Erro do buscador na cotação do dólar é tratado pelo
governo como conspiração contra o Brasil
No dia 25 de dezembro passado, quem pesquisasse a cotação do
dólar no Google obtinha como resposta o valor de R$ 6,35, nada menos que R$
0,20 acima da cotação real. Tratava-se de algo sem muita relevância, a não ser
para o circo das redes sociais, e o erro foi logo corrigido, mas o governo de
Lula da Silva, empenhadíssimo em demonstrar que a moeda brasileira está sob
ataque especulativo das forças ocultas do mercado, parece inclinado a tomar
esse caso como prova de suas teorias da conspiração – e, de quebra, ainda
pretende fustigar uma das principais Big Techs, empresas que, segundo Lula
disse numa entrevista à TV Record em julho passado, ganham dinheiro
“disseminando inverdades”.
A Advocacia-Geral da União (AGU) decidiu reunir subsídios
para eventual atuação relacionada à informação incorreta e solicitou dados ao
Banco Central (BC). De acordo com reportagem do Estadão/Broadcast, a
intenção seria acionar a plataforma judicialmente.
Muitos fatores levaram à disparada do dólar. Mas nenhum
deles pesou tanto quanto a timidez do pacote fiscal e a falta de empenho do
Executivo em defendê-lo. O Palácio do Planalto, porém, decidiu recorrer à
surrada tática lulopetista de inventar complôs de “inimigos do povo”, em vez de
assumir a responsabilidade pela deterioração cambial, inflação fora da meta e
trajetória de alta da dívida pública. Aos poucos, o governo vai construindo sua
narrativa de vitimização.
Se há uma vítima, há um algoz, e esse algoz tem nome e
sobrenome: “Faria Lima”. Como se fosse uma sociedade secreta que opera nas
sombras para destruir o País, a “Faria Lima” inventada pelos petistas cria e
dissemina desinformação por meio de seus cúmplices nas Big Techs.
O ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom),
Paulo Pimenta, chegou a ir às redes sociais dizer que “a indústria das fake
news está trabalhando mais uma vez contra o Brasil”, por causa de uma
declaração falsamente atribuída a Gabriel Galípolo, futuro presidente do BC, de
que consideraria “artificial” a alta do dólar. Galípolo desestimulou esse
devaneio, mas a indústria petista de distorção da realidade para seus
propósitos políticos é imparável. A investida da AGU parece fazer parte desse
esforço.
O órgão enviou ofícios à Polícia Federal (PF) e à Comissão
de Valores Mobiliários (CVM) nos quais pediu a instauração de “procedimentos
policial e administrativo” a fim de investigar fake news de redes
sociais. Depois disso, voltou a artilharia contra o Google por causa da cotação
do dólar. No despacho em que a Procuradoria-Geral da União registra a
solicitação da AGU, lê-se que o assunto é “defesa do Estado e das instituições
democráticas”. Nada menos.
É bastante improvável que toda essa patranha resulte em
alguma coisa prática, mas sua utilidade já se tornou evidente: ajuda a
alimentar a farsa segundo a qual o País está sob ataque e que, não fosse o
complô dos desalmados operadores do mercado e seus sócios nas Big Techs contra
Lula e o governo do PT, o Brasil estaria voando.
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