Da VEJA
Em menos de quinze dias, a presidente da República sofreu um
processo de impeachment, o parlamentar mais poderoso do Congresso teve o
mandato cassado e o líder mais popular da história política recente começou a
enfrentar o período mais dramático de sua carreira. Como aparece na capa desta
edição de VEJA, em imagem inspirada em capa publicada pela revista Newsweek em
outubro de 2011, o mito Lula pode estar começando a derreter.
Na semana passada, os procuradores da força-tarefa da
Lava-Jato formalizaram denúncia de corrupção passiva e lavagem de dinheiro
contra o ex-presidente. A isso se resume a denúncia, mas ela veio embalada numa
retórica segundo a qual Lula era o “comandante máximo” da organização
criminosa, o chefe da quadrilha que assaltou os cofres da Petrobras, o general
que usava propinas para subornar parlamentares e comprar partidos, o fundador
da “propinocracia”, o homem que aceitava dinheiro e pequenos luxos em troca de
favores. Nisso tudo, a retórica tomou o lugar das provas.
No pedaço substantivo da denúncia, os investigadores acusam
o ex-presidente de receber vantagens indevidas de ao menos três contratos
bilionários assinados entre a construtora OAS e a Petrobras. As propinas
geradas por esses negócios somaram 87,6 milhões de reais. Desse total, 3,7
milhões de reais foram direcionados a Lula, “oriundos do caixa geral de
propinas da OAS com o PT”. Para lavar esse dinheiro sujo, segundo os
procuradores, a empreiteira bancou a reforma de um tríplex da família Lula da
Silva, no Guarujá, no litoral paulista.
O ex-presidente se defende dizendo que o imóvel nunca foi
dele, apesar de sua mulher, Marisa Letícia, também denunciada, ter escolhido os
móveis, os pisos, as torneiras, os armários e a cor das paredes. Essa, talvez,
se transforme em breve na prova mais forte de suborno contra Lula. Há duas
semanas, VEJA mostrou o conteúdo da proposta de delação premiada de Léo
Pinheiro, ex-presidente da OAS. Nela, o empreiteiro confirma que o tríplex
pertence ao ex-presidente e foi pago com dinheiro da Petrobras.
Na denúncia de 149 páginas, os procuradores apontam uma
segunda evidência de corrupção do ex-presidente. Antes de deixar o Planalto, em
2010, Paulo Okamotto, amigo de Lula, pediu à empreiteira OAS que financiasse o
transporte e o armazenamento dos objetos pessoais do ex-presidente. Para
atender Lula, a empreiteira gastou 1,3 milhão de reais. Okamotto, que mais
tarde passou a presidir o Instituto Lula e também foi denunciado pelos
procuradores, confirma que pediu ajuda para pagar o aluguel de contêineres com
o acervo do ex-presidente, mas não vê crime no seu pedido. “A OAS, para mim,
deveria inclusive reivindicar a Lei Rouanet, porque está fazendo um pagamento
para manter um bem cultural do povo brasileiro”, disse Okamotto.
As vantagens indevidas embolsadas por Lula extrapolam 3,7
milhões de reais, segundo estimativas dos investigadores. Entre 2011 e 2014, o
Instituto Lula e a L.I.L.S. Palestras, Eventos e Publicações, empresa de
palestras do ex-presidente, receberam mais de 55 milhões de reais, sendo mais
de 30 milhões de reais de empreiteiras envolvidas no petrolão. Desse valor,
mais de 7,5 milhões de reais foram transferidos para o ex-presidente, cujo
patrimônio saltou de 1,9 milhão de reais, em 2010, para 8,8 milhões de reais,
em 2015. Isso, no entanto, não consta da denúncia sob a forma de acusação, pois
ainda está sob investigação.
Leia a reportagem na íntegra, na edição desta semana de VEJA
que já está nas bancas.
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