Há exatos três anos, o líder sul-africano Nelson Mandela,
95, morreu. Mandela faleceu em sua
residência, em Johannesburgo, onde havia sido levado no dia 1º de setembro após
passar quase três meses internado para tratamento de uma infecção pulmonar.
De acordo com o comunicado oficial divulgado no dia da
transferência, Mandela continuava apresentando complicações pulmonares. "O
estado de saúde de Mandela continua crítico e, às vezes, instável. No entanto,
sua equipe médica está convencida de que
ele receberá o mesmo nível de cuidados intensivos em sua casa", dizia o
texto.
Segundo o jornal local "The Sunday Times", uma
pessoa próxima à família afirmou que Mandela teria "parado de falar"
no dia seguinte à hospitalização.
O ex-presidente tinha 95 anos e vivia em Johannesburgo com a
mulher Graça Machel, viúva de Samora Machel (1933-1986), ex-presidente
moçambicano.
Mandela foi o maior símbolo de combate ao regime de
segregação racial conhecido como apartheid, que foi oficializado em 1948 na
África do Sul e negava aos negros (maioria da população), mestiços e asiáticos
(uma expressiva colônia de imigrantes) direitos políticos, sociais e
econômicos.
A luta contra a discriminação no país o levou a ficar 27
anos preso, acusado de traição, sabotagem e conspiração contra o governo em
1963. Condenado à prisão perpétua, Mandela foi libertado em 11 de fevereiro de
1990, aos 72 anos. Durante sua saída, o líder foi ovacionado por uma multidão
que o aguardava do lado de fora do presídio.
Em 1993, Nelson Mandela recebeu o prêmio Nobel da Paz por
sua luta contra o regime do apartheid. Na ocasião, ele dividiu o prêmio com
Frederik de Klerk, ex-presidente da África do Sul que iniciou o término do
regime segregacionista e o libertou da prisão.
Um ano depois, em 1994, Mandela foi eleito presidente da
África do Sul, após a convocação das primeiras eleições democráticas
multirraciais no país. Sua vitória pôs fim a três séculos e meio de dominação
da minoria branca na nação africana.
Ao tomar posse, o líder negro adotou um tom de reconciliação
e superação das diferenças. Um exemplo disso foi a realização da Copa Mundial
de Rúgbi, em 1995, no país. O esporte era uma herança do período colonial e,
por isso, boicotado pelos negros, por representar o governo dos brancos.
Nos dois anos seguintes, a Constituição definitiva e o
processo de transição foram concluídos. Entre os anos de 1996 e 1998, o
arcebispo Desmond Tutu liderou a Comissão de Verdade e Reconciliação para
apurar crimes cometidos durante o apartheid, e foram abertos processos
judiciais para pagamentos de indenizações às vítimas do regime.
Mandela deixou a presidência em 1999 e passou a se dedicar a
campanhas para diminuir os casos de Aids na África do Sul, emprestando seu
prestígio para arrecadar fundos para o combate à doença.
Em 2004, aos 85 anos, ele anunciou que se retiraria da vida
pública para passar mais tempo com a família e os amigos. Já aos 92 anos, o
líder sul-africano dificilmente participava de qualquer tipo de evento, devido
à saúde frágil.
Durante a Copa do Mundo de 2010, realizada na África do Sul,
Mandela compareceu apenas ao encerramento da Copa, devido à morte de sua
bisneta Zenani Mandela, em um acidente de carro logo depois da festa de
abertura.
História
Mandela era filho do conselheiro do chefe máximo do vilarejo
de Qunu, localizado na atual província do Cabo Oriental, onde nasceu, a 18 de
julho de 1918. Aos sete anos, tornou-se o primeiro membro da família a
frequentar a escola, onde lhe foi dado o nome inglês "Nelson". Aos 16
anos, seguiu para o Instituto Clarkebury, na mesma província, onde teve contato
com a cultura ocidental pela primeira vez.
Ele então ingressou na faculdade de Direito da Universidade
de Fort Hare, no município de Alice. Logo no primeiro ano de curso, Mandela se
envolveu com o movimento estudantil e com o boicote às políticas
universitárias. Tal atitude resultou em sua expulsão da instituição no segundo
ano, mas ali ele iniciou sua militância.
A partir de então mudou-se para Johannesburgo e envolveu-se
na oposição ao regime do apartheid. Ele começou a fazer parte do partido negro
CNA (Congresso Nacional Africano, fundado em 1912) em 1942 e, em 1944, criou a
Liga Juvenil do partido, com o manifesto "um homem, um voto".
