O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), em polêmica com a
jornalista de O Estado de S. Paulo Vera Magalhães,
pelas manifestações anunciadas para o próximo dia 15 contra
o Congresso e o STF, se perguntava irônico se os brasileiros chorariam no caso
de “uma bomba H cair no Congresso”.
A verdade é que o pranto dos brasileiros seria outro
diferente do sonho dos bolsonaristas mais radicais que prefeririam a volta da
ditadura militar ao Brasil. Tanto é assim que uma pesquisa internacional acaba
de revelar que entre os brasileiros está crescendo o amor pelos valores da
democracia, talvez porque os vejam ameaçados.
Os brasileiros choram sim, em relação ao Congresso e há
tempos, não porque prefeririam fechá-lo como gostaria esse punhado de
bolsonaristas, e sim porque os que o ocupam, que deveriam responder somente e
com o exemplo dos que os elegeram, se mostram tantas vezes indignos do cargo.
Choram os brasileiros não porque gostariam de ver o Congresso
fechado, mas porque gostariam que fosse o que deveria ser pela Constituição, a
casa do povo, com todos os sentidos abertos para ouvir os desejos e as dores
das pessoas.
Choram porque em vez de oferecer um serviço à população
dando exemplo de austeridade, porque o dinheiro gasto é das pessoas, fruto de
seu trabalho às vezes pesado e mal remunerado, utilizam o cargo para aumentar
seus privilégios, para enriquecer e enriquecer os seus. Choram porque parecem
estar lá para pensar mais nos interesses pessoais e partidários do que nos
problemas reais da nação.
Choram porque o que custam ao Estado, entre salário e
privilégios, a maioria desnecessária e injustificável, acaba escandalizando os
que precisam trabalhar duro para quase não chegar ao final do mês. Li que
somente a lavagem dos carros oficiais dos deputados custa mais caro do que
o orçamento separado ao Museu Nacional do Brasil.
Choram porque se perguntam se é necessário um Congresso com
gastos bilionários com mais de 500 deputados quando na realidade os que estão
verdadeiramente preparados à delicada tarefa de legislar à sociedade são uma
pequena minoria. O restante passa anos sem produzir uma só lei importante, como
foi o caso dos quase 30 anos como deputado do hoje presidente da República,
Jair Bolsonaro, que já peregrinou por nove partidos menores e que sempre fez
parte desse baixo clero que desprestigia a função sagrada do Congresso com suas
maracutaias.
Choram porque gostariam que algum Governo tivesse a coragem
de fazer uma profunda reforma da instituição sagrada do Congresso que
representa os anseios de toda a sociedade. Uma reforma política séria,
discutida com a nação, que reduzisse, por exemplo, a uma dezena os partidos
políticos e não essa loucura de partidos sem identidade.
É o que estão pedindo os chilenos nas ruas contra os
abusos dos políticos injustos e aburguesados mais preocupados em agradar o novo
capitalismo excludente do que suas vítimas.
Choram os brasileiros porque gostariam de poder elegê-los
com outro sistema eleitoral para que não chegassem ao Congresso candidatos que
eles nunca teriam escolhido.
Querem um Congresso que seja capaz de escutar os gritos das
ruas, os anseios mais verdadeiros das pessoas, de todos, não só de uma minoria
de privilegiados.
Sim, choram os brasileiros porque gostariam de um Congresso
mais sintonizado com os que mais sofrem, os sem trabalho, os das filas de espera da Bolsa Família, nos corredores dos
hospitais, os que voltaram a cair na pobreza e até na miséria.
Choram os brasileiros das comunidades periféricas das
cidades, carne de canhão de todas as violências juntas, a da pobreza e a do
Estado incapaz de tirá-los de seu inferno e do da polícia, cada vez mais com
carta branca para matar impunemente.
Choram os heroicos professores com salários de fome e seu
assédio para que ensinem de acordo com as ordens do Governo e não com os
critérios da moderna pedagogia para formar homens livres, capazes de se
defender na vida contra a tirania das ideologias totalizantes.
Choram os trabalhadores que veem impotentes como perdem
direitos conseguidos com tanta dor e tantas lutas ao longo de sua vida.
Choram os aposentados que precisarão trabalhar mais anos
para compensar as aposentadorias dos privilegiados que continuarão
aproveitando-as.
Choram os indígenas aos que pretendem expulsar de suas
terras sagradas, de suas tradições, de sua sabedoria milenar para lançá-los ao
inferno da alienação das periferias modernas.
Choram os artistas, os pensadores, os que fazem cultura, a
quem desejariam castrar e domesticar sua criatividade que é o coração da
democracia.
Choram as mulheres e todos os diferentes que não se encaixam
nos modelos pré-fabricados pelo poder. Por que costumam ser eles os mais
desprezados por todos os ditadores da história? Não será pelo medo que causam
ao deixar a descoberto suas frustrações e misérias ocultas e inconfessáveis?
Esse é o pranto dos brasileiros que, apesar de ser vítimas
de tantas injustiças, continuam confiando nas instituições e nos valores da
democracia porque, os pobres, melhor do que ninguém, sabem que têm pouco a
esperar da tirania dos ditadores.
Que não se iluda essa minoria de exaltados e saudosos do
autoritarismo barato com vontade de voltar aos tempos das trevas que o Brasil
já sofreu e condenou.
Não, os brasileiros não querem uma bomba H contra o
Congresso como ironiza com raiva o filho deputado frustrado de Bolsonaro.
Querem, pelo contrário, que alguém tenha a coragem de devolver a essa casa do
povo sua verdadeira sacralidade para que deixe de ser, em expressão dura do
evangelho, um “covil de ladrões”.
Que não se iludam Bolsonaro e família que os brasileiros
sonhem como eles com modelos políticos autoritários. Essa país já viveu a atroz
ditadura da escravidão e mais tarde a ditadura dos que fizeram da política um
instrumento de domínio dos poderosos contra os mais fracos. Os brasileiros
aprenderam a pensar e não querem ser transformados nos novos escravos dos
modernos tiranos do momento.
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