sexta-feira, 28 de setembro de 2018

O OUTRO BOLSONARO

Da VEJA
Em 2007, o deputado Jair Bolsonaro, então com 52 anos, estava terminando seu segundo casamento, com Ana Cristina Siqueira Valle. Depois de mais de dez anos juntos e um filho, o casal resolveu se separar, mas o caso acabou na Justiça. Eles disputavam a guarda do filho, hoje com 20 anos, e Ana Cristina alegava que seu ex-marido resistia a fazer uma partilha justa dos bens. Por isso, em abril de 2008, ela deu entrada com uma ação na 1ª Vara de Família do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. O processo, com mais de 500 páginas, ao qual VEJA teve acesso, contém uma série de incriminações mútuas que fazem parte do universo privado do ex-casal. Há, no entanto, acusações de Ana Cristina ao ex-marido que entram na esfera do interesse público porque contradizem a imagem que Bolsonaro construiu sobre si mesmo na campanha presidencial. São elas:
 SILÊNCIO – Ainda internado depois do atentado, Bolsonaro não quis se manifestar sobre as acusações da ex-mulher
• Bolsonaro ocultou patrimônio pessoal da Justiça Eleitoral em 2006. Quando foi candidato a deputado federal, declarou que tinha um terreno, uma sala comercial, três carros e duas aplicações financeiras, que somavam, na época, 433 934 reais. Sua ex-mulher, no mesmo processo, anexou uma relação de bens e a declaração do imposto de renda do ex-marido, mostrando que seu patrimônio incluía também três casas, um apartamento, uma sala comercial e cinco lotes. Os bens do casal, em valores de hoje, somariam cerca de 7,8 milhões de reais.
• Bolsonaro tinha uma “próspera condição financeira” quando era casado com Ana Cristina, segundo ela própria. A renda mensal do deputado chegava a 100 000 reais — cerca de 183 000 reais, em valores atualizados. Na época, oficialmente, Bolsonaro recebia 26 700 reais como deputado e 8 600 reais como militar da reserva. Para chegar aos 100 000 reais, diz a ex-mulher, Bolsonaro recebia “outros proventos”, que ela não identifica.
• Bolsonaro, de acordo com Ana Cristina, furtou seu cofre numa agência do Banco do Brasil, em outubro de 2007, e levou todo o conteúdo: joias avaliadas em 600 000 reais, 30 000 dólares em espécie e mais 200 000 reais em dinheiro vivo — totalizando, em valores de hoje, cerca de 1,6 milhão de reais. O cofre ficava na agência do Banco do Brasil da Rua Senador Dantas, no centro do Rio. Seu conteúdo é incompatível com as rendas conhecidas do então casal.
• Bolsonaro era um marido de “comportamento explosivo” e de “desmedida agressividade”. Essa foi a razão que levou Ana Cristina a separar-se, segundo ela mesma informa.
 “ELEVADO PADRÃO” - A casa do deputado num condomínio de luxo no Rio de Janeiro
Bolsonaro e Ana Cristina se separaram oficialmente em 2008, depois de dez anos juntos. Com o passar do tempo, os dois voltaram a se entender e selaram um armistício que dura até hoje, tanto que Ana Cristina, candidata a deputada federal pelo Podemos do Rio de Janeiro, até usa o sobrenome do presidenciável e se apresenta aos eleitores como “Cristina Bolsonaro” — sobrenome que jamais teve.
Agora, ela diz que as acusações que fez contra o ex-marido são fruto de excessos retóricos. Não é incomum que, em separações litigiosas, marido e mulher troquem acusações infundadas, destinadas a magoar ou tentar extrair alguma vantagem. Mas uma consulta ao processo e suas adjacências mostra que Ana Cristina não estava mentindo. O furto do cofre, por exemplo, realmente ocorreu. Em 26 de outubro de 2007, ela esteve na agência do Banco do Brasil e, misteriosamente, sua chave não abriu o cofre. Chamado ao local, um chaveiro destravou o equipamento, e Ana Cristina constatou que estava vazio. “Isso só pode ter sido coisa do meu ex-marido”, disse ela aos funcionários do banco. Um deles tentou acalmá-la, sem sucesso. “Ele pode tudo, e vocês têm medo dele”, respondeu ela. No mesmo dia, Ana Cristina registrou um boletim de ocorrência sobre o furto na 5ª Delegacia da Polícia Civil.
PATRIMÔNIO OCULTO –   Em 2006, Bolsonaro apresentou à Justiça Eleitoral a relação de seus bens, que totalizavam, segundo ele, 433 934 reais — ou 850 000 em valores atualizados. No processo de separação (abaixo), descobre-se que o patrimônio real do casal à época era de 4 milhões de reais — ou 7,8 milhões em valores atualizados
VEJA teve acesso ao inquérito policial. Em depoimento, Alberto Carraz, um dos gerentes do Banco do Brasil, confirmou que tanto Ana Cristina quanto Bolsonaro mantinham cofres na agência. No caso do deputado, não se sabe o que ele guardava — e ele também nunca declarou a propriedade do cofre. Já a ex-mu­lher disse que guardava joias avaliadas em 600 000 reais, mais 30 000 dólares em espécie e 200 000 reais em dinheiro vivo. Localizado por VEJA, Alberto Carraz conta que, de fato, o conteúdo do cofre sumiu e dá uma pista do que pode ter sido o desfecho da história: “Quando Bolsonaro soube que a ex-mu­lher tinha feito um registro de ocorrência na delegacia, ele me disse que iria resolver a questão. Depois, eu soube por ele que estava tudo resolvido e que ela tinha retirado a queixa”. Na verdade, não foi bem assim.
A discussão sobre o furto do cofre continuou, segundo mostra o processo. A defesa de Bolsonaro, na etapa em que o ex-casal discutia a guarda do filho, juntou um depoimento em que o deputado acusava a mulher de chantageá-lo. Dizia que ela tinha levado o filho para o exterior e condicionava o retorno da criança à devolução do dinheiro e das joias subtraídos do cofre. Bolsonaro acusou a mulher de sequestro. Ela acusou-o de furto. Na época, além de procurar a Polícia Federal, Bolsonaro pediu ajuda ao Itamaraty para localizar o filho no exterior. Ana Cristina e a criança estavam em Oslo, na Noruega. Na semana passada, o jornal Folha de S.Paulo divulgou telegramas do Itamaraty nos quais Ana Cristina, em conversa com um vice-cônsul brasileiro em Oslo, dizia que fora para a Noruega depois de ser ameaçada de morte pelo ex-mari­do. Ela negou que tenha dito isso ao vice-cônsul, mas o jornal ouviu cinco amigas brasileiras de Ana Cristina em Oslo e todas a desmentiram e confirmaram que a ameaça de morte fora o motivo de sua viagem para a Europa. O fato é que, quando o depoimento de Bolsonaro acusando Ana Cristina de sequestro foi anexado ao processo, o ex-casal chegou imediatamente a um acordo. O filho voltou do exterior, a disputa pelos bens foi resolvida nos termos reivindicados por Ana Cristina e o valor da pensão foi acertado. Sobre o furto do cofre, porém, nenhuma palavra.
O EX-GERENTE - Carraz confirmou que o casal mantinha dois cofres no banco
Alberto Carraz se diz amigo de Bolsonaro até hoje. Há dois anos, ele foi acusado de furtar 2 milhões de reais de vários cofres da agência do Banco do Brasil. Poderia ter sido ele então o ladrão do cofre de Ana Cristina? Na relação oficial das supostas vítimas de Carraz não aparece o nome nem de Ana Cristina nem de Bolsonaro. E a investigação policial sobre o assunto não deu em nada. Ana Cristina foi chamada a depor duas vezes, não compareceu e, no ano passado, depois de dez anos, a polícia encerrou o caso sem esclarecê-lo. Bolsonaro e Ana Cristina não tinham renda para possuir bens e valores da ordem de 1,6 milhão de reais guardados num cofre de banco. Localizada por VEJA, Ana Cristina não quis entrar em detalhes. Deu-se o seguinte diálogo:
De onde vieram as joias, dólares e reais? Era coisa minha, que juntei. Coisas do meu ex-marido, joias que ganhei do Jair.
