Da IstoÉ
Por volta das 6h da manhã da quarta-feira 15, a Polícia
Federal bateu à porta da casa de João Vaccari Neto em Moema, zona sul de São
Paulo. O petista se preparava para sua caminhada matinal e não ofereceu
resistência. Em tom sereno, pediu aos agentes alguns minutos para trocar o
moletom e o tênis. Vestiu uma calça jeans, camisa social xadrez e sapatos. Numa
pequena valise, que foi revistada, colocou peças de roupa íntima e material de
higiene pessoal. Poucas horas depois, Vaccari foi conduzido à carceragem da PF
em Curitiba, ponto de encontro dos réus do Petrolão. A prisão do até então dono
do cofre do PT, seguida da revelação dos agentes da Lava Jato de que ele
desviava recursos para a legenda havia 10 anos, compromete o partido e aproxima
a presidente Dilma Rousseff do escândalo. A força-tarefa já tem fortes indícios
de que as campanhas da petista em 2010 e 2014 foram abastecidas com dinheiro
ilegal, desviado de contratos da Petrobras. Além das doações oficiais, o MPF
descobriu que uma gráfica ligada ao PT foi usada para receber propina do
esquema. Registrada em nome do Sindicato dos Bancários de São Paulo e do
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a Editora Gráfica Atitude fez campanha
irregular para Dilma em 2010 – sendo inclusive multada pelo TSE – e, no ano
passado, publicou uma série de capas de apoio à reeleição da petista.
A pista da gráfica surgiu em depoimento complementar do
delator Augusto Mendonça, executivo da Setal Óleo e Gás, em 31 de março. Mendonça
contou que Vaccari lhe pediu que contribuísse com pagamentos à Editora, em vez
de proceder as habituais doações ao PT. A justificativa oficial seria a
publicação de propaganda na Revista do Brasil. Não há, porém, registro de que
tais anúncios foram publicados e nem havia interesse comercial da Setal em
fazê-lo. Segundo o delator, Vaccari, entre 2010 e 2013, o procurou em três
oportunidades para realizar os depósitos totalizando R$ 2,5 milhões. “Os
pagamentos foram efetuados de forma parcelada, mês a mês, neste período”,
disse. Para tentar conferir ares de legalidade aos repasses, todos
superfaturados, foram celebrados contratos de prestação de serviços, mesmo
expediente usado nos desvios das grandes obras da Petrobras. A quebra de sigilo
bancário da Atitude revelou 14 pagamentos de R$ 93.850,00 no período indicado,
num total de R$ 1,5 milhão.
Um dos dirigentes sindicais que administraram a gráfica
suspeita é José Lopes Feijó, nomeado assessor especial da Secretaria Geral da
Presidência. Feijó foi indicado na gestão de Gilberto Carvalho e permaneceu lá
com Miguel Rossetto. Ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e
dirigente da CUT, seu nome chegou a ser sondado para o Ministério do Trabalho.
Além dele, também passou pelo comando da Gráfica Atitude o petista Luiz Claudio
Marcolino. O sindicalista e ex-deputado estadual concorreu a deputado federal
no ano passado, arrecadando R$ 2,5 milhões, dos quais R$ 580 mil oriundos de
empresas encrencadas na Lava-Jato.
A Revista do Brasil é um órgão com viés partidário e sem
distribuição oficial. Sua tiragem tampouco é auditada pelo mercado, sendo
impossível verificar se os anúncios foram publicados e na quantidade negociada.
Ela foi condenada por propaganda eleitoral irregular em abril de 2012. O TSE considerou
que a publicação de outubro de 2010 enalteceu a candidatura de Dilma “em
manchetes, textos e editoriais, como se a candidata fosse a mais apta a ocupar
o cargo público pretendido”. A ministra relatora Nancy Andrighi acusou a
revista de fazer propaganda negativa de José Serra, então candidato do PSDB à
Presidência.
Para os investigadores, será necessário, agora, comprovar a
veiculação dos anúncios públicos e privados na Revista do Brasil. O MPF também
pedirá ao juiz Sérgio Moro a extensão da quebra do sigilo bancário, fiscal e
telefônico dos sindicatos que controlam a Gráfica Atitude e de seus dirigentes.
Em 2005, a CPI dos Correios descobriu caso semelhante, sugerindo que esta é uma
velha maneira de operar do PT. A DNA Propaganda, de Marcos Valério, realizou
depósitos na conta da Gráfica FG, ligada a uma associação sindical beneficente.
A justificativa da agência para repasse foi a impressão de 1,5 milhão de
folhetos informativos do Banco do Brasil. Assim como a Atitude, a Gráfica FG
era dirigida por um sindicalista, Tsukassa Isawa, do Sindicato dos Metalúrgicos
do ABC. Para o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, integrante da
força-tarefa da Lava Jato, o caso da Atitude reforça a suspeita de uso de
agências de publicidade para o pagamento de propina. “Isso se liga naturalmente
às investigações da área de comunicação. Vamos verificar se há link com outros
casos já divulgados”, disse. Lima se referia à recente prisão do ex-deputado
federal e ex-secretário de Comunicação do PT André Vargas, acusado de receber
propina pela intermediação de contratos da agência Borghi Lowe com órgãos
públicos, como o Ministério da Saúde.
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