sexta-feira, 19 de maio de 2017

O BNDES NÃO É A PETROBRAS AMANHÃ

Helena Chagas, Os Divergentes
Em tese, a JBS e outras ex-campeãs nacionais estão para o BNDES da mesma maneira que a Odebrecht e outras empreiteiras estão para a Petrobras. Assim como a Operação Bullish, deflagrada para apurar irregularidades em operações do banco de fomento que teriam beneficiado a empresa, tem potencial para se espraiar e se tornar uma nova Lava Jato.
É o que dizem dez entre dez observadores da cena político-policial, que estavam prevendo isso há tempos, só esperando o momento em que o BNDES iria entrar na roda, com todos os ingredientes explosivos da corrupção e os estragos possíveis e imagináveis.
Só que não. Os primeiros passos da investigação, o comportamento de investigadores e investigados, e o próprio ambiente que vai se criando no país desaconselham previsões de que a história vai se repetir.
Tudo indica que o BNDES não será a Petrobras amanhã, e que a distância que separa as duas empresas nesse caso será bem maior do que os poucos metros que se percorrem na Avenida Chile, no Centro do Rio, para ir de uma a outra.
Advogados que acompanham a Lava Jato apontam diferenças entre o tratamento dado pela força tarefa de Curitiba aos acusados do Petrolão e a condução do juiz federal Ricardo Leite, de Brasília, na Bullish.
Leite, por exemplo, autorizou a operação da PF mas negou o pedido de prisão dos sócios do grupo J&F, Joesley e Wesley Batista. Também não mandou prender ex-dirigentes do Banco, que irão prestar depoimento e dificilmente sairão presos dele.
Os dois irmãos, aliás, teriam começado a articular a delação premiada de um deles antes da própria Bullish, no rastro de outras denúncias que os fizeram sentir que seriam a bola da vez.
De modo geral, está havendo menos pirotecnia e mais sobriedade no comando da investigação que tem como alvo o BNDES. Não se pode dizer que isso seja sinal de que as denúncias e suspeitas de irregularidades que pesam sobre o banco de fomento não tenham nem o grau, nem as cifras, nem a gravidade dos desvios encontrados na Petrobras. Isso, só as investigações podem dizer.
Também não parece ser só uma questão de estilo.
O que talvez tenha mudado, mesmo, é a percepção da sociedade em relação a investigações de grandes escândalos, transmitidas em tempo real, chocando o país e o levando à saturação por meses e até anos a fio.
O distinto público parece estar cansado, e a polarização política que acompanha a Lava Jato e seus exageros começa a arranhar a imagem até de investigadores. Ainda é certo que todo juiz brasileiro sonha em ter seu dia de Sérgio Moro, mas não necessariamente os confrontos nos quais o juiz de Curitiba está hoje envolvido.
A Polícia Federal e o Ministério Público também saíram machucados de seus embates.
Ao mesmo tempo, em meio à crise recessiva que teima em não ir embora, estaria começando a haver mais cuidado com efeitos colaterais, como o desmantelamento e a perda de valor e de empregos das empresas investigadas.
A Lava Jato varreu a Petrobras como um tsunami e afetou profundamente o mercado de óleo e gás e de construção do país.
As empreiteiras acusadas estão fazendo seus acordos de leniência para, acima de tudo, sobreviver - e quem chegar atrasada pode nem conseguir. Será parecido o destino do BNDES, da JBS e de outras que certamente vão entrar no olho do furacão?
A sociedade está cansada, os investigadores e julgadores  perderam a aura da intocabilidade depois de seguidos exageros e a própria mídia anda mais cautelosa.
A Bullish não está ocupando nem 10% do espaço da Lava Jato. A operação da semana que prendeu fiscais do Ministério da Agricultura que receberam propina para afrouxar a fiscalização de frigoríficos no Tocantins, por sua vez, teve divulgação, cobertura e repercussão infinitamente menores do que a antecessora Carne Fraca - aquela que quase acabou com a exportação de carne brasileira.
Vivendo e aprendendo. Ainda é cedo para se saber se será  assimilada, mas a lição, neste caso, é de que deve haver um jeito de investigar, punir e combater duramente a corrupção sem explodir o quarteirão e matar todo mundo.

Artigo publicado no Blog do Noblat
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