Vendidos com a promessa de tornar os compradores mais
belos e mais fortes, eles trazem riscos graves à saúde
Foi acertada a decisão da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa)
de conter o abuso dos implantes hormonais manipulados, conhecidos como “chips
da beleza”. Apesar de indicados por profissionais de saúde para tratamentos
específicos, eles passaram a ser usados indiscriminadamente, para fins
estéticos e de desempenho físico. Produzidos em farmácias de manipulação e
inseridos sob a pele, misturam diversos hormônios e substâncias. De acordo com
a Anvisa, além de não haver comprovação de eficácia e segurança para uso
estético, há risco de efeitos adversos graves.
Associações médicas já pediam o enquadramento dos “chips da
beleza”, diante da avalanche de efeitos colaterais vistos com frequência nos
consultórios. Entre os principais riscos estão derrame, arritmia, infarto,
trombose, hipertensão, colesterol, crescimento excessivo de pelos, queda de
cabelo, insônia e agitação. Em carta enviada à Anvisa antes da restrição,
entidades médicas ressaltaram que os implantes hormonais são divulgados
livremente nas redes sociais, muitas vezes por celebridades, sem qualquer evidência
científica.
Apesar de bem-intencionada, a Anvisa exagerou no rigor de
sua primeira decisão, anunciada em outubro, quando proibiu a manipulação,
venda, propaganda e uso de todo e qualquer implante hormonal manipulado. Diante
da ponderação das entidades médicas, em novembro republicou a decisão, abrindo
espaço ao uso médico. Foram liberados os implantes para tratamentos de
reposição hormonal e anticoncepcionais. Continuaram vetados aqueles à base de
esteroides anabolizantes ou hormônios androgênicos com fins estéticos ou para
melhorar o desempenho esportivo. A propaganda permanece proibida em qualquer
caso.
As regras para prescrição e venda se tornaram mais rígidas.
O médico que recomendar o implante terá de inserir na receita o código da
condição clínica tratada. Será obrigatória a assinatura de um Termo de
Responsabilidade por médico, paciente e responsável pela farmácia de
manipulação. Nas regras, de acordo com certas interpretações, a Anvisa tornou
as farmácias de manipulação corresponsáveis “em casos de má prescrição ou uso
inadequado”.
Procedimentos estéticos disseminados nas redes sociais sem
nenhum cuidado podem ser sedutores. À primeira vista, parecem a fórmula ideal
para adquirir corpos atraentes, ganhar massa muscular e melhorar o desempenho.
Mas essa é apenas parte da história. Os riscos são graves — e imprevisíveis.
Superam qualquer benefício que o procedimento poderia proporcionar. Qualquer um
deve ter liberdade para fazer suas escolhas, mas é obrigação do Estado zelar
pela saúde de todos. Isso inclui alertar sobre os riscos. As novas normas da
Anvisa poderão evitar que os desavisados caiam no conto do “chip da beleza”.
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