quinta-feira, 31 de maio de 2018

MACHO MAN

Da Folha de S.Paulo
O pré-candidato do PDT à sucessão presidencial, Ciro Gomes, criticou nesta quinta-feira (26) o hábito de se pedir o impeachment de um presidente quando não se concorda com a sua política de governo.
Em discurso a uma plateia de vereadores, ele disse que, caso seja eleito, não será fácil retirá-lo do comando do Palácio do Planalto, já que não é como a ex-presidente Dilma Rousseff, que sofreu impedimento em 2016.
“Não vai ser fácil não [me derrubar], porque eu não sou a Dilma Rousseff, eu sou do ramo. Você acha que um marginal como [o ex-presidente da Câmara dos Deputados] Eduardo Cunha me derrubaria? É preciso ser muito mais homem que eu para me derrubar”, disse.
Segundo ele, a tentativa de se retirar mandatários do Poder Executivo já está “escrita na história do país” e é necessário um presidente com força política, apoio popular e que retome a confiança da sociedade na democracia.
“Se não tivermos apoio aqui embaixo, eles vão derrubar o terceiro, o quarto e o quinto [presidentes]. Isso está escrito neste país enquanto não virarmos o jogo”, afirmou.
Ele lembrou que, desde a queda de Fernando Collor, são protocolados pedidos de impeachment contra presidentes em exercício e que foi contra, por exemplo, quando Luiz Inácio Lula da Silva apresentou solicitação para a saída de Fernando Henrique Cardoso.
“O impeachment derrubou uma presidente honrada, embora estivesse fazendo um governo que eu achava muito ruim, mas respeito quem pensa diferente”, disse.
Ciro participou de evento da XVI Marcha dos Vereadores, em Brasília. No discurso, sem citar nomes, disse que integrantes do Poder Judiciário que  dão muitas entrevistas deixaram de fazer justiça para fazer política.
Para ele, o ativismo judiciário ocorre quando os Poderes Executivo e Judiciário entram em colapso e deixam um espaço público. “O poder não aceita o vácuo. Se ele não é exercido por alguém, outro o exerce”, disse.
Ele criticou o discurso de desmoralização do Poder Legislativo e disse que, na época que era deputado federal, apenas um terço do Câmara dos Deputados era formado por “batedores de carteira, estupradores, assaltantes e gente da pior categoria”.
“O outro terço é de gente muito séria e muito competente. E o outro terço é de sobreviventes, pessoas que jogam o jogo do Poder Executivo”, disse.
PROPOSTAS
O pré-candidato afirmou ainda que, no início de maio, irá disponibilizar na internet um esboço de seu programa de governo para que seja analisado e criticado pela sociedade. Segundo ele, após ser readaptada, a plataforma oficial será lançada em junho.
No evento, ele defendeu propostas como a manutenção do Ministério da Segurança Pública e a federalização da investigação dos crimes de narcotráfico, facção criminosa, contra a administração pública e lavagem de dinheiro.
Para isso, ele disse que o efetivo da Polícia Federal será ampliado, mas não detalhou com que recursos. Ele afirmou que ainda não tomou uma decisão sobre se acabaria com o Ministério da Justiça ou o fundiria a Segurança Pública.
“Ele [Segurança Pública} não precisa rivalizar, da forma oportunista como foi feito, com a Justiça. É preciso trazer o tema à centralidade da política pública nacional”, disse.
O pedetista disse ainda que pretende, nos primeiros seis meses de mandato, realizar uma reforma conjunta fiscal e previdenciária. E que, caso ela não prospere junto ao Congresso Nacional, irá propor um plebiscito ou um referendo.
No discurso, criticou a proposta previdenciária apresentada pelo presidente Michel Temer e disse que pretende implementar um modelo de capitalização, ou seja, com a aplicação dos recursos em fundos de pensão públicos para que gerem lucro.
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DISCURSO E PRÁTICA DIFERENTES

Da Folha de S.Paulo
Autor de um mensagem nas redes sociais prometendo revogar qualquer multa aplicada a caminhoneiros pelo governo de Michel Temer, Jair Bolsonaro (PSL) é autor de projeto que, em sentido contrário, pune com até quatro anos de cadeia aqueles que impedirem ou dificultarem o trânsito de veículos e pedestres nas vias públicas.
O projeto foi apresentado em agosto de 2016 na Câmara dos Deputados.
"A proposição é pautada na necessária preservação dos direitos individuais e coletivos dos cidadãos, vítimas de ações irresponsáveis daqueles que desprezam as liberdades do outro quando da busca de suas demandas sociais", escreveu Bolsonaro na justificativa do projeto.
O texto estabelece que "impedir ou dificultar o trânsito de veículos e pedestres, sem autorização prévia da autoridade competente" resulta em "reclusão, de um a três anos”, pena agravada em um terço caso o ato prejudique o funcionamento de serviços de emergência. ​
Pré-candidato à Presidência, o deputado se apressou em ir às redes sociais apoiar a atual greve dos caminhoneiros, mas nas manifestações iniciais criticou a obstrução de vias.
"Caminhoneiros, parabéns, vocês estão fazendo algo muito mais importante até do que uma eleição. Só peço uma coisa, não bloqueiem a estrada. Com toda a certeza, onde por ventura esteja havendo bloqueio tem algum infiltrado do PT, do MST, da CUT", afirmou em vídeo divulgado na sexta (25).
Bolsonaro é crítico recorrente de manifestações em vias públicas promovidas por grupos de esquerda.
Neste domingo, porém, o presidenciável publicou em sua conta no Twitter: "Qualquer multa, confisco ou prisão imposta aos caminhoneiros por Temer/Jungmann será revogada por um futuro presidente honesto/patriota."
A Folha encaminhou perguntas para sua assessoria de imprensa e para o presidente interino do PSL e advogado de Bolsonaro, Gustavo Bebianno, mas ainda não houve resposta.
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quarta-feira, 30 de maio de 2018

MORRE AUDÁLIO DANTAS

Da Folha de S.Paulo

Morreu nesta quarta-feira (30) o jornalista e escritor Audálio Dantas, aos 88 anos, no Hospital Premiê, em São Paulo, onde estava internado desde abril. Ele tratava um câncer de intestino desde 2015, quando foi operado, mas a doença acabou por atingir o fígado e os pulmões depois disso.

O repórter era conhecido por seu olhar humanitário sobre os temas do cotidiano e sua atuação em prol da defesa de direitos durante a ditadura militar, característica que lhe rendeu, em 1981, o Prêmio de Defesa dos Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas).

Nascido em Tanque D'Arca, pequeno município do agreste alagoano, Audálio iniciou a carreira no jornalismo aos 17 anos. Vindo do Nordeste para a capital paulista, o filho de um comerciante e uma dona de casa revelava imagens do fotógrafo Luigi Mamprin, no jornal Folha da Manhã, um dos títulos que dariam origem à Folha.


Uma das reportagens que marcaram sua história se deu numa apuração sobre a favela do Canindé, às margens do Tietê, em São Paulo. Lá, o repórter conheceu Carolina de Jesus, moradora local que registrava um diário do seu cotidiano de fome, violência e dificuldade em criar os três filhos pequenos trabalhando como catadora de papel.

Os escritos de Audálio revelaram Carolina, que mais tarde se tornaria best seller, publicando livros no Brasil e no exterior, o mais famoso deles "Quarto de Despejo", de 1960.

Sua personalidade também ficou evidente quando assumiu a presidência do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, à época do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, em outubro de 1975. Audálio denunciou que Herzog havia sido torturado e morto no DOI-CODI, contrariando a versão oficial do governo, que falava em suicídio.

Após isso, em 1978, sua atividade sindical lhe rendeu um mandato como deputado federal por São Paulo, pelo antigo MDB (1979-1983). Audálio também foi o primeiro presidente eleito por voto direto da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas). Até esta quinta, integrava o conselho consultivo da ABI (Associação Brasileira de Imprensa).

A carreira de Audálio também registra passagens como redator e chefe de reportagem na revista O Cruzeiro, publicação que deixou para ser editor de turismo na revista Quatro Rodas.

Ele foi correspondente de guerra em Honduras pela Veja e trabalhou na revista Realidade, onde produzia reportagens sobre as mudanças econômicas e sociais por que passava Minas Gerais. Foi chefe de Redação da revista Manchete e editor da Nova.

Escritor, Audálio lançou livros, dentre eles "As Duas Guerras de Vlado Herzog" (Record), pelo qual recebeu o prêmio Jabuti e o prêmio Juca Pato de Intelectual do Ano, em 2013.

