O governo Bolsonaro inventou o rodízio de fritura política.
Na semana passada, o presidente chamuscou o ministro da Justiça, Sergio Moro.
Agora é a vez do chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.
O ministro foi torrado nos últimos dias de férias. Pelo
Twitter, Bolsonaro comunicou a demissão de seus dois auxiliares mais próximos.
Além disso, transferiu o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) para o
Ministério da Economia.
Onyx frequenta a frigideira desde o sexto mês de governo,
quando o presidente entregou a articulação política ao ministro Luiz Eduardo
Ramos. Deputado de cinco mandatos, perdeu o posto de negociador para um general
recém-chegado a Brasília.
As mudanças de ontem esvaziam de vez a Casa Civil, que já
foi a pasta mais poderosa da Esplanada. “É a pá de cal”, resume um dirigente do
DEM. Ele explica que o poder de um ministro da área política se mede pela
influência sobre o Orçamento e sobre as nomeações federais. “O Onyx ficou sem
as duas canetas”, sentencia.
A nova fritura foi detonada pelo caso de Vicente Santini,
que usou um avião da FAB para ir à Índia. Na terça-feira, Bolsonaro disse que a
atitude era “completamente imoral” e demitiu o aliado de Onyx. Na quarta, cedeu
a um pedido dos filhos e decidiu recontratá-lo como assessor especial. Ontem
Santini levou outro cartão vermelho, o segundo em 48 horas.
O episódio mostra como o presidente é sensível aos humores
das redes sociais. Ao notar a decepção dos apoiadores, ele recuou do próprio
recuo. A conta sobrou para Onyx. Agora ele terá que escolher entre duas opções
incômodas: engolir a humilhação no palácio ou reassumir o mandato de deputado.
O ministro comprou as ações do capitão na baixa. Foi um dos
primeiros políticos a estimular sua candidatura ao Planalto. Como recompensa,
ascendeu do baixo clero da Câmara à chefia da Casa Civil.
Sua fritura reforça uma lição que já foi aprendida por
outros bolsonaristas. Neste governo, quem não pertence ao clã presidencial pode
cair em desgraça da noite para o dia. Até durante as férias.
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