Concluímos 2024 com a convicção de que a mancha do
golpismo está sendo removida — não sem o esperneio de seus adeptos e
porta-vozes — por meio do necessário remédio: o devido processo legal
Quando se tenta enxergar além do horizonte deste 2025 que
vem chegando, o que se percebe, a preços de hoje, é que tem tudo para ser um
ano difícil na economia e que as relações entre o Palácio do Planalto e o
Congresso prenunciam manterem-se em níveis pouco amistosos. Arthur Lira deixa a
presidência da Câmara, mas isso não quer dizer que prescindirá da influência
consolidada em dois mandatos à frente da Casa. Isso permite antever que as
matérias relacionadas à estabilização das contas públicas continuarão enfrentando
tramitações difíceis. Nesse jogo de influência, o deputado Hugo Motta —
provável sucessor de Lira — tem dado indicações de que se alinhará àquele que
ainda ocupa a cadeira mais elevada do plenário.
Mas isso faz parte do permanente cabo de guerra travado
entre os poderes da República quando prevalece a democracia. O ser estranho
neste cenário é o golpismo, a excitação de grupos radicais — militares e civis
— que se acreditam virtuosos e únicos capazes de conduzir o Brasil ao paraíso
bíblico que imaginam existir. Para eles, a lei tem sido implacável. E isso
permite dizer que, nesta seara, o país fecha o ano em condições de olhar para
frente com a cabeça erguida.
A corroborar isso, pesquisa de opinião divulgada em 18 de
dezembro mostra que 52% dos brasileiros acreditam que se arquitetou, e foi
levada adiante, uma tentativa de golpe de Estado em 2022. Eventos ocorridos
antes, reforçados por discursos e gestos registrados para a posteridade, e
provas coletadas depois, não dão margem a qualquer dúvida sobre a ruptura
institucional que estava a caminho. Da parte dos personagens envolvidos na
trama, jamais houve dubiedade sobre o que pretendiam.
Ainda que enxerguem violações a uma lei que não lhes serve,
porque não os beneficia nem dá suporte aos seus atos, seus advogados não podem
jamais negar que lhes é cerceada a defesa. Para eles, e para o restante da
sociedade, o Judiciário permanece aberto a melhor argumentação dentro das
balizas legais. Algo que não é possível acreditar que ocorreria caso o país
vivesse uma exceção institucional.
Fechamos 2022 sob a tensão, e os indícios, de que se urdia
um ataque frontal e definitivo à democracia. Encerramos 2023 sob a preocupação
de que esta ameaça não esteja completamente dissipada. Mas concluímos 2024 com
a convicção de que a mancha do golpismo está sendo removida — não sem o
esperneio de seus adeptos e porta-vozes — por meio do necessário remédio: o
devido processo legal.
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