Por que a senhora não atendeu às convocações para depor na polícia? Não lembro. Fiquei quieta.
Por quê? Não me sentia à vontade. Iria dar um escândalo para ele e para mim. Deixei para lá.
Escândalo para o deputado? Eu, brava, falo besteira.
Por isso a senhora desistiu da investigação? Nós dois tínhamos um acordo de abrir mão de qualquer apuração porque não seria bom.
Qual o acordo? Aí eu prefiro ficar… me omitir.
Ao entrar na Justiça para formalizar a separação, Ana Cristina queria a divisão que considerava justa do patrimônio que o casal adquiriu ao longo do casamento. À Justiça, ela disse que o ex-marido “proporcionava a sua família um elevado padrão, financiando frequentes viagens ao exterior” e que Bolsonaro tinha “remuneração de militar da reserva, de deputado federal e outros proventos que ultrapassam a mais de 100 000 reais mensalmente”. Na época, a renda oficial de Bolsonaro era de 35 300 reais. Recebia 26 700 reais como deputado e 8 600 reais como militar aposentado. Para chegar aos “mais de 100 000 reais”, a renda do deputado teria de ser multiplicada por três. Ana Cristina não informou quais seriam os “outros rendimentos” de Bolsonaro, mas anexou ao processo uma relação de bens e a declaração de imposto de renda do ex-marido referente ao ano de 2006. Os peritos da Justiça avaliaram esse patrimônio todo em 4 milhões de reais — cerca de 7,8 milhões de reais em valores atualizados.
O FURTO DO COFRE – Em 26 de outubro de 2007, Ana Cristina registrou um boletim de ocorrência que relatava o furto de 600 000 reais em joias, 30 000 dólares em espécie e 200 000 reais em dinheiro vivo, guardados em um cofre que ficava numa agência do Banco do Brasil. Na época, ela acusou Bolsonaro pelo crime.
No mesmo ano de 2006, Bolsonaro entregou à Justiça Eleitoral uma relação de bens que somava somente 433 934 reais — coisa de 10% apenas do que a perícia judicial avaliara. Ele omitiu a propriedade de três casas, um apartamento, uma sala comercial e cinco lotes. A lei exige que cada candidato divulgue seus bens para que o eleitor possa acompanhar a evolução do seu patrimônio e avaliar, por exemplo, se amealhou bens em valores desproporcionais aos proventos recebidos durante o mandato. “É um mecanismo de fiscalização dos eleitores e da imprensa sobre os políticos”, diz Henrique Neves, ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral. Quando um candidato divulga uma lista subfaturada, está enganando o eleitor. O advogado Daniane Furtado, especialista em direito eleitoral, diz que a omissão de bens na declaração entregue à Justiça Eleitoral pode ser enquadrada nos crimes de falsidade ideológica e sonegação. “O que o político informou à Justiça Eleitoral tem de ser compatível com o que está no imposto de renda”, diz.
RENDA NÃO DECLARADA – Ana Cristina anexou ao processo os holerites de Bolsonaro e relatou que o casal tinha uma renda de “mais de 100 000 reais” — em valores de hoje equivalentes a 183 000 reais. Na época, os proventos como deputado e militar da reserva, suas únicas fontes de renda conhecidas, totalizavam 35 300 reais mensais.
Numa das petições, a ex-mulher de Bolsonaro diz que o casal sempre teve uma “afortunada” condição de vida, que podia ser confirmada “pelos sinais exteriores de riqueza”. Para comprovar o relato, juntou ao processo documentos, holerites, fotos de viagens — e a acusação dos tais “mais de 100 000 reais” não declarados, hoje equivalentes a 183 000 reais. Nas declarações de imposto de renda de Bolsonaro anexadas ao processo — tanto a referente a 2006 quanto a de 2007 — não há registro de nenhuma renda além dos proventos de deputado e militar da reserva.
A vida patrimonial de Bolsonaro, a julgar pelos documentos entregues à Receita Federal e à Justiça Eleitoral, é uma gangorra. Em 2001, ele declarou à Receita um patrimônio de 419 000 reais. Em 2006, o patrimônio informado ao Fisco subiu para 1,6 milhão de reais — embora, nos cinco anos transcorridos entre uma declaração e a outra, a soma de seus proventos como parlamentar e militar aposentado não tenha chegado a 1 milhão de reais líquidos. Neste ano eleitoral de 2018, Bolsonaro disse à Justiça Eleitoral que seu patrimônio soma 2,2 milhões de reais, incluindo cinco imóveis. Um deles, comprado em 2009, fica num condomínio residencial localizado em frente à praia na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Corretores da região consultados por VEJA informam que as casas mais baratas no condomínio de Bolsonaro não custam menos de 2 milhões de reais. Uma reportagem da Folha de S.Paulo, publicada em janeiro passado, revelou que Bolsonaro comprou sua casa no condomínio por 400 000 reais — é um valor inferior aos 580 000 reais que o próprio vendedor pagou ao adquiri-la quatro meses antes.
Hoje, Ana Cristina nega as acusações. “Quando você está magoado, fala coisas que não deveria”, disse a VEJA. Sobre os “outros rendimentos” e a vida “afortunada” do candidato, ela diz que nem se lembra: “Eu falei isso?”. No processo, Ana Cristina explicou que a separação do casal aconteceu porque o comportamento de Bolsonaro era “explosivo”, o que tornou a convivência “insuportável”, em virtude da “desmedida agressividade” do parlamentar. Mas, agora, tudo mudou. Diz ela: “Bolsonaro é digno, carinhoso, honesto e provedor. Apesar de ‘machão’, ama os filhos incondicionalmente e trata suas mulheres como princesas”. Consultado por VEJA, Bolsonaro não quis dar entrevista.
Por Hugo Marques, Nonato Viegas e Thiago Bronzatto. Com reportagem de Gabriel Castro e Laryssa Borges.
Publicado em VEJA de 3 de outubro de 2018, edição nº 2602
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PRODUTORA FAKE

Da ÉPOCA
Em Petrolina, município pernambucano de 300 mil habitantes, às margens do Rio São Francisco, funciona o QG da produção de vídeos para a TV e redes sociais da candidatura presidencial de Jair Bolsonaro. Essa, pelo menos, é a informação fornecida pela campanha do PSL na prestação de contas parcial que apresentou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Segundo o documento, foram pagos R$ 240 mil para uma produtora local, cerca de 20% do total de gastos da campanha até agora.
A reportagem de ÉPOCA foi até o endereço registrado da produtora de vídeo, a Mosqueteiros Filmes Ltda. No local, no centro de Petrolina, encontrou apenas uma casa vazia — uma placa anuncia que ela está à venda. O imóvel está sem uso há mais de dois anos, segundo os moradores do bairro. Quem atende o telefone exposto na fachada é Roberta Nogueira, confeiteira e dona do imóvel desde 2005. “Esse pessoal da Mosqueteiros alugou um escritório lá há muito, muito tempo. Já saíram há anos, nem lembro quantos. Não sei onde estão ou se ainda existem”, disse à reportagem por telefone.
A atividade registrada pela empresa na Receita Federal é, de fato, a produção de filmes publicitários, ainda que não tenha sede, telefone ou site na internet para vender esse serviço. Criada em 2011, seus proprietários são Gabriel Salles — que à época tinha 18 anos — e sua mãe, Maria Dias.
Para entender o papel da Mosqueteiros Filmes na campanha de Bolsonaro, o melhor é concentrar a atenção em outra agência de comunicação instalada na cidade, a 9ideia — que tem sede em João Pessoa, capital da Paraíba. Seus quatro funcionários em Petrolina prestam serviços para a prefeitura da cidade. Eles dizem não ter envolvimento nenhum com a campanha do candidato do PSL. Mas o sócio da empresa tem. Ele é o publicitário Lucