Marçal indicava vítimas a quadrilha e sabia de fraude,
diz investigação após prisão em 2005
OUTRO LADO: Assessoria de candidato não responde a questionamentos; ex-coach tem dito que só consertava computadores
O processo em que o atual candidato Pablo Marçal (PRTB) foi condenado por furto por participação em uma quadrilha de fraude bancária desmonta a versão dele segundo a qual só consertava computadores.
Marçal tenta se eleger prefeito de São Paulo, e o tema de sua prisão e condenação é frequentemente resgatado por adversários durante debates.
O autodenominado ex-coach foi preso em 2005 durante a Pegasus, que foi noticiada à época como uma operação contra a maior quadrilha especializada em invadir contas bancárias pela internet, com mais de cem mandados de prisão expedidos em vários estados.
Marçal foi condenado a quatro anos e cinco meses em regime semiaberto pela Justiça Federal em Goiás, mas o caso prescreveu.
A Folha procurou a assessoria de Marçal sobre o assunto, mas ele não respondeu até a publicação desta reportagem.
A investigação da Polícia Federal afirma que, além de fazer a manutenção dos computadores da quadrilha, Marçal operava um programa responsável por captar emails para os quais seriam enviados spams. Por meio deles, a quadrilha fisgaria dados das contas bancárias das vítimas.
O esquema envolvia o que se convencionou chamar de phishing, um velho método de fisgar pessoas na internet e induzi-las a clicar em links de sites que instalam vírus em seus computadores e celulares
A seleção de emails se dava por meio de um programa que sabia quais endereços eletrônicos eram de fato utilizados pelos usuários. Marçal alegou em depoimento que um dos acusados lhe dizia "que o trabalho que estava sendo realizado era de publicidade para um médico".
Um agente da PF ouvido como testemunha no caso deu depoimento que contraria a alegação de inocência de Marçal. Questionado pelo Ministério Público Federal durante audiência se Marçal sabia das atividades ilícitas, o agente respondeu que sim.
"Ah, sim. Sim. Inclusive tinha um...notebook, né, pra ele operar que foi fornecido pelo grupo", disse.
O Ministério Público Federal indaga se ele não fazia apenas a manutenção nos computadores, e o agente responde que não. "Inclusive, o Pablo é... a indicação de que ele quer enviar, ele próprio enviar, isso demonstra que ele sabe enviar [os emails mandados pela quadrilha]."
Em depoimento, Marçal negou fazer o envio dos spams, mas disse que um acusado pedia às vezes para que ele apertasse o botão para que um programa que fazia isso reiniciasse quando já estava operando.
O policial afirma ainda que Marçal também deu alguma "colaboração na elucidação de alguns pontos da investigação", e a Promotoria responde que isso seria levado em consideração pelo juízo.
O MPF não considerou crível a versão de desconhecimento dos fatos por Marçal, tendo como um dos motivos os próprios depoimentos dele sobre o assunto, no qual dá detalhes relativos ao caso.
Segundo despacho de um delegado da Polícia Federal, Marçal informou que líderes da quadrilha também mantinham um escritório onde estavam instalados computadores utilizados no esquema de transferências fraudulentas via internet.
Em seu depoimento, Marçal afirmou que recebia R$ 350 (cerca de R$ 1.000, em valores corrigidos) para fazer os serviços para Danilo de Oliveira, que foi acusado de chefiar a quadrilha. Ele disse ter conhecido o homem em uma igreja.
A condenação de Marçal se deu apenas em 2010. Na ocasião, ao condenar Marçal a quatro anos e cinco meses de reclusão, o juiz disse que ele teria tido um papel secundário na quadrilha. Sua pena foi extinta em 2018 por prescrição retroativa.
Em vídeo publicado em 2022 em suas redes, Pablo afirmou que consertava computadores para um "cara da igreja", que "os computadores ficavam rodando" e que "ia lá, só consertava e ia embora". Ele afirmou que todas as pessoas foram condenadas e cumpriram pena, sendo que só ele teve extinção da punibilidade.
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