Do UOL
Mensagens de celular indicam que o presidente nacional do
PSC, Pastor Everaldo, teria pedido dinheiro para seu partido ao ex-deputado
federal Eduardo Cunha (PMDB), aponta a Polícia Federal.
Em uma dessas mensagens, realizadas no ano de 2012, quando
houve eleições municipais, Pastor Everaldo chega a afirmar a Cunha que estava
em "desespero total" para receber os recursos.
A informação consta nos documentos da investigação sobre o
suposto esquema de liberação de recursos da Caixa Econômica Federal para as
companhias --dos ramos de frigoríficos, de concessionárias de administração de
rodovias e de empreendimentos imobiliários-- por meio de direcionamento
político, com participação de Cunha e do ex-ministro Geddel Vieira Lima, que
ocorreriam em troca de pagamento de vantagens ilícitas.
Na noite de 17 de agosto de 2012, Geddel, então
vice-presidente de pessoa jurídica da Caixa, enviou a seguinte mensagem ao
celular de Cunha: "Caso da Dinâmica de Everaldo resolvido".
De acordo com a Polícia Federal, "ao que tudo indica,
essa empresa seria a Dinâmica Segurança Patrimonial, cujo sócio-administrador é
Edson da Silva Torre que, conforme mensagens de Eduardo Cunha, é um sócio do
Pastor Everaldo".
PSC "perturbava" Cunha e Geddel
Ainda de acordo com a PF, "embora não haja outras
mensagens que confirmem se tratar diretamente desse caso da 'Dinâmica', chamou
atenção outros diálogos envolvendo o Partido Social Cristão, já que em outra
conversa, do dia 11/09/2012, Eduardo Cunha o questiona [sobre repasses ao PSC]
pois, 'tão me perturbando', no que Geddel também informa que estariam
perturbando ele também".
Em seu pedido de busca e apreensão da Operação "Cui
Bono" à 10ª Vara Federal de Brasília, o procurador da República Anselmo
Henrique Cordeiro Lopes afirma que "tendo em vista o modo de operar da
dupla Geddel e Eduardo Cunha, espera-se aprofundar sobre esse assunto da
Dinâmica e os repasses de valores ao Partido Social Cristão".
Em mensagens trocadas por celular, Eduardo Cunha diz a
Geddel que é melhor "soltar algo eu solto sexta para aliviar tão apertados
(sic)", referindo-se ao PSC, de acordo com a PF.
Em outro trecho, Cunha usa a expressão "programado
originar". A PF afirma que "existe a hipótese de que o 'programado
originar' sejam doações legais e que, portanto, existem recursos que não se
enquadrariam nessa classificação".
Geddel cita em conversa Cunha a um número "150",
que, a PF suspeita, seriam recursos destinados ao PSC na Bahia.
No mesmo dia -- 11 de setembro de 2012 -- em que Geddel fez
esta referência, Cunha e Pastor Everaldo trocaram mensagens de celular, afirma
a PF.
"Na conversa, Pastor Everaldo justifica a necessidade
de repasse ao dizer que 'estava muito com mal seu pessoal' e acrescenta, ainda,
que não é apenas o diretório do partido na Bahia que necessita de recursos, mas
também o PSC do Estado de São Paulo", lê-se no documento da Polícia
Federal.
Cerca de 15 minutos depois, ainda de acordo com a PF, Cunha
confirma ao Pastor Everaldo "que também estaria certo para São Paulo na
sexta-feira, no que o Pastor Everaldo pede alguma coisa para o dia seguinte em
São Paulo".
Nesta conversa, Pastor Everaldo afirma estar em
"desespero total", referindo-se à necessidade dos repasses.
No pedido de busca e apreensão, o Ministério Público aponta
que Geddel agia "internamente, em prévio e harmônico ajuste com Eduardo
Cunha e outros, para beneficiar empresas com liberações de créditos dentro de
sua área de alçada e fornecia informações privilegiadas para outros membros do
grupo criminoso".
Outro Lado
A assessoria do Pastor Everaldo primeiramente afirmou que
ele não se pronunciaria, pois não teve acesso aos documentos da investigação
que o citam.
Depois, disse que o PSC e PMDB coligaram-se em Salvador e
São Paulo nas eleições municipais de 2012, então a mensagem do dia 11 de
setembro de 2012 seria o Pastor Everaldo solicitando "ao ex-deputado
Eduardo Cunha, do PMDB, um dos responsáveis pela captação de recursos da
campanha, repasses ao PSC", diz nota. "O repasse foi usado para
cobrir custos dos candidatos a vereador do PSC, que faziam parte da coligação,
nas duas cidades", afirma o texto.
"No dia 21 de setembro, dez dias após o pedido de
recursos, o Diretório Nacional do PMDB fez uma doação de R$ 150 mil reais na
conta do Diretório Nacional do PSC. A doação integra a prestação de contas do
PSC junto ao TSE", continua a nota.
O partido afirma ainda que "todas as doações feitas ao
PSC obedecem à legislação eleitoral vigente e são devidamente informadas à
Justiça Eleitoral por meio das prestações de contas."
Por meio de nota, um dos advogados de Cunha, Pedro Ivo
Velloso, informou que a defesa do ex-deputado "não teve acesso até o
momento à investigação, mas, desde já, rechaça veementemente as suspeitas
divulgadas".
A reportagem tentou falar com Geddel Vieira Lima por
telefone ao longo de toda a tarde desta sexta-feira, mas as ligações feitas
para o seu telefone pessoal não foram atendidas.
A Caixa, por sua vez, disse, em nota, que o "banco está
em contato permanente com as autoridades, prestando irrestrita colaboração com
as investigações, procedimento que continuará sendo adotado".
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