O Maranhão, no século XVIII, era poderoso produtor e exportador de algodão. Quem conhece Alcântara ainda consegue ver os casarões, hoje escombros, símbolos da antiga riqueza trazida pelo que foi apenas outro fausto tipicamente brasileiro (poderia usar também como exemplo Manaus e seu ciclo da borracha). Os bacanas da época mandavam lavar (e engomar) suas roupas em Portugal... Como concorrente, Mississipi e suas lendárias plantações. Ambos se apoiavam em mão de obra escrava, quando dois fatos mudaram a vida nababesca da elite maranhense: o aumento de impostos praticado pela Coroa portuguesa (para sustentar os suspeitos de sempre) e o início do uso de maquinário industrial nos Estados Unidos. Vale lembrar que os americanos, com pouca oferta de trabalhadores, rapidamente buscaram desenvolver equipamentos capazes de incrementar a produtividade. Logo o preço final do algodão brasileiro tornou-se inviável. O resto é decadência.
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