Livro destrincha detalhes da eclosão da Primeira Guerra
Mundial; há paralelos com o mundo de hoje
"Aqueles que não lembram o passado estão condenados a
repeti-lo", escreveu George Santayana. Tenho sérias dúvidas em relação à
validade universal da máxima. No mínimo, "condenados" é um termo
forte demais.
Acompanho, porém, o filósofo na ideia mais geral de que
conhecer o passado é uma coisa positiva. Mesmo que não funcione como vacina
contra erros pretéritos, o conhecimento da história nos ajuda a entender o
presente, o que pode ou não afetar o futuro.
Não acho que estejamos na iminência de
uma guerra
mundial nem que um evento dessa magnitude poderia ser prevenido pela
leitura de livros, mas, mesmo assim, recomendo "Os Sonâmbulos" de
Christopher Clark, uma obra já meio antiga (2012) que destrincha a eclosão
da 1ª
Guerra Mundial.
Há semelhanças entre o contexto geopolítico de hoje e o do
início do século 20 que fazem valer a pena revisitar o passado. Em ambas as
situações tínhamos um mundo relativamente próspero, no qual potências antigas
davam sinais de decadência enquanto as ascendentes se esforçavam para projetar
força e liderança.
Nos dois casos, vivia-se um período de radicalismo retórico,
no qual nacionalismos e
a defesa da soberania davam o tom da política interna de vários países. Ali
mais do que aqui, uma política de alianças entre nações ajudou a manter a
estabilidade global até o dia em que deixou de funcionar assim e começou a
empurrá-las para o conflito.
Clark mostra que a maior parte dos líderes (excluídos alguns
generais prussianos) queria a paz, ainda que não a qualquer preço. Eles também
se empenharam em tomar decisões racionais, equilibrando objetivos internos com
os das alianças. Só que o fato de todos agirem mais ou menos do mesmo modo
levou a erros e armadilhas das quais esses mesmos líderes depois não conseguiam
recuar.
Havia, é claro, desde atores ignorantes e impetuosos até
sumidades intelectuais com amplo conhecimento de história e diplomacia. Não se
notam diferenças importantes de desempenho entre eles, o que nos traz de volta
a Santayana.


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