O jornalista deixa a mulher Vanira Kunc, quatro filhos e netos. O velório ocorre no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, a partir das 10h (rua Rego Freitas, 530, Vila Buarque).

AUTORIDADES E AMIGOS LAMENTAM MORTE
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) lamentou a morte de Audálio Dantas. "Foi um batalhador. Sua ação no combate à ditadura foi constante e firme. A voz jamais calou e a presença fez-se notar sempre. Deixa um nome íntegro e saudades.”

O governador do estado de São Paulo Márcio França falou do jornalista em nota. "O interesse pela política nacional e os direitos humanos marcaram a atuação profissional de Audálio Dantas. O Brasil estava no centro de suas preocupações. Ele deixa seu nome gravado na história da imprensa paulista e brasileira."

O jornalista Ricardo Kotscho também recebeu com tristeza a notícia da morte do seu amigo, a quem visitou no hospital há poucos dias.

"Nas nossas últimas conversas, ele já estava desesperançado de que a nossa geração ainda conseguisse ver o Brasil com que sonhamos a vida toda, mais justo, mais humano, mais decente", escreveu em seu blog.

Ele descreve Audálio como um "sertanejo valente dos sertões das Alagoas, um brasileiro de muito talento e firmeza, um dos protagonistas da passagem da ditadura para a democracia quando falar a verdade era correr risco de vida".
Chico Pinheiro, apresentador e jornalista da TV Globo, também lamentou a morte do colega de profissão. "Audálio, grande amigo e mestre. Daqui de Portugal, lamento profundamente perder você, meu presidente e amigo", escreveu no Twitter.

Em nota, o Instituto Vladimir Herzog comentou a morte do repórter alagoano. "Sob a direção dele, o Sindicato dos Jornalistas se tornou uma das principais trincheiras, uma referência para a sociedade na luta contra a repressão."

"Em defesa do Estado de Direito, da verdade, da justiça e da memória do amigo que acabara de ter a vida interrompida, Audálio enfrentou os poderosos do momento e exigiu que a morte de Herzog fosse esclarecida", diz a nota. "Audálio foi testemunha e protagonista, escreveu a história e nela foi inscrito."

O escritor Laurentino Gomes, autor de "1808" (Planeta) e "1822" (Globo Livros), também lamentou a morte em rede social.

"Triste pela morte do meu amigo pessoal, exemplo de coragem e de lucidez para todos os jornalistas de nossa geração. Era inteligente, divertido, generoso. Lutou pela democracia como poucos. Fará muito falta neste Brasil tão carente de luz e de esperança", escreveu no Twitter.
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HOJE A FESTA É NOSSA !

Em 30 de maio de 2005 estreou o blog político Sou Chocolate e Não Desisto. Um dos primeiros blogs de política do país, atrás apenas do blog do jornalista Ricardo Noblat que teve suas atividades iniciadas em abril de 2004.
Com 4.748 dias no ar, mais de 2,8 milhões de visitas visitas dos seis continentes, a cada dia o blog tem se destacado na blogosfera. Nesses 13 anos, o blog Sou Chocolate e Não Desisto participou de alguns prêmios, entre eles o TopBlog, a maior premiação voltada para a blogosfera brasileira.
Desde a criação do Prêmio TopBlog em 2009, o nosso blog tem ficado entre os 100 blogs (2009, 2010, e 2012) mais votados na categoria política/pessoal pelo júri popular. Em 2011, em segundo lugar pelo júri acadêmico.  Em 2013 ficamos em terceiro lugar pelo  júri popular. Neste ano, ficamos entre os 100 blogs mais votados  pelo júri popular.
É uma honra ter o reconhecimento desse trabalho. A responsabilidade a cada dia aumenta. Obrigado a todos os leitores, amigos e parceiros. Valeu, galera!
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segunda-feira, 28 de maio de 2018

HIPÉRBOLES DE CIRO

Editorial da Folha de S.Paulo
Político inteligente e carismático, Ciro Gomes sempre teve a carreira prejudicada por inconstância programática e incontinência verbal, dois defeitos muito pessoais.
Como demonstração da primeira, bastaria citar que o ex-governador do Ceará se encontra em sua sétima filiação partidária —é pré-candidato à Presidência pelo PDT.
Já passou por legendas de grande peso, como o PDS que sustentava a ditadura, o PMDB da redemocratização e o PSDB que elegeu Fernando Henrique Cardoso. Tem preferido, porém, siglas médias em que figura como protagonista.
Mas Ciro Gomes celebrizou-se de fato pela coleção de gafes, bravatas e impropérios que lhe custaram prestígio e votos. O caso mais lembrado talvez seja o da disputa presidencial de 2002, quando declarou que o papel de sua mulher na campanha era dormir com ele.
O pedetista enfrenta, segundo levantamento feito em abril, mais de 70 processos, movidos em geral por adversários ofendidos.
Em sabatina promovida nesta segunda-feira (21) por Folha, UOL e SBT, o presidenciável se mostrou mais cuidadoso com a retórica. Explicou-se logo, por exemplo, ao se referir de modo grosseiro a uma gestante como “prenha”.
Entretanto manteve seu estilo hiperbólico, de palavras contundentes e cifras em profusão, citadas com convicção e veemência nem sempre condizentes com seu conhecimento dos temas em pauta.
Com até 9% das preferências pesquisadas pelo Datafolha, mira o voto útil dos eleitores à esquerda. Chama o governo Michel Temer (MDB) de “golpista” e a reforma trabalhista de “selvageria”.
Em sua ofensiva, equivocou-se ao dizer que os juros do Banco Central, de 6,5% ao ano (ou 2,2% acima da inflação esperada), são os mais altos do mundo. Repetiu teses e números já desmentidos sobre a despesa com o serviço da dívida pública e o déficit da Previdência.
Ao que parece, pretende enfrentar a ruína orçamentária com maior tributação sobre os ricos —medida que, embora justa, é insuficiente, ainda mais se devidamente acompanhada de menor taxação sobre os mais pobres.
Quanto a montar alianças para governar, o pré-candidato do PDT (partido que tem 20 dos 513 deputados federais) afirma que não se submeterá a barganhas com o Congresso. “Vou ser eu e um conjunto de ideias e valores que defendo.”
Louve-se a disposição de apresentar sem meias palavras as teses e propostas. Não será nada surpreendente, porém, se estas tiverem de ser retocadas mais à frente, em caso de crescimento nas pesquisas.
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domingo, 27 de maio de 2018

A FALTA QUE FAZ UM GOVERNO

Artigo de Fernando Gabeira
A crise que paralisa o país neste ano eleitoral é um estímulo para que as pessoas compreendam a falta que um governo faz num país.
O governo tinha condições de prever a paralisação. Possui recursos para a inteligência e, sobretudo, tinha uma posição privilegiada para entender a evolução da crise: desde julho do ano passado estava negociando com os caminhoneiros.
Portanto, falhou nesse quesito. Sua saída seria ter um plano para permitir que, apesar da greve, o país funcionasse no essencial. Mas nunca se aprovou uma estratégia de defesa nacional, apesar de o projeto ter uma década de existência.
O Brasil foi pego de calças na mão. Mostrou-se um país vulnerável. Um plano elementar de defesa garantiria com escolta armada a saída dos caminhões com combustível. Isso aconteceu em Curitiba e, parcialmente, deu certo para manter o transporte urbano em ação, aliviando o peso dos que se deslocam para trabalhar.
O Brasil poderia estar menos dependente da gasolina. Mas congelou o projeto que impulsiona os biocombustíveis. Seduzidos pelas descobertas do pré-sal, acorrentamos nosso destino ao combustível fóssil.
Da mesma forma, o Brasil poderia ter mantido e desenvolvido suas ferrovias. Mas caiu na ilusão tão comum no Novo Mundo: uma nova opção tecnológica remete as outras para os museus.
O preço da gasolina não precisava ser tão alto. Cerca de 45% são impostos. A máquina dos governos em Brasília e nos estados não dispensa esse dinheiro porque jamais soube reduzir seus custos.
Os políticos e a elite burocrática ainda não caíram na realidade. A máquina administrativa é de um país ilusório, muito mais rico do que o país de concreto, que todos habitamos de carne e osso.
É esse país da fantasia que precisa desaparecer com a sua máquina do Estado catapultada para o mundo real. Vivemos um momento de avanços tecnológicos que poderia tornar o enxugamento dos gastos mais fácil que no passado.
Não creio que gastando mais com o país e menos com o seu governo arriscaríamos a competência ou mesmo a dignidade dos cargos.
No país real, a dignidade de uma elite governante também se mede pelo seu esforço em ser austera, pela decisão de compartilhar nossas limitações cotidianas. E não por construir um oásis particular no deserto de nossa desesperança. A ausência de um governo revela também a nossa fragilidade quando não dispomos desse instrumento. De repente, o Brasil parou, somem os alimentos, em alguns lugares também a água mineral.
É como se o país trocasse de mãos. Não só estradas, como refinarias foram bloqueadas. Uma coisa é fazer greve, outra intervir na vida dos outros e do próprio governo. Os lances ilegais não foram punidos, nem apurados os indícios da presença das grandes empresas na greve. Paradoxalmente, num momento de fragilidade como esse a sociedade encontra uma possibilidade de mostrar sua força.
Para muitos, o que se passa no universo político não interessa, o melhor é deixar de lado e cuidar da própria vida. Mas eis que uma paralisação como essa revela claramente que não existe vida própria, blindada contra os descaminhos da elite dirigente. Gasolina, alimentos, água de beber tudo isso invade a existência pessoal com seus vínculos familiares.
A greve foi um momento em que nos sentimos muito sós. Mas abre a chance de nos reunirmos em torno da ideia de um país, uma cultura, enfim, de retomar algum nível de sentimento nacional. Isso passa por uma grande sacudida no país da fantasia.
Artigo publicado no Globo em 26/05/2018
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sábado, 26 de maio de 2018

ZÉ PRADO, 19 ANOS DE SAUDADES

Memória - Em 11 de julho de 1931, nasce em Sobral (CE), José Parente Prado, filho do ex-prefeito de Sobral Jerônimo Medeiros Prado e Francisca Gomes Parente Prado. Em continuidade aos passos do pai, Zé Prado ingressa na política em 1972, sendo eleito prefeito de Sobral. Eleito prefeito de Sobral por duas vezes, deputado estadual por três legislaturas, Zé Prado casou com D. Maria do Socorro Barroso Prado; tiveram três filhos: Ricardo Prado, Marco Prado e José Inácio.
Um dos políticos mais respeitados e admirados em Sobral - zona norte – e no Ceará, Zé Prado sempre esteve empenhado no bem-estar do povo sobralense e do Ceará; respeitou o rico e esteve sempre em defesa do pobre, esse jeito simples, amigo e companheiro de fazer política cativou até adversários, que se rendiam a um abraço do “Zé dos Pobres”, como era conhecido pela população sobralense.
Zé Prado era um filho muito dedicado aos pais, jamais tomava uma decisão sem antes ir à casa de Jerônimo Prado e dona Frascisquinha Prado na Praça do Patrocínio, no centro de Sobral, para receber as bênçãos. Quando viajava, no caminho ligava várias vezes para sua esposa, Socorro Prado, a conversa se estendia por longos minutos.
Suas administrações sempre foram pautadas pelo respeito ao povo e abraçando o progresso. Foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento de Sobral com obras como o terminal rodoviário (deputado Manuel Rodrigues), centro comercial; entre tantas outras que fez na Princesa do Norte (Sobral).
Quando indagado qual era sua maior obra, sem hesitar Zé Prado respondia: “É ser amigo do povo. É respeitar o povo e receber dele o respeito. Essa é a minha melhor obra”. Zé Prado não sabia dizer não para um pobre. O rico, sempre era tratado com gentileza e respeito.
Sempre empenhado pelo progresso de Sobral, José Parente Prado era íntegro, autêntico e de uma gentileza ímpar. Um grande administrador. O povo sempre confiou nele. É por essas e tantas outras qualidades que jamais será esquecido. Um exemplo a ser seguido.
José Parente Prado faleceu em 26 de maio de 1999, vítima de infarto, no Hospital Dr. Estevam, em Sobral (CE). Deixou esposa, filhos, Pai (Jerônimo Prado faleceu em outubro de 2003), irmãs, netos, parentes e amigos. Saudade do “Zé dos Pobres”.
Semana Bandeira Branca
Com a Semana Bandeira Branca, de 20 a 26 de maio, os leitores do blog Sou Chocolate e Não Desisto conheceram um pouco a trajetória política de José Parente Prado.  Confira: Bandeira Branca, o hino, A primeira campanha, O sucessor, O Pipocão, Vai,vai,vai,vai ninguém segura não! As memoráveis músicas das campanhas, É Zé contra Zé... e Caminhando com o povo.
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sexta-feira, 25 de maio de 2018

CAMINHANDO COM O POVO


Apenas nove meses no cargo de prefeito de Sobral – pela segunda vez – Zé Prado já demonstrava que aquela seria sua grande administração. Com slogan “Administração Moderna – Caminhando com o Povo”, os sobralenses viram o progresso chegar em  todos os bairros e distritos.
Em 23 de setembro de 1989, Zé Prado vai ao distrito de Olho D´água, um dos mais populosos de Sobral, numa solenidade que reuniu a maioria da população, Olho D´água passa a ser Rafael Arruda. Para celebrar em grande estilo a nova nomenclatura do distrito, o então prefeito de Sobral (CE), José Parente Prado inaugura a primeira biblioteca. A biblioteca não existe mais.
Zé Prado era muito querido e admirado até por adversários que se rendiam a seu carisma e sua popularidade. Esse jeito popular, de conversar com todos e estar sempre ao lado da população dava a tônica de suas administrações, tornando-as inconfundíveis.  Prado tinha o dom de ouvir e nunca deixava ninguém sem uma resposta positiva. Ele não sabia dizer não.
Em 1992, para conversar com a população e ouvir as reivindicações, o então prefeito Zé Prado, participou do programa radiofônico de maior sucesso da zona norte do Ceará, “Programa Izaías Nicolau”. Clique aqui e ouça o trecho final desse bate-papo.
Após deixar o cargo de prefeito em 1992, Zé Prado disputou ainda duas campanhas políticas: em 1996, como candidato a vice-prefeito – quando lançou na política Marco Prado, o chocolate – na candidatura de seu filho, Marco Prado e para deputado estadual em 1998, dez meses antes de falecer.
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É ZÉ CONTRA ZÉ...

O ano era... 1988, Zé Prado concorre pela terceira vez a prefeitura de Sobral (CE), foi a campanha mais difícil de sua carreira política. Seu principal adversário era o administrador da Santa Casa de Misericórdia de Sobral, Padre José Linhares Ponte.
A candidatura de Zé Prado não tinha o apoio do recém “Governo das mudanças” e nem do governo municipal – apesar de ter como candidato a vice, Ricardo Barreto, sobrinho do prefeito Joaquim Barreto – as pesquisas de intenção de voto realizadas na cidade, Padre Zé liderava e a tendência nos distritos repetia a da sede.
A campanha era o verde (Padre Zé) contra o azul (Zé Prado), com o slogan “É Zé contra Zé. É Zé Prado que o povo quer”, apoiado principalmente pela pobreza, Zé Prado arregaçou as mangas da camisa e visitou todos os bairros e distritos de Sobral. Ele visitou até a casa de eleitores adversários.
Essa campanha foi agressiva, insultos surgiam de todos os lados contra Zé Prado; inúmeros adjetivos pejorativos brotavam a cada dia; ‘bagaceira’ era o mais frequente, mas Zé Prado sempre empenhou a bandeira branca às suas campanhas e nunca guardava mágoa ou rancor de ninguém.
O coração de Zé Prado parecia ser de manteiga ou pudim; nessa campanha, afirmou em entrevista que se sentia constrangido pelo fato de disputar com um padre. Zé Prado tinha um pensamento que jamais se deve mexer com um padre, pois acreditava em castigo divino.
A campanha do verde contra o azul chegou ao fim e para surpresa de todos, Zé Prado, o candidato da bagaceira que não tinha o apoio dos  governos municipal e estadual, venceu a eleição, com maioria em 87% das urnas.
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AS MEMORÁVEIS MÚSICAS DAS CAMPANHAS

As campanhas de Zé Prado sempre foram embaladas com belíssimas composições – versões de grandes sucessos musicais – todas feitas pelo compadre e fiel amigo, o poeta popular Pedro Lavandeira que sempre esteve ao lado da família Prado.
Com habilidade em transformar grandes clássicos da música em jingle – espécie de paródia –  Pedro Lavandeira em três décadas deu ritmo, alegria e sentido as campanhas políticas da família Prado.
Confira algumas das memoráveis músicas das campanhas de Zé Prado, na voz de Pedro Lavandeira.



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quinta-feira, 24 de maio de 2018

VAI, VAI, VAI, VAI... NINGUÉM SEGURA NÃO!

O ano era ... 1986,  Zé Prado já consagrado como líder político, mais uma vez concorre a uma vaga na Assembleia Legislativa do Ceará.
As campanhas de Zé Prado eram marcadas por alguns pontos primordiais, como: respeito, honestidade e alegria. Até seus adversários o respeitavam.
Zé Prado era todo simples e isso servia como uma ponte entre ele, o homem do sertão e o da cidade que se identificavam com o “Zé dos pobres”.
A alegria ficava sob a responsabilidade do amigo fiel e compadre, Pedro Lavandeira que comandava o Pipocão e emocionava a todos com suas músicas feitas para as campanhas de Zé Prado. Um dos maiores sucessos da campanha de 1986, foi o jingle Vai, vai, vai, vai ninguém segura não!
Para as centenas de fãs e eleitores pradistas, até hoje essas músicas nos levam a uma doce saudade das campanhas pradista, sob a batuta do maestro Pedro Lavandeira.
A vitória de Zé Prado como deputado mais votado na zona norte do estado representou para o ‘povão’ – que sempre esteve ao lado dele – como chuva no roçado do agricultor, uma extrema felicidade.
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quarta-feira, 23 de maio de 2018

DO TIRADENTES PARA A CADEIA

Do G1
O ex-senador e ex-governador de Minas Gerais Eduardo Azeredo (PSDB) se entregou às 14h45 desta quarta-feira (23) em uma delegacia de Belo Horizonte. Ele é o primeiro político a ser detido no mensalão tucano.
Os cinco desembargadores da 5ª Câmara Criminal rejeitaram, nesta terça-feira (22), o recurso da defesa do ex-senador e ex-governador de Minas Gerais Eduardo Azeredo (PSDB) no processo do mensalão tucano e determinaram a execução imediatada da prisão.
Azeredo foi condenado em segunda instância a 20 anos e um mês de prisão pelos crimes de peculato e lavagem de dinheiro, no mensalão tucano, em agosto passado. A condenação em primeira instância foi em 2015.
Na tarde desta quarta-feira (23), o ministro Jorge Mussi, do Superior Tribunal de Justiça, rejeitou pedido apresentado pela defesa do ex-governador de Minas Gerais Eduardo Azeredo, do PSDB, que tentava impedir a prisão dele após condenação confirmada em segunda instância.
Eduardo Azeredo chegou à 1ª Delegacia de Polícia Civil Sul, no bairro Santo Antônio, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, acompanhado de um dos filhos e de um dos advogados. Eles entraram na delegacia em um carro seguido de uma viatura da Polícia Civil.
Pouco mais de 90 minutos depois, ele deixou a delegacia e foi encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML), onde foi submetido a exame de corpo delito antes de seguir para o quartel do Corpo de Bombeiros.
Cumprida esta etapa, Azeredo chegou à Academia de Bombeiros Militar, no bairro Cruzeiro, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, por volta das 17h.
De acordo com a Secretaria de Administração Prisional (Seap), a sala onde Azeredo vai cumprir a pena é uma sala de Estado Maior, uma vez que ele é ex-governador de Minas Gerais. O cômodo tem 27 metros quadrados, uma cama, uma mesa de apoio e um banheiro com chuveiro elétrico.
Apesar de estar dentro de um batalhão do Corpo de Bombeiros, o político está sob custódia da Seap, com escolta de agentes penitenciários.
Azeredo terá direito a quatro refeições diárias - café da manhã, almoço, café da tarde e jantar. O cardápio é supervisionado por nutricionistas do sistema prisional, assim como as refeições dos demais presos no estado, segundo a secretaria.
Eduardo Azeredo poderá receber visitas, desde que cadastradas pela Superintendência de Atendimento ao Indivíduo Privado de Liberdade da Seap, procedimento padrão adotado para todos os presos.
Quartel do Corpo de Bombeiros
O juiz da Vara de Execuções Penais de Belo Horizonte Luiz Carlos Rezende e Santos determinou, nesta quarta-feira (23), que Eduardo Azeredo (PSDB) fique em uma sala especial em um quartel do Corpo de Bombeiros, em Belo Horizonte.
O juiz, em sua decisão, disse que Azeredo pediu uma "segurança individualizada". O magistrado também afirmou que, por se tratar de um ex-governador, "tem prerrogativa de manter-se em unidade especial como a Sala de Estado Maior que deverá estar instalada no Comando de Batalhão Militar".
Ainda no despacho, o juiz afirmou que a unidade preferencial para a detenção é um quartel do Corpo de Bombeiros por ter "fluxo menor de pessoas, o que notadamente permitirá maior segurança ao Sentenciado".
Na mesma decisão, está ainda determinado que Azeredo não usará o uniforme de detentos da Secretaria de Administração Prisional porque o quartel não faz parte da rede administrada pela pasta. E ainda está dispensado do uso de algemas, com exceção de situações que estejam "devidamente justificadas".
Parentes de Azeredo vão ser credenciados por equipe do sistema prisional para visitas ao tucano.
Mensalão tucano
De acordo com a denúncia, o mensalão tucano teria desviado recursos para a campanha eleitoral de Azeredo, que concorria à reeleição ao governo do estado, em 1998.
O esquema envolveria a Companhia Mineradora de Minas Gerais (Comig), a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) e o Banco do Estado de Minas Gerais (Bemge) e teria desviado ao menos R$ 3,5 milhões por meio de supostos patrocínios a três eventos esportivos: o Iron Biker, o Supercross e o Enduro da Independência. Todos os réus negam envolvimento nos crimes.
Além de Azeredo, o ex-senador Clésio Andrade foi também condenado há 5 anos de prisão por envolvimento no esquema. O político recorreu da decisão. Sua defesa sempre alegou que Clésio é inocente.
“Confiamos na independência e na qualidade do Poder Judiciário mineiro. A douta juíza já demonstrou isso quando o absolveu do crime mais grave, após aprofundado exame da prova. A condenação pelo delito menos grave deveu-se a equívoco de interpretação, que temos certeza que será corrigido no Tribunal”, afirmou o defensor de Andrade por meio de nota no dia que apresentou o recurso.
O jornalista Eduardo Guedes, que atuou como secretário adjunto de Comunicação Social na gestão de Azeredo, foi recentemente condenado por envolvimento no esquema. No início deste mês, a juíza Lucimeire Rocha, titular da 9ª Vara Criminal de Belo Horizonte, determinou que ele cumpra 17 anos e cinco meses de prisão.
O MPMG informou que a promotora Patrícia Varotto, da 17ª Promotoria de Justiça de Belo Horizonte, pediu o aumento da pena. O advogado Sânzio Baioneta, que defende Guedes, disse que recorreu da decisão. “Entrei com embargos declaratórios em decorrência das omissões da sentença, que não apreciou as teses de defesa”, afirmou.
Os ex-diretores da Comig Renato Caporali e Lauro Wilson foram julgados em um mesmo processo.
Em outubro do ano passado, Caporali foi condenado a 4 meses e 15 dias de detenção em regime aberto por desvio de dinheiro público. Na ocasião, o advogado Hermes Guerrero, que representa Caporali, negou que o seu cliente tenha desviado recursos públicos. Guerrero recorreu da sentença.
Em relação a Lauro Wilson, a Justiça considerou extinta a punibilidade. O prazo prescreveu porque o réu completou 70 anos em 2017.
Os processos em relação a Cláudio Mourão e Walfrido dos Mares Guia prescreveram ao completarem 70 anos. O réu Fernando Moreira Soares morreu em 2015.
Outros quatro réus ainda respondem ao processo na Justiça de Minas Gerais.
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O PIPOCÃO

O ano era... 1982, Zé Prado disputa a segunda campanha para prefeito de Sobral (CE). Eram três candidatos: Zé Prado, Joaquim Barreto – o Kinkão – e Aurélio Ponte.
Foi neste ano que entrou em cena o “Pipocão”, a charanga que contagiava a multidão nos comícios e terreiros alegres de Zé Prado. Cheio de lâmpadas por todos os lados, o carro era a sensação por onde passava.
Numa alusão divertida ao jogo do bicho, a população identificava os candidatos não pelo número da cédula eleitoral de cada um, mas pelo número do jogo. Zé Prado, o 15, era o jacaré; Aurélio Ponte, o 16, era o leão e Kinkão, o 17, era o macaco.
Todas as campanhas de Zé Prado eram marcadas por uma música feita pelo poeta popular, Pedro Lavandeira e nessa de 1982 não foi diferente; entre todas as músicas da campanha, a que marcou foi a versão de Andar com Fé, Pedro Lavandeira fez "Andar com o Zé".
A campanha foi disputadíssima e o nome do novo prefeito de Sobral só foi conhecido próximo ao término da apuração. Zé Prado e Kinkão, sempre próximo um do outro na contagem dos votos, mas no último dia de apuração, Kinkão foi eleito prefeito de Sobral.
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terça-feira, 22 de maio de 2018

PRISÃO DECRETADA

Da VEJA
O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG) negou o último recurso do ex-governador do estado Eduardo Azeredo (PSDB) contra a sua condenação a vinte anos e um mês pelos crimes de peculato e lavagem de dinheiro no processo conhecido como “mensalão tucano”. O TJ-MG decidiu decretar a prisão imediata do ex-governador de Minas Gerais.
Na sessão desta terça-feira 22, os cinco desembargadores da 5ª Câmara Criminal julgaram não acolher os embargos de declaração apresentados pelo tucano contra a decisão de 24 de abril, quando sua condenação foi mantida por 3 votos a 2.
Com um atestado médico, o desembargador Eduardo Machado se ausentou e foi substituído por Fernando Caldeira Brant, da 4ª Câmara. Completaram o colegiado os desembargadores Adílson Lamounier, Alexandre Victor de Carvalho, Julio Cesar Lorens e Pedro Vergara. Os cinco votaram de forma unânime contra o tucano e a favor do mandado de prisão.
O TJ-MG analisa um pedido do advogado de Azeredo, Castellar Guimarães, para que o tribunal aguardasse a publicação do acórdão da decisão desta terça para determinar a prisão, argumentando que seu cliente ainda poderia apresentar novos embargos de declaração. O pedido foi rejeitado, por quatro votos a um.
A prisão do tucano já havia sido pedida pelo procurador de Justiça Antônio de Padova Marchi Júnior na sessão anterior, utilizando como exemplo o caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso desde 7 de abril em Curitiba. No caso do petista, o Supremo Tribunal Federal (STF) negou habeas corpus contra a prisão após o fim dos recursos em segunda instância.
O chamado “mensalão mineiro”, segundo denúncia do Ministério Público, foi um “esquema de desvio de recursos do governo mineiro, operado pelo empresário Marcos Valério de Souza, para financiar a campanha à reeleição do ex-chefe do Executivo (Azeredo), em 1998”.
Além do cabeça de chapa, o candidato a vice naquela eleição, o ex-senador Clésio Andrade (MDB), foi condenado – até o momento apenas em primeira instância –, à pena de cinco anos e sete meses de prisão em regime semiaberto, pelo crime de lavagem de dinheiro.
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MORRE ALBERTO DINES

Do G1
O fundador do Observatório da Imprensa, o jornalista Alberto Dines, morreu aos 86 anos às 7h15 terça-feira (22) em São Paulo.
Segundo a equipe do observatório, Dines morreu no Hospital Albert Einstein, no Morumbi, Zona Sul da capital paulista. Por decisão da família, o hospital não pode passar as causas da morte.
"É com profunda tristeza que a equipe do Observatório da Imprensa comunica o falecimento de seu fundador, Alberto Dines (1932-2018), na manhã de hoje no hospital Albert Einstein, em São Paulo. Estamos preparando uma edição especial sobre o legado do Mestre Dines a ser publicada em breve", diz nota do instituto.
Alberto Dines iniciou sua carreira no jornalismo em 1952 na revista "A Cena Muda"; no ano seguinte mudou para a revista"Visão" para cobrir assuntos ligados à vida artística, ao teatro e ao cinema e logo depois passou a fazer reportagens políticas. Em 1957, ele trabalhou para a revista "Manchete", até se demitir da empresa. Em 1959, assumiu a direção do segundo caderno do jornal "Última Hora", de Samuel Wainer. Já em 1960, colaborou para o jornal Tribuna da Imprensa.
Em 1960, convidado por João Calmon, dirigiu o jornal "Diário da Noite", dos "Diários Associados", de Assis Chateaubriand. Já em 1962 tornou-se editor-chefe do "Jornal do Brasil", no qual ficou por doze anos. No jornal, ele coordenou uma grande reforma gráfica e criou novas seções.
Segundo o diretor do "Jornal do Brasil", Manuel do Nascimento Brito, com "a entrada de Dines, a reformulação do jornal foi afinal consolidada, pois ele sistematizou as modificações que levaram o JB a ocupar outra posição na imprensa brasileira".
Ele também tem passagem pela "Folha de S.Paulo" e a Editora Abril.
Em 1994, Dines criou o Observatório da Imprensa, periódico crítico de acompanhamento da mídia.
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O SUCESSOR

O ano era... 1976, para sucedê-lo na prefeitura de Sobral (CE), Zé Prado lança José Euclides. Para eleger seu sucessor, Zé Prado não mediu esforços: saia às ruas de Sobral e distritos dia e noite, pedindo voto para seu candidato.
Com slogan “De Zé pra Zé, do jeito que o povo quer” e a força política que o jovem carismático da família Prado já demonstrava ter, elegeu seu sucessor.
Após cinco meses no poder, Euclides rompe com Zé Prado, seu padrinho político e responsável pela vitória que tornou o desconhecido comerciante em prefeito de Sobral.
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segunda-feira, 21 de maio de 2018

A PRIMEIRA CAMPANHA

O ano era... 1972, Zé Prado disputa pela primeira vez uma campanha eleitoral, seu adversário era o empresário Carlos Alberto, o “Carrim”. A campanha empolgava todos os sobralenses dos bairros e dos distritos.
Apoiado pelo prefeito Joaquim Barreto, uma das estratégias políticas de marketing para angariar votos de “Carrim” foi distribuir miniaturas de automóveis de plástico para o povo e dizia: “–Vamos de Carrim para chegar primeiro.”
Em contraposição à estratégia de marketing político de "Carrim", a resposta da campanha pradista veio em forma de jingle eleitoral, Pedro Lavandeira fiel amigo e compadre de Prado, fez duas canções: Todo mundo vai a pé, de carro pode virar e Pra ganhar vou a pé.
Após uma acirrada disputa, Zé Prado foi eleito prefeito de Sobral. De 1973 a 1976, Zé Prado e o vice João Edson Andrade administraram a cidade no prédio da atual Câmara Municipal.
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domingo, 20 de maio de 2018

BANDEIRA BRANCA, O HINO

As campanhas de Zé Prado eram marcadas por vários jingles/paródias que se tornaram memoráveis, entre eles: Falam de Mim, Andar com Fé, Vai Vai Vai Vai... Mas entre tantos que se destacaram, um virou o hino da carreira política pradista: Bandeira Branca.
Conhecida na voz magnifica de Dalva de Oliveira, a música ganhou uma versão feita pelo poeta popular Pedro Lavandeira, amigo fiel e compadre de Zé Prado. Quando o clima ficava quente na campanha, Prado pedia para o compadre Lavandeira cantar Bandeira Branca.
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SEMANA BANDEIRA BRANCA

Próximo sábado, 26 de maio, completa 19 anos que José Parente Prado faleceu. Para lembrar a trajetória política desse líder, o blog Sou Chocolate e Não Desisto realiza a 7ª edição da “Semana Bandeira Branca”.
Um dos maiores líderes políticos do Ceará, Zé Prado foi secretário municipal, deputado estadual por três legislaturas e duas vezes prefeito de Sobral (CE).
A “Semana Bandeira Branca” terá fotos, jingles, vídeos e postagens com histórias que marcaram as campanhas políticas do "Zé dos Pobres".
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sábado, 19 de maio de 2018

COXINHAS E MORTADELAS

Artigo de Fernando Gabeira
Com a prisão de Lula, Palocci e, agora, José Dirceu o PT sofre um duro baque. Os dois outros grandes partidos, PSDB e PMDB, agonizam mais lentamente.
Precisamente as escaramuças para driblar a justiça e escapar da Lava Jato, diante de uma plateia atenta, é algo que vai levá-los à perda de credibilidade.
Imaginam que ninguém percebeu que Gilmar Mendes soltou seus operadores. Gilmar funciona como um juiz de futebol que apita uma inexistente falta de ataque dentro da área. No futebol chamamos isso de perigo de gol. Em termos jurídicos é perigo de delação premiada.
José Dirceu o último a ser preso concedeu uma entrevista muito sensata e inteligente sobre a vida na cadeia, como sobreviver, como se comportar.
Ele acha que a esquerda voltará ao poder porque é esse o fio da história. É perfeitamente possível que, num processo de alternância democrática, a esquerda volte ao poder.
No entanto é difícil para os velhos militantes abrirem mão desse fio da história, da crença de que ela tem um rumo e desembocará no destino previsto.
Isto, por mais que seja revestido de um verniz científico, é na verdade um contrabando religioso no pensamento político.
Se a história tem um script determinado o papel dos atores também é facilmente explicável, uns a favor outros contra o suposto rumo da história.
É um tipo de pensamento que facilita a divisão grosseira entre nós e eles. Contribuiu a seu modo para o desgaste de nosso tecido político, do avanço da intolerância.
Coxinhas e mortadelas, na verdade, formam uma oposição até bem humorada. Uma oposição entre carne branca e vermelha que talvez viaje no nosso inconsciente antropofágico.
Hans Staden, um mercenário alemão, que passou nove meses entre os tupinambás foi certamente o primeiro coxinha da história. Quase o comeram. Escreveu um livro que arrebatou a Europa, um best seller para a época.
Nos dias atuais, a sublimação do desejo de devorarmos uns aos outros não deixa de ser um avanço.
No entanto, o quadro muda quando os setores mais radicais no espectro usam e abusam da expressão fascista e comunista.
Tanto o fascismo como comunismo, cada um no seu estilo, deixaram milhões de mortos, em regimes onde a liberdade também foi sepultada.
Quem é chamado de fascista ou comunista sente-se, no caso de não sê-lo, bastante ofendido.
Mas isso não é o principal efeito colateral dessa leviana troca de acusações.
O fascismo é uma experiência histórica bem definida. O primeiro efeito colateral negativo de acusações infundandas é banalizá-la e portanto, desativar sua rejeição e torná-lo mais perigosa caso apareça no horizonte.
O outro efeito colateral das acussões recíprocas é a falsa sensação de que comunismo e fascismo são o verdadeiro antagonismo na sociedade brasileira.
A ambos interessa que o antagonismo seja esse. No entanto, ele mascara os diversos pontos em comum que os regimes comunistas e fascistas partilham: repressão política, partido único e suas consequências.
E esconde o verdadeiro adversário do fascismo e do comunismo: a democracia, solução negociada dos nossos problemas.
A esquerda usou grande parte de sua energia para se defender e deixou de lado os problemas nacionais. É uma ausência que não só reduz suas chances da alternância no poder: empobrece o debate sobre a reconstrução nacional.
Artigo publicado no Globo em 19/05/2018
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sexta-feira, 18 de maio de 2018

UM FIO DE ESPERANÇA

Artigo de Fernando Gabeira
Sempre que examino o horizonte próximo das eleições presidenciais, não consigo dissociá-las dos rumos da Lava Jato num aspecto fundamental: a ruína dos maiores partidos brasileiros. O PT sofreu o maior impacto, com a prisão de Lula. PSDB e MDB arrastam-se em escaramuças jurídicas, sem perceber que também estão em decadência aos olhos dos eleitores.
Ambos tiveram seus operadores presos pela Lava Jato e soltos por Gilmar Mendes – Paulo Preto e Milton Lyra, respectivamente. No futebol costumamos dizer que o juiz quando apita uma falta de ataque inexistente na grande área, apita perigo de gol. Gilmar apita perigo de delação premiada, tentando evitar a derrocada total dos dois grandes partidos.
PSDB e MDB possivelmente respirem aliviados com operadores soltos ou mesmo, no caso de Geraldo Alckmin, com seu processo sendo retirado da competência direta da Lava Jato. Mas essa sensação de alívio momentâneo não leva em conta o fato de que tudo está sendo feito relativamente às claras, diante de uma opinião pública atenta. O desgaste é permanente e tende a crescer.
A ruína dos três grandes partidos revela também um paradoxo nas eleições deste ano. Ao mesmo tempo que estão em queda, são eles que devem deter a maior parte dos R$ 2,6 bilhões destinados a financiar a campanha eleitoral.
Em cada um desses três grandes partidos há candidatos mais ou menos capazes de atrair o voto popular. Mas as siglas foram marcadas pelo processo de corrupção. Dificilmente qualquer de seus candidatos conseguirá neutralizar esse estigma.
Esse raciocínio leva muitos analistas a considerarem a hipótese de um outsider nestas eleições. Alguns enfatizam o perigo de uma crise maior no caso da ascensão de alguém “de fora do sistema político-partidário”.
Duas potenciais candidaturas passaram pelo noticiário como cometas: as de Luciano Huck e de Joaquim Barbosa. A razão de sua escolha era precisamente oferecer um nome de fora, alguém que não se tivesse envolvido com os grandes partidos e pudesse captar o desejo de renovação.
Isso não é inédito na política brasileira. Dirigentes do atual DEM tentaram algumas vezes convencer Silvio Santos a disputar as eleições presidenciais. De modo geral, estamos acostumados aos quase candidatos, aos que se aproximam, flertam com a campanha, mas voltam logo para suas carreiras na iniciativa privada.
A perda de legitimidade dos grandes partidos, no entanto, nem sempre conduz a um candidato absolutamente estranho à cena política. Fala-se muito na campanha de Emmanuel Macron, mas sob muitos aspectos, inclusive experiência de governo, ele era um insider.
As pesquisas revelam, por seu lado, uma grande tendência à renovação, algo que todos sentimos nas conversas de rua. Quando essa tendência existe, pode haver resultados devastadores para os partidos. Mas ela pode também ser transferida para o interior do sistema político-partidário.
Uma das tarefas é dissecar o que define o novo na política. O processo não deixa dúvidas de que um elemento essencial é a promessa de combate à corrupção. Nesse sentido, os candidatos terão de reelaborar aquele projeto assinado por mais de 2 milhões de pessoas e que foi trucidado na Câmara. Não era um projeto perfeito, continha artigos potencialmente discutíveis à luz da Constituição.
Não creio que os 2 milhões de brasileiros que assinaram esperavam que fosse aprovado na íntegra. Se isso acontecesse, poderíamos revolucionar o Brasil com abaixo-assinados.
Mas o que ficou claro é que desejavam uma política contra a corrupção e apontavam suas linhas mestras. Sua pergunta continua no ar: que resposta política institucional será dada ao trabalho da Lava Jato, reconhecidamente incapaz de, por si só, equacionar o problema de forma satisfatória?
Outro aspecto que também pode preencher o desejo de novidade é a capacidade do candidato de se aproximar do País real. Um dos dramas dessa distância entre políticos e realidade nacional é a crise de segurança pública. Há muitos anos se tornou evidente a organização do crime em nível nacional no Brasil, até mesmo com ramificações na América do Sul.
No entanto, apesar de tentativas tímidas, presidentes sempre consideraram a segurança pública algo que deve ser resolvido no âmbito dos Estados. Ambas, corrupção e segurança, são temas atraentes para a demagogia, porque seduzem os que esperam soluções milagrosas.
Um terceiro ponto da renovação é realmente intrincado para mim. Ela demandaria um certo nível de unidade nacional para reconstruir um País arrasado.
Mas quando as pesquisas aparecem, e o nome de Lula nelas, torna-se evidente que, nesse ponto, as preferências pelos extremos são mais numerosas. Em outras palavras, o chamado centro do espectro político não é visto como a alternativa de uma transformação.
Há, entre outras, duas formas de encarar essa realidade. Uma delas é encontrar uma base real nas pesquisas e concluir que o centro é incapaz de encarnar essas aspirações. A outra é admitir que em outros países o centro perde substância, como na eleição de Trump, nos Estados Unidos, e no Brexit, na Inglaterra.
Esses fatores, a crise brasileira e o processo de globalização, não são idênticos, mas revelam uma dificuldade comum às forças moderadas. A tentação é concluir que nada de novo surgirá da campanha.
Porém aí seria também subestimar a capacidade de novas ideias políticas surgirem no cenário. Talvez o novo não apareça com o frescor da pele de um bebê, mas se infiltre no que já existe, produza composições e mudanças imperfeitas que possam representar algum avanço.
Diante desse quadro, as esperanças não podem focar apenas em candidatos, mas na capacidade social de produzir algumas direções de que eles não possam fugir, ainda que imprimam nelas suas marcas e seus defeitos pessoais.
Artigo publicado no Estadão em 18/05/2018
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segunda-feira, 14 de maio de 2018

UMA LUZ NO CASO MARIELLE

Artigo de Fernando Gabeira
Finalmente, uma luz no assassinato de Marielle Franco. Todos apostavam que não era um crime perfeito. Não era. Mesmo se fosse, todos aceitariam o desafio de desvendá-lo. No princípio, o foco era numa saída técnica e científica, como nesses programas de TV americana.
Era mais difícil por aí. As câmeras na região do crime foram desligadas um dia antes. Os carros não apareceram. As balas serviram para ajudar no exame de impressões digitais. Mas foram desviadas da PF, o que adensa o enigma. Restava, finalmente, a clássica pergunta: a quem interessa o crime? Começamos todos a desconfiar das milícias e da PM.
Marielle havia denunciado o batalhão de Acari. Mas não se mata tanto pela honra de um batalhão. O flanco das milícias estava mais a descoberto.
O GLOBO publicou uma série de reportagens sobre elas. No meio da matéria, um parágrafo meio perdido falava do projeto das milícias de verticalizar Rio das Pedras e Gardênia Azul. E mencionava um grupo de mulheres apoiado por Marielle que era contra essa pretensão.
Logo em seguida, morre assassinado um assessor de Marcello Siciliano, chamado Alexandre Cabeça. Queima de arquivo.
Andei pela Gardênia Azul documentando a onipresença de Siciliano. Há cartazes seus na praça, o espaço esportivo é apresentado como uma oferta do vereador à comunidade. Só outro nome aparecia nas faixas: Cristiano Girão, saudando os moradores da Gardênia Azul. Também ele foi acusado de dirigir milícias, até enquanto estava preso. Desde a morte de Alexandre Cabeça, cujo nome real é Carlos Alexandre Pereira, as atenções já se voltavam para a Gardênia Azul e Siciliano. Uma queima de arquivo nesse período era mais do que suspeita.
A aparição de uma testemunha contando como o crime foi planejado e executado acabou respondendo a quase todas as dúvidas. Inclusive, ela menciona outro crime, também uma queima de arquivo relacionada com o assassinato de Marielle.
Siciliano é acusado de tramar o crime com um chefe de milícias conhecido como Orlando Curicica, que, aliás, está preso há algum tempo. A tese do miliciano preso é de que a testemunha é um rival que quer liquidar com seu trabalho e, por isso, inventou seu acordo com Siciliano para matar Marielle.
Não sei que proveito a polícia tirou de tudo isso. Ela trabalha em sigilo. Mas seria interessante voltar ao velho esforço do princípio. A testemunha deu o nome dos dois homens que clonaram a placa do carro. Mais do que isso, deu os nomes de um PM e um ex-PM que estariam no carro dos assassinos. Imagino que essas quatro figuras já estejam presas, ou pelo menos sendo procuradas.
Assim como no caso do pedreiro Amarildo, alegro-me com a possibilidade de ver as coisas esclarecidas. Num programa de TV afirmei que, apesar da competência da polícia do Rio, a investigação criminal é o calcanhar de Aquiles de nossa política de segurança.
E uma boa investigação é um artigo de primeira necessidade, sobretudo num país em que há 60 mil assassinatos por ano. Assim como nos bons goleiros de futebol, a sorte é essencial, mas não é tudo.
O assassinato de Marielle e Anderson deu margem a inúmeras especulações políticas. É sempre assim. Mas o que interessa mesmo é saber o que aconteceu, punir os criminosos. O cinzento trabalho cotidiano de investigação não tem o charme dos grandes discursos. Mas é ele, no final das contas, que vai desmontar crimes que pareciam perfeitos.
Artigo publicado no Globo em 12/05/2018
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domingo, 13 de maio de 2018

MORRE RÔMULO GOUVEIA

Da Folha de S.Paulo

Membro da mesa diretora da Câmara dos Deputados, o deputado federal Rômulo Gouveia (PSD), 53, morreu na noite deste sábado (12) em Campina Grande (PB). Ele sofreu um infarto após uma semana internado em função de uma infecção urinária.

Gouveia foi vereador em Campina Grande, deputado estadual, presidente da Assembleia Legislativa e vice-governador da Paraíba entre 2011 e 2014 no primeiro mandato do governador Ricardo Coutinho (PSB).

Governador emitiu uma nota de pesar pela morte prematura do deputado e decretou luto oficial de três dias na Paraíba.

“O falecimento de Rômulo Gouveia deixa uma imensa lacuna na política do Estado e enluta os cidadãos e cidadãs de Campina Grande e de toda Paraíba’, afirmou Coutinho.

Em nota, o líder do PSD na Câmara, deputado Domingos Neto (CE) também lamentou a morte do colega de bancada.

“Muito atuante nas causas da saúde, tecnologia e segurança hídrica, o parlamentar sempre se destacou nos corredores do Congresso Nacional pelo empenho em que defendeu o povo da Paraíba”, afirmou.

O corpo do deputado federal está sendo velado na Câmara Municipal de Campina Grande. O sepultamento está marcado para segunda-feira (14), às 16h, no Cemitério Campo Santo da Paz.
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sábado, 5 de maio de 2018

MAROLAS E TSUNAMI

Artigo de Fernando Gabeira
Aos trancos, caminhamos. Caiu o foro privilegiado, caiu o esquema de doleiros que atendia a políticos e milionários de modo geral. Houve também uma evolução interessante, naquela decisão de retirar a delação da Odebrecht do processo contra Lula. Menos de uma semana depois, a delação da Odebrecht voltou a assombrar. Dessa vez, Lula e mais quatro foram denunciados pelos investimentos em Angola. Se volto ao tema é apenas para enfatizar a amplitude da delação da Odebrecht, uma empresa que se organizou de forma profissional e sofisticada para corromper autoridades. Talvez tenha sido a maior do mundo nessa especialidade.
No entanto, não apenas os ministros Gilmar, Lewandowski e Toffoli tentam neutralizar as confissões da Odebrecht. Há uma dificuldade geral de reconhecer sua importância. Inicialmente, foi descrita como um tsunami. Mas não era. Ela apenas castiga com ondas fortes não só o PT, mas também outros partidos, entre eles, PSDB e PMDB.
A delação da Odebrecht cruzou fronteiras e devastou a política tradicional na América do Sul. No Peru, por exemplo, praticamente todos os ex-presidentes foram atingidos, um deles caiu, outro foi preso por um bom período. Talvez a dificuldade de avaliar como a delação da Odebrecht bateu fundo seja uma espécie de constrangimento nacional pelo fato de o Brasil ter se envolvido oficialmente no ataque às democracias latino-americanas.
O escritor peruano Vargas Llosa afirmou que a delação da Odebrecht fez um grande favor ao continente. E disse também que Lula era um elo entre a empresa e os governos corrompidos. Nesse ponto, discordo um pouco. O esquema de corrupção que cruzou fronteiras não era apenas algo da Odebrecht com a ajuda de Lula. Era algo articulado entre o governo petista e a empresa. A abertura de novas frentes no exterior não se destinava apenas a aumentar os lucros da Odebrecht, embora isto fosse um elemento essencial. Dentro dos planos conjuntos, buscava-se também projetar Lula como líder internacional, ampliar a influência do PT em todas as frentes de esquerda que disputavam eleições.
A ideia não era apenas ganhar dinheiro, embora fosse, em última análise, o que mais importava. O esquema brasileiro consistia em enviar marqueteiros para eleger aliados, com o mesmo tipo de financiamento consagrado aqui: propina da Odebrecht. Da mesma forma como tinha se viabilizado na esfera nacional, o PT exportava seus métodos com um objetivo bem claro de ampliar seu poder de influência no continente.
Portanto, Lula não era simples emissário da Odebrecht. A empresa estava consciente de seu projeto de influência. Não sei se ideologicamente acreditava numa América Latina em que todos os governos fossem como o do PT. Mas certamente a achava a mais lucrativa e confortável das estratégias e se dedicou profundamente a ela. Uma das hipóteses que levanto para que o tema não fosse visto com toda a transparência é o constrangimento em admitir que através de seu presidente e de uma política oficial de financiamento o Brasil se meteu até o pescoço na degradação das democracias latinas. Algum dia, teremos de oficialmente pedir desculpas. Nossas atenuantes, no entanto, são muito fortes: foi a Lava-Jato que desmontou o esquema, e o uso do dinheiro foi um golpe nos contribuintes nacionais.
Esta semana, o Congresso decidiu que vamos pagar o crédito de R$ 1,1 bilhão à Venezuela e a Moçambique.
Subestimamos o papel do Brasil e pagamos discretamente as despesas da aventura. Gente fina é outra coisa.
Artigo publicado no Globo em 05/05/2018
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sexta-feira, 4 de maio de 2018

GRANDE PROBLEMA, GRANDE CIDADE

Artigo de Fernando Gabeira
Passei uma semana no centro de São Paulo, antes da queda do prédio de 24 andares no Largo do Paiçandu. Meu foco era a Cracolândia, mas não deixei de registrar a grande presença de moradores de rua, cerca de 25 mil na cidade, e os prédios ocupados pelos movimentos de sem-teto.
Um deles me impressionou. Tinha 20 andares, a pintura encardida e cortinas rosa, vermelhas, verdes, algumas improvisadas com papelão. A imagem me levou a alguns minutos de contemplação.
Um funcionário da Secretaria de Habitação me informou que havia negociações em curso para comprá-lo e achar uma saída, antes que as coisas ficassem mais graves. Um prédio com as mesmas características pegou fogo e desabou. Havia negociações em curso.
Como entendo pouco do tema, procurei saber algo mais com os atores envolvidos. Supunha que divergências ideológicas estivessem travando soluções de consenso. Saí de São Paulo com uma sensação de que o problema é tão complexo que o ideal seria definir pontos de convergência e tentar algumas soluções, inclusive para a Cracolândia.
Não deixa de ser ingênuo desejar que as pessoas deixem a rigidez ideológica na porta e discutam de uma forma madura medidas pragmáticas. Os que se apoiam na ideologia e dependem do conflito para mobilizar precisam experimentar também pequenas realizações para descobrir que não se cresce só brigando, mas também fazendo acordos.
Existem setores que vão resistir. Na Cracolândia, por exemplo, o crime organizado está presente e quer manter as coisas como estão. Como explicar a invasão e o saque aos prédios populares que eram a vitrine do governo Alckmin naquela região?
Os moradores do prédio no Largo do Paiçandu pagavam entre R$ 200 e R$ 500 de aluguel. O movimento político que administrava a invasão tem interesses materiais no status quo. Pelo que pude observar, examinando propostas do governo e dos intelectuais de esquerda que fizeram o projeto de renovação dos Campos Elísios, algumas casas populares estavam nos planos de ambas as partes.
Apesar do grande desastre no Largo Paiçandu, o que senti nas ruas de São Paulo é que os moradores de rua estavam vivendo um momento favorável, se é possível dizer isso. Foram dias de sol e o verão abriu lugares menos hostis. Eu os vi na lateral da Prefeitura e do outro lado da rua. São muitas as ONGs e igrejas que procuram alimentá-los. No inverno as coisas ficam mais difíceis – 25 mil pessoas ao relento equivalem à população de muitas cidades do interior. Como agasalhá-los ou mesmo prevenir doenças e morte? A isso se soma o fato de que mais de 1 milhão de pessoas vivem em condições precárias de habitação.
Ao observar o que se passa na Cracolândia e no centro, outro ângulo me preocupou: a segurança biológica. Vivemos tempos difíceis e o próprio Bill Gates ao lado de um grupo de cientistas advertiu sobre o perigo das epidemias, que podem ser devastadoras. É preciso incluir essa dimensão no planejamento urbano, evitar a vulnerabilidade de parte da população porque, em tese, o destino de todos está em jogo.
Minha viagem a São Paulo foi uma introdução à gravidade do problema. Ele não acontece por acaso: milhares de pessoas deixam suas cidades em busca de uma chance na metrópole.
Mas São Paulo é maior que esse problema. Isso não significa que não se viva aqui um dos grandes dramas nacionais. O prédio desabado, por exemplo, era do governo federal.
Os candidatos a presidente poderiam fazer uma visita ao centro de São Paulo. Mesmo que isso não os motive, pelo menos conheceriam um importante aspecto do país que pretendem governar.
Mencionei a Cracolândia e o centro num artigo na semana passada, desejando aprender com as soluções e torcendo por elas. Concluí que se a sensação de urgência não prevalecer sobre a rigidez da visão ideológica, corremos o risco de tornar o Brasil ingovernável.
A queda de um edifício de 24 andares no centro da maior e mais rica cidade do Brasil é algo forte demais para ser um episódio perdido no tempo. Para mim, o lugar é uma espécie de marco zero. Não só o terror devasta, mas também anos de indecisão e descaminhos.
Soluções amplas para problemas dessa dimensão precisam de dinheiro. Se puder vir de todas as fontes, melhor. O governo federal tem uma secretaria de drogas. Não é possível que não tenha uma política para a Cracolândia, onde o drama se mostra sem máscara.
Uma renovação desse território é tão desafiadora que até o seu êxito pode criar novos problemas: uma política bem-sucedida com a população de rua, em tese, pode atrair mais gente para a metrópole.
Casas populares numa área economicamente forte podem originar o que os ingleses chamam de gentrificação. Elas se valorizam, os moradores as vendem para gente de mais poder aquisitivo. Mas é melhor tratar com eles do que com o fracasso. Na verdade, as coisas estão mudando na região, mas num ritmo ainda lento.
Um hospital será construído na Cracolândia, o Pérola Byington. A base policial montada no Largo Coração de Jesus é elogiada pelos moradores. Embora os soldados não cheguem até o chamado fluxo, a concentração de usuários de crack, eles garantem uma segurança no entorno.
Três postos do governo acolhem usuários e moradores de rua em espaços onde podem comer, tomar banho, dormir, obter documentos e até fazer terapia musical. Comparando imagens que fiz agora com as do passado, cheguei à conclusão de que houve uma redução, um progresso territorial que afastou de uma praça e alguns outros pontos a concentração de usuários.
Tomara que a queda do edifício ajude também a apressar os passos dados, desatar longas negociações. Por que tragédias num lugar que pode ser um dos mais atraentes da metrópole?
Artigo publicado no Estadão em 04/05/2018
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terça-feira, 1 de maio de 2018

CRENÇAS, VELHOS E VELHACOS

Luís Jorge Natal, OS DIVERGENTES
Os jornalistas escrevem sobre lendas, criam lendas e têm suas próprias lendas. Nas redações, e acho que hoje ainda é assim, contam histórias que passam de gerações para gerações. A maioria faz parte de uma época que os saudosistas tacham de fase romântica do jornalismo, quando o profissionalismo era incipiente.
Uma dessas lendas, que normalmente eram contadas nos bares após o fechamento dos jornais, dá conta de um velho redator de Teresina. Fim de tarde, já na hora de mandar o jornal para a gráfica, chega um telegrama com a urgência destacada. É, algumas notícias chegavam por telegrama, principalmente as internacionais. O comunicado urgente trazia a notícia da morte de Che Guevara. O velho redator era um revolucionário frustrado. Obrigado à lida diária e à quantidade de bocas para alimentar, nunca pode correr atrás da revolução. Mas tinha o argentino como líder inconteste, maior que Fidel. E, por causa de uma dessas sinucas da vida, cabia a ele escrever o obituário do guerrilheiro.
Profissional, tentaria manter o equilíbrio no texto, poupando o leitor de adjetivos de louvação. Mas com uma coisa não se conformava e nem colocaria no texto: um líder da dimensão de Che Guevara não poderia ter sido morto pelo maltrapilho exército boliviano. Não, isso não. Com o poder de finalizar o jornal, o velho redator resolveu reescrever a história. Discorreu sobre a vida de Che, contou sua formação em medicina, a passagem frustrada pela África, a vitoriosa experiência em Cuba e a obstinação pela luta permanente. Destacou ainda que Guevara era asmático e, com isso, achou a solução. Era a saída que precisava para não macular a aura de santo, nem tirar o simbolismo do herói dele. E mandou ver. Che Guevara morreu nas montanhas da Bolívia depois de uma crise de asma. E concluiu afirmando então que não era recomendável para os asmáticos a prática da guerrilha. Pronto, estava salva a honra do herói.
Eu me lembrei dessa lenda depois de ler exaustivas narrativas de guerrilheiros do FB que propagam um golpe de Estado, um regime de exceção e uma suposta ditadura. Ora, os jovens têm a felicidade de não saber na carne o que é uma ditadura. A ignorância pode levar a equívocos. Mas os mais velhos, principalmente os que têm 60 anos ou mais, não podem propagar, compartilhar ou espalhar esse papo furado de que vivemos um regime de exceção. Isso é desonesto, um estelionato intelectual. O pior é que alguns desses propagadores sofreram mesmo com a repressão e sabem a diferença. Não há como descrever totalmente a crueldade de uma ditadura, mas a palavra que melhor define é horror.
Não foi a asma que matou o Che. Cuidado com os redatores velhacos.
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