Artigo de Marina Silva, publicado na Folha de S. Paulo
Li e quero compartilhar o artigo de Sérgio Abranches (em
www.ecopolitica.com.br) que mostra com clareza a ideia de aliança programática,
dando exemplos de como ocorre na Europa e do avanço que pode trazer à política
brasileira.
Uso, assim, um instrumento comum na internet, onde se
desenvolvem novos aplicativos para a democracia. Pelo compartilhamento recebo
contribuições vindas de diferentes lugares e pessoas. Mas gosto da ideia para
além do ambiente virtual, quando acontece na vida em sociedade: compartilhar é
distribuir, colocar à disposição, recomendar. Assim se ampliam as
possibilidades de uma nova política, na qual prospera um ativismo autoral, sem
o controle das estruturas estagnadas de poder.
A democracia controlada pelos partidos, com a participação
popular reduzida ao voto nas eleições, é só o passo inicial de uma longa
evolução. Lutamos para conquistá-la, devemos defendê-la contra qualquer
tentativa de retrocesso. Porém essa defesa não pode ser passiva, estacionária,
tem que se dar num movimento de ampliar e aprofundar.
Podemos superar a ideia de hegemonia, que baseou a formação
dos movimentos políticos modernos. Partidos buscam hegemonia na política,
facções lutam pela hegemonia em cada partido, indivíduos o fazem dentro de cada
facção. Paradoxalmente, a democracia torna-se o ambiente em que todos buscam
reduzir a própria democracia.
A hegemonia se faz na ocupação de espaços, na divisão de
cargos, na coalizão baseada em acúmulo de poder. O atraso político leva tudo
isso ao pântano, ao ponto de degradar até a linguagem das negociações. Tome-se,
por exemplo, a distribuição de ministérios e secretarias "com porteira
fechada", expressão que designa o controle de todos os cargos pela facção
que recebe aquele pedaço do Estado.
Só um realinhamento político ancorado num programa pode
desconstruir as máquinas de hegemonia e controle através do compartilhamento,
da distribuição horizontal do poder e de ideias oriundas de vários centros não
hierarquizados.
É possível ter estabilidade e "fazer as coisas"
com uma política radicalmente democrática? Essa dúvida vem do medo de aceitar o
outro, ouvir sua voz, compreender a necessidade de sua presença. Permanece
entre nós a ideia militarista de divisão, embate, ordem unida. Eis a
bipolaridade: governo contra oposição, aliados contra inimigos. No final das
contas, brasileiros contra brasileiros. Repete-se o "ame-o ou
deixe-o", como se fosse impossível amar e discordar.
Numa agenda pactuada com a sociedade, compartilhando poder e
responsabilidades, podemos criar um campo virtuoso em que a democracia é o
ambiente no qual se gera mais democracia.
Chegaremos lá.
Marina Silva, ex-senadora, foi ministra do Meio Ambiente no
governo Lula e candidata ao Planalto em 2010. Escreve às sextas na versão
impressa da Folha de S. Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário