Da Veja
Em uma reunião ocorrida dias depois da prisão dos executivos
das maiores empreiteiras do país, o dono de uma delas, seus dois filhos, o
diretor jurídico da empresa e dois ministros aposentados do Supremo Tribunal de
Justiça discutiam o que fazer. Um dos presos, dono de segredos estarrecedores,
ameaçava contar o que sabia. “Se isso acontecer, vai o Lula, vai a Dilma, vai
todo mundo”, disse o empreiteiro, que, muito nervoso, alternava crises de choro
com rememorações de feitos da empresa e suas relações com políticos
importantes. “O Sigmaringa vai falar agora com a Dilma (a presidente). Vai avisar
que ele (o diretor preso que ameaçava contar tudo) é o homem da vez.”
Sigmaringa é o advogado Sigmaringa Seixas, amigo e defensor do ex-presidente
Lula. O diretor em questão era, simplesmente, o homem encarregado de distribuir
propina aos políticos. Entre os vários endereços que visitou, o mais conhecido
foi o Instituto Lula. A reunião durou mais de quatro horas e as linhas gerais
da estratégia de defesa foram desenhadas. Em resumo, todos deveriam trabalhar
para desmantelar a Operação Lava-Jato.
Nos últimos dias, a impressão que se tinha era que, se não desmantelada,
a Lava-Jato estava seriamente comprometida. Há duas semanas, o foco do noticiário
político transferiu-se para Brasília, onde, em plena luz do dia, poderosos alcançados
de alguma forma pela Operação Lava-Jato combinavam de maneiras de esquecerem
suas diferenças e, juntos, tentarem restabelecer o clima de impunidade. Sacrificariam
suas convicções, suas bandeiras políticas em busca da salvação coletiva. A Lava-Jato
parecia coisa do passado. Ledo engano. A esperança de um Brasil mais justo para
todos trazida pela operação comandada pelo juiz Sergio Moro, da 13ª Vara da
Justiça Federal, em Curitiba, continua de pé, mesmo longe das manchetes. Abaixo
da linha d’água do noticiário, a Justiça continua fazendo seu trabalho. A
Justiça tem seus ritos e tempos próprios. Mais dia, menos dia, ela emerge das águas
profundas e desfaz os acordos espúrios tramados na superfície.
O ex-presidente Lula se reuniu no fim de junho com os
líderes do PT e do PMDB, em Brasília. O encontro ocorreu na casa de Renan
Calheiros, presidente do Senado. Acossado pelo petrolão, o maior escândalo de
corrupção da história do Brasil, Lula saiu-se com a tática que sempre adotou,
com sucesso, nesses casos: arrastar mais gente para o seu lado, na tentativa de
tornar o grupo maior do que a boca do abismo que o ameaça. Lula disse aos
presentes que toda a primorosa investigação da Polícia Federal secundada pelo
trabalho implacável dos procuradores federais e de juízes de diversas
instâncias não passa de uma "campanha para desmoralizar a classe
política". Lula chamou de arbitrários o juiz Sergio Moro e os demais
responsáveis pela Operação Lava-Jato. "O país foi sequestrado pelo Moro.
Temos de reagir no Supremo Tribunal Federal", concordou José Sarney, o
ex-presidente cuja filha, Roseana, é investigada no caso. Obviamente o
objetivo da reunião na casa de Renan não foi arrancar o país das garras do
arbítrio e devolvê-lo à normalidade democrática. O objetivo foi encontrar um
jeito de restaurar a velha ordem da impunidade para os poderosos da República
que a Lava-Jato ameaça contrariar pela primeira vez em nossa história.
Em comum, muitos dos participantes da reunião tinham, além
do fervor republicano, o fato de estarem na boca dos delatores da Lava-Jato
como beneficiários do dinheiro desviado da Petrobras. Até mesmo Delcídio
Amaral, líder do governo no Senado, que participou da reunião, acabou enlaçado
no escândalo. Lula, Renan e Delcídio foram listados como beneficiários do
petrolão pelo lobista Fernando Soares, o Fernando "Baiano". Em sua
delação premiada ao Ministério Público, Baiano declarou ter pago a José Carlos
Bumlai, compadre de Lula, 2 milhões de reais em propina, cujo destinatário
final seria uma nora do ex-presidente. Comparsa de petistas e peemedebistas,
Baiano narrou minuciosamente como intermediou propina para as lideranças dos
dois partidos. Tudo custeado pelos cofres da Petrobras. Tudo registrado em um
documento de dezesseis páginas obtido por VEJA, no qual o delator, condenado a
dezesseis anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro,
relata em detalhes sua atuação a serviço do PT e aliados no assalto à
Petrobras.
Leia a reportagem na íntegra de Daniel Pereira e Robson
Bonin, na edição de Veja desta semana que já está nas bancas.
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