Depois da eleição de 1948, que deu vitória aos afrikaners do
Partido Nacional, apoiadores da política de segregação racial, Mandela
tornou-se mais ativo no CNA. Ele participou do Congresso do Povo, em 1955, que
divulgou a Carta da Liberdade --documento que continha um programa fundamental
para a causa antiapartheid.
Comprometido de início apenas com atos não-violentos,
Mandela e seus colegas aceitaram recorrer às armas após o massacre de
Sharpeville, ocorrido em março de 1960, quando a polícia sul-africana atirou em
manifestantes negros, matando 69 pessoas e ferindo 180. Em 1961, fundou a ala
armada do CNA - Umkhonto we Sizwe (a Lança da Nação) - para combater a
discriminação do apartheid.
Prisão
Acusado de crimes capitais no julgamento de Rivonia, em
1963, a declaração que deu, no banco dos réus, foi sua afirmação de posição
política: "Tenho defendido o ideal de uma sociedade democrática e livre,
na qual todas as pessoas convivam em harmonia e com oportunidades iguais. É um
ideal pelo qual espero viver e que espero alcançar. Mas, se for preciso, é um
ideal pelo qual estou preparado para morrer". Em 1964, Mandela foi
condenado à prisão perpétua.
No decorrer do tempo em que ficou preso, Mandela se tornou
de tal modo associado à oposição ao apartheid que o clamor "Libertem
Nelson Mandela" se tornou o lema das campanhas antiapartheid em vários
países.
Durante os anos 1970, ele recusou uma revisão da pena e, em
1985, não aceitou a liberdade condicional em troca de não incentivar a luta
armada. Mandela continuou na prisão até fevereiro de 1990, quando foi libertado
em 11 de fevereiro, aos 72 anos, pelo presidente Frederik Willem de Klerk, que
também revogou a proibição do CNA e de outros movimentos de libertação.
Nelson Rolihlahla Mandela deixou a prisão Victor Verster
caminhando ao lado de Winie Madikizela, sua esposa na época. Ele havia passado
os últimos 27 anos de sua vida atrás das grades por ousar se opor ao regime
racista que dominava a África do Sul. Um mar de pessoas o aguardava nas ruas
para dar início finalmente à edificação da democracia sul-africana.
Como presidente do CNA (de julho de 1991 a dezembro de 1997)
e primeiro presidente negro da África do Sul (de maio de 1994 a junho de 1999),
Mandela comandou a transição do regime racista, o apartheid, ganhando respeito
internacional.
Em 1999, Mandela conseguiu eleger seu sucessor, Thabo Mbeki,
que posteriormente foi obrigado a deixar a presidência, devido a uma manobra
política do seu maior rival dentro do CNA, Jacob Zuma.
Casamentos, separações e aposentadoria
Mandela casou-se três vezes. Sua primeira esposa foi Evelyn
Ntoko Mase, de quem se divorciou em 1957, após 13 anos de casamento. Em
seguida, casou-se com Winie Madikizela, e com ela ficou por 38 anos. O casal se
divorciou em 1996, após suas divergências políticas virem a público. No seu 80º
aniversário, Mandela casou-se com Graça Machel, com quem esteve até os dias
atuais.
Depois de deixar a presidência, Mandela passou a dedicar
suas forças ao combate à Aids na África do Sul, levantando milhões de dólares
para enfrentar a epidemia da doença. Seu único filho morreu vítima de Aids em
2005.
Ainda fora da Presidência, Mandela ganhou uma série de
títulos e homenagens, como a Ordem de St. John, da rainha da Inglaterra,
Elizabeth 2ª.; a medalha presidencial da Liberdade, do então presidente dos
Estados Unidos George W. Bush; o Bharat Ratna (a distinção mais alta da Índia);
a Ordem do Canadá, dentre outros.
Apesar de ter ganho a condecoração de Bush, Mandela realizou
uma série de pronunciamentos, em 2003, em que atacava a política externa do
presidente americano.
Em junho de 2004, Mandela anunciou que se retiraria da vida
pública. Mas a militância continuou. Em 2007, comemorou o 89° aniversário
criando um grupo internacional de estadistas idosos e altamente respeitados,
incluindo seus colegas Prêmios Nobel da Paz Desmond Tutu e o ex-presidente
americano Jimmy Carter, para combater problemas mundiais, que incluem as
mudanças climáticas, o combate à Aids e à pobreza.
A comemoração de seu aniversário de 90 anos foi um ato
público com shows, que ocorreu em Londres, em julho de 2008, e contou com a
presença de artistas e celebridades engajadas nessas lutas.
Em 2009, com aparência frágil, o ex-presidente sul-africano
compareceu a um comício eleitoral do CNA para ajudar a eleger Jacob Zuma, atual
presidente do país.
Com informações do UOL
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