Três investigados pela Operação Alba Branca ligam o
presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Fernando Capez (PSDB), e o
ex-chefe de gabinete da Casa Civil do governo Geraldo Alckmin (PSDB) Luiz
Roberto dos Santos, conhecido como "Moita", ao suposto esquema de
fraudes na compra de produtos agrícolas destinados à merenda escolar da rede
estadual de ensino paulista.
Em depoimento à Polícia Civil, na terça-feira, os
funcionários da Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf) afirmaram que a
propina chegava a ser de 25% dos contratos. Eles relataram como eram feitos as
entregas de pacotes de dinheiro, depósitos em contas e acertos em postos de
combustível às margens de rodovias.
Os interrogados pela polícia apontam o deputado estadual
Fernando Capez, que é promotor de Justiça e aspira disputar a cadeira de
Alckmin em 2018, e Luiz Roberto dos Santos, o "Moita", que era braço
direito do secretário-chefe da Casa Civil, Edson Aparecido, como beneficiários
de propina. Interceptações telefônicas mostram que o deputado tucano é chamado
de "nosso amigo" pelos intermediários de propinas.
O funcionário da Coaf Adriano Gilbertoni Mauro, que foi
preso na operação, afirmou que Capez foi o responsável por conseguir a
celebração de contrato com a Secretaria de Educação estadual. "Até onde o
declarante sabia, o deputado estadual Fernando Capez recebeu uma parte das
comissões pagas para Marcel", disse, em referência ao suposto
intermediador de propinas Marcel Ferreira Júlio.
Segundo Mauro, "nas conversas que mantinha com os
demais vendedores, ao se referir ao termo 'nosso amigo' como sendo a pessoa que
solucionaria os entraves surgidos, estavam a se referir ao deputado estadual
Fernando Capez".
Contrato
A operação foi deflagrada na terça-feira pela Polícia Civil
e pelo Ministério Público de Bebedouro, na região de Ribeirão Preto (SP). Sete
investigados ligados à cooperativa tiveram prisão decretada pela Justiça - seis
foram detidos e um está foragido.
Ao menos 22 prefeituras são investigadas por suspeita de
envolvimento com a fraude, que compreendia compra de itens superfaturados para
merenda escolar.
Apesar de envolver contratos em prefeituras, o principal
interesse financeiro da Coaf eram os milionários pagamentos feitos pela
Secretaria de Educação estadual.
Vice-presidente da Coaf, Carlos Alberto Santana da Silva,
conhecido como Cal, declarou que houve propina de R$ 1,94 milhão em um contrato
do governo paulista do ano passado. "Ocorreu este tipo de esquema com o
governo de Estado em 2015, numa venda de R$ 7,76 milhões, sendo que acredita
que também neste caso a propina girou em torno de 25%."
Segundo Santana, nessas vendas era estipulado "o
pagamento de 'comissão'". "Quer dizer, propina mesmo, que variava em
torno de 25% do valor do contrato." O dinheiro da corrupção seria pago por
meio de intermediários, "que ligavam a Coaf a um funcionário público
responsável pelo contrato".
O vice-presidente da Coaf declarou que "pode dizer que
parte destes valores era repassada para o deputado Fernando Capez, para o qual
não sabe dizer quanto era repassado".
O parlamentar receberia valores ilícitos por meio de assessores,
identificados pelos investigados como "Licá" e "Jeter".
Jeter Rodrigues Pereira, que era do Departamento de Comissões da Assembleia,
foi demitido em dezembro, segundo informou Capez. Licá - Luiz Carlos Gutierrez
- é assessor do tucano. "O Licá é meu amigo, é meu assessor e duvido que
esteja envolvido em esquema de fraude de merenda", disse o tucano.
Intermediador
Outro nome importante do esquema é Marcel. Apontado como
filho do ex-deputado Leonel Júlio, Marcel Ferreira Júlio atuaria como operador
de propina. Nos depoimentos, os funcionários e o dirigente da Coaf disseram que
Marcel ficava com 10% de comissões nos contratos. Seu pai teria cota de 2%
dessa comissão.
Defesas
Fernando Capez negou veementemente envolvimento no esquema
de fraude em merenda escolar de prefeituras do interior paulista investigado
pela Operação Alba Branca.
"Nunca ouvi falar, não sei quem é dono dessa Coaf.
Nunca falei com nenhum prefeito sobre merenda escolar. Bebedouro? Quem é o
prefeito? Nunca falei com prefeito nenhum, nunca, ainda mais nessa
região", disse Capez.
Segundo o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo,
Jeter Rodrigues Pereira, que era funcionário do Departamento de Comissões da
Casa, foi demitido por ter tentado usar o nome de Capez para indicar um
delegado a pedido do ex-deputado Leonel Júlio. Sobre Luiz Carlos Gutierrez
(Licá), diz que o assessor é seu amigo e que duvida, "até prova em
contrário, que esteja envolvido em esquema de fraude de merenda escolar".
"Tenho certeza que usaram o meu nome e o nome do
Licá", afirma Capez.
A Secretaria da Educação informou que Marcel Ferreira Júlio,
suposto intermediário de propinas do esquema desmontado na operação não é
funcionário da pasta. "A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo vai
colaborar com a Polícia Civil e o Ministério Público no que for necessário para
dar sequencia às investigações. A pasta segue a legislação do Programa Nacional
de Alimentação Escolar - PNAE - criado pelo governo federal que institui a
inserção, na alimentação escolar, de 30% de alimentos cultivados e produzidos
por meio da agricultura familiar".
O secretário da Casa Civil, Edson Aparecido, disse que já
levou o caso à Corregedoria do Estado. "Vamos tomar pé da situação. Desde
o início da semana, por conta de a gente devolver os funcionários da Casa Civil
para as empresas, ele (Luiz Roberto dos Santos) não é mais chefe de gabinete da
Casa Civil. Estamos sabendo disso agora. Estou pedindo imediatamente por parte
da Corregedoria do Estado a abertura de um processo de apuração desses
fatos". As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".
Via UOL
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