quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

QUEM GANHOU A BATALHA DOS BONÉS ?

Vera Rosa, O Estado de S. Paulo

Quem ganhou a batalha dos bonés, símbolo do vale-tudo da política nas redes sociais?

Líder do PL, Sóstenes Cavalcante diz que a cada ação de Sidônio Palmeira haverá uma reação: ‘Estou de olho nesse cara’.

O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT), estava ao lado do presidente Lula, na manhã de ontem, quando a equipe do ministro da Comunicação Social, Sidônio Palmeira, entrou animada no gabinete do Palácio do Planalto. Nos oito segundos de gravação, com um mapa-múndi ao fundo, Lula não diz uma palavra, mas aparece, em efeito Boomerang, com um boné azul na cabeça.

Não era qualquer boné. Era o acessório que ganhou fama na disputa com bolsonaristas pelo conceito de patriotismo, na esteira da posse do presidente dos EUA, Donald Trump. Desta vez, no entanto, o bordão não foi importado como o Make America Great Again. “O Brasil é dos brasileiros”, destaca a inscrição.

“Este é o retrato do que é a política nos dias de hoje”, afirmou Wagner. “Você faz dez mil discursos e não fura a bolha ideológica. Aí você faz um negócio desses e fura.”

O boné usado por ministros e aliados de Lula desde o dia 1.º, quando houve a eleição da nova cúpula do Congresso, virou a nova batalha das redes sociais entre governistas e seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Pior: nos dois fronts, já tem gente comercializando o produto.

Um levantamento feito pela consultoria Bites, a pedido da coluna, indica que, desde sábado, Lula conseguiu pautar as redes com o boné dos brasileiros.

Na contraofensiva, o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante, mandou confeccionar outras 30 peças, em verdeamarelo, com os dizeres “Comida barata novamente – Bolsonaro 2026”. Aliados do ex-presidente fizeram muito barulho no plenário com o acessório.

“Paguei do meu bolso: R$ 2.262 com Pix. Só não fui taxado porque o Nikolas me salvou”, ironizou ele, numa referência ao deputado Nikolas Ferreira (PL), que no mês passado emparedou o governo ao publicar um vídeo com fake news sobre a taxação do Pix.

Embora o mote da “comida barata” tenha atingido o calcanhar de aquiles da gestão Lula 3 – que é o preço alto dos alimentos –, a mensagem da oposição não bateu a força daquela postada pelos governistas.

Dos dois lados, foram 260 mil menções em redes e notícias, até ontem, com 2,6 milhões de interações. “Das dez mensagens com mais repercussão na guerra dos bonés, sete defenderam a estratégia do governo”, disse André Eler, diretor da Bites. “Foi um acerto de comunicação, mas representa seis vezes menos o pico de menções sobre o Pix.”

É triste ver, porém, que a política de hoje se transformou em disputa de quem tem mais cliques – e não programas – nas plataformas digitais. Vale tudo para aparecer. Só falta agora o eleitor escolher o presidente da República pelo repertório musical.

Bookmark and Share

Nenhum comentário:

Postar um comentário