Jair Bolsonaro não entendeu, e tudo indica que isso jamais
acontecerá, que foi eleito para cuidar de todos os brasileiros e não apenas
daqueles que o elegeram. E, volta e meia, vem com a ladainha de que governa
para a maioria. Difícil saber se ele acredita nisso ou é só caô para ver se
cola. Do jeito que fala, parece um democrata interessado no que o povo, a
maioria mesmo, quer.
Com a falácia de defender os interesses da maior parte das
pessoas, ele apenas varre os números para baixo do tapete, mas vamos relembrar.
Jair teve 39,24% dos votos, quase 58 milhões de eleitores, o que ele adora
exaltar, num universo de 147 milhões. Juntando Fernando Haddad, brancos, nulos
e abstenções temos cerca de 89,5 milhões de brasileiros que não se sentem
representados. Somem-se a isso os decepcionados e os arrependidos. Quem mesmo é
minoria?
Antes da eleição, Bolsonaro já dizia que elas, as minorias,
teriam que se curvar às maiorias, em alusão às pautas relacionadas a grupos em
desvantagens sociais. Desde então ficou claro que minoria para o presidente é
todo mundo que não votou nele ou não apoia suas decisões.
Na semana passada, ele voltou a bater na tecla da
"maioria" em dois episódios. Ao dizer que "cultura tem que estar
de acordo com a maioria da população", sem apontar qualquer dado que
mostre o que essa tal "maioria" quer. O presidente também foi ao
Twitter (oi?) perguntar se os seus seguidores concordavam com a volta dos radares móveis
nas rodovias. Sua lógica é a de que, se a "maioria" não quer, o que
importam os números que apontam aumento de mortes e feridos?
Bolsonaro ignora estatísticas, pesquisas e tendências e
termina o primeiro ano de governo parecendo desdenhar do que grande parte dos
brasileiros pensa, precisa e quer, apenas para satisfazer uma minoria fanática
que endossa sua estupidez. Isso talvez explique parte de sua baixa
popularidade.
Mariliz Pereira Jorge
Jornalista e roteirista de TV.
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