terça-feira, 31 de dezembro de 2024

ANVISA FAZ BEM AO RESTRINGIR ACESSO DE CONSUMIDORES AOS 'CHIPS DA BELEZA'

Editorial O Globo

Vendidos com a promessa de tornar os compradores mais belos e mais fortes, eles trazem riscos graves à saúde

Foi acertada a decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de conter o abuso dos implantes hormonais manipulados, conhecidos como “chips da beleza”. Apesar de indicados por profissionais de saúde para tratamentos específicos, eles passaram a ser usados indiscriminadamente, para fins estéticos e de desempenho físico. Produzidos em farmácias de manipulação e inseridos sob a pele, misturam diversos hormônios e substâncias. De acordo com a Anvisa, além de não haver comprovação de eficácia e segurança para uso estético, há risco de efeitos adversos graves.

Associações médicas já pediam o enquadramento dos “chips da beleza”, diante da avalanche de efeitos colaterais vistos com frequência nos consultórios. Entre os principais riscos estão derrame, arritmia, infarto, trombose, hipertensão, colesterol, crescimento excessivo de pelos, queda de cabelo, insônia e agitação. Em carta enviada à Anvisa antes da restrição, entidades médicas ressaltaram que os implantes hormonais são divulgados livremente nas redes sociais, muitas vezes por celebridades, sem qualquer evidência científica.

Apesar de bem-intencionada, a Anvisa exagerou no rigor de sua primeira decisão, anunciada em outubro, quando proibiu a manipulação, venda, propaganda e uso de todo e qualquer implante hormonal manipulado. Diante da ponderação das entidades médicas, em novembro republicou a decisão, abrindo espaço ao uso médico. Foram liberados os implantes para tratamentos de reposição hormonal e anticoncepcionais. Continuaram vetados aqueles à base de esteroides anabolizantes ou hormônios androgênicos com fins estéticos ou para melhorar o desempenho esportivo. A propaganda permanece proibida em qualquer caso.

As regras para prescrição e venda se tornaram mais rígidas. O médico que recomendar o implante terá de inserir na receita o código da condição clínica tratada. Será obrigatória a assinatura de um Termo de Responsabilidade por médico, paciente e responsável pela farmácia de manipulação. Nas regras, de acordo com certas interpretações, a Anvisa tornou as farmácias de manipulação corresponsáveis “em casos de má prescrição ou uso inadequado”.

Procedimentos estéticos disseminados nas redes sociais sem nenhum cuidado podem ser sedutores. À primeira vista, parecem a fórmula ideal para adquirir corpos atraentes, ganhar massa muscular e melhorar o desempenho. Mas essa é apenas parte da história. Os riscos são graves — e imprevisíveis. Superam qualquer benefício que o procedimento poderia proporcionar. Qualquer um deve ter liberdade para fazer suas escolhas, mas é obrigação do Estado zelar pela saúde de todos. Isso inclui alertar sobre os riscos. As novas normas da Anvisa poderão evitar que os desavisados caiam no conto do “chip da beleza”.

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