A essa altura, parecem inúteis os esforços para manter o
vírus que causa a covid-19 fora de fronteiras nacionais. A progressão da
epidemia pelo mundo mostra que a doença, por provocar muito mais quadros leves
do que graves, se espalha com facilidade e não será contida por quarentenas.
E o fato de o risco que cada indivíduo corre de morrer por
causa da covid-19 ser baixo não significa que ela não vá causar estragos
coletivos. No plano sanitário, o que preocupa é a pressão sobre os sistemas de
saúde. O objetivo central das autoridades a partir de agora deve ser o de
impedir que a curva de novas infecções suba muito rapidamente. Se conseguirmos
espaçar o ritmo de contágio, será menor o pico de demanda sobre os hospitais, o
que poderá evitar mortes por falta de ventiladores, por exemplo.
E como se faz isso? É preciso conquistar a confiança da
população, que terá de ser convencida a mudar comportamentos. É importante, por
exemplo, que as pessoas evitem correr para o hospital devido a quadros
respiratórios leves. Também devem reforçar a lavagem de mãos e alterar a
etiqueta de cumprimentos. Se a situação ficar ruim, deve-se cogitar de medidas
mais drásticas como suspender aulas, eventos esportivos e culturais e adotar o
trabalho remoto.
O problema é que há muita coisa sobre a biologia do vírus
que ignoramos. Ele se espalha com menos eficiência no verão? Pacientes
assintomáticos são bons transmissores? Quem já teve a doença se torna imune?
Por quanto tempo? Cada resposta pode fazer muita diferença na hora de definir
políticas públicas. Se uma infecção prévia não confere imunidade (ou só o faz
de forma muito transitória), o modelo epidemiológico a orientar as ações muda
substancialmente.
São questões a ser abordadas pela ciência e não pela
ideologia. Resta torcer para que o núcleo terraplanista do governo continue com
as garras longe do Ministério da Saúde.
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