Como se diz jocosamente sobre o segundo casamento, a
avaliação de um Congresso antes da posse representa o triunfo da esperança
sobre a experiência.
Quando questionados sobre suas expectativas em relação à
legislatura que ainda não começou, os eleitores tendem a ser generosos,
proporcionando taxas de bom e ótimo iguais ou superiores a 40%.
Quando se trata de avaliar o desempenho concreto dos
parlamentares, entretanto, os índices de aprovação despencam
significativamente. Com poucas exceções, ficam abaixo dos 20%.
O atual Congresso não está entre essas exceções, como
revela a
mais recente pesquisa Datafolha. Ao final de 2018, 56% dos entrevistados
esperavam um desempenho favorável dos atuais congressistas.
Agora, ao final do primeiro ano de atividades, apenas 14%
dos eleitores sustentam a avaliação positiva, e a reprovação é de 45%.
São números um pouco piores do que a média das 70 avaliações
realizadas nos últimos 26 anos —15% de aprovação e 39% de rejeição. Mostram-se
raras quedas tão agudas no primeiro ano de mandato.
É difícil estabelecer uma paleta de critérios objetivos para
avaliar o Congresso, mas parece razoável atribuir méritos à atual legislatura.
Afinal, uma das funções precípuas do Parlamento é debater e aprimorar propostas
legislativas, sem curvar-se à vontade e às pressões do Poder Executivo.
Nesse quesito, o atual Congresso, embora jovem, já tem um
currículo a apresentar. Conseguiu aprovar, em apenas dez meses, uma ampla
reforma da Previdência. O governo a apoiava, mas não se engajou como deveria na
batalha política.
A reforma feriu interesses, decerto, mas é seguro dizer que,
sem ela, o país enfrentaria seriíssimas dificuldades econômicas.
Há mais. Os parlamentares, contrariando velhos costumes
nacionais, rejeitaram ou deixaram que caducassem várias medidas provisórias,
derrubaram vetos presidenciais e ainda corrigiram algumas das propostas mais
extravagantes de Jair Bolsonaro em temas polêmicos como o porte de armas.
Ao menos no que diz respeito à independência, a atual
legislatura não se saiu mal. Vale observar que, com Bolsonaro, o Planalto age
de modo atípico ao não formar uma base estável de sustentação.
Por outro lado, o Congresso reincide em vícios fisiológicos
que podem explicar, ao menos em parte, sua má imagem. No episódio mais recente,
partidos da direita à esquerda fizeram ofensiva para elevar as verbas públicas
destinadas ao financiamento de campanhas.
Após a péssima repercussão, deputados
e senadores desistiram da manobra. Mas o vexame perante a opinião pública
estava consumado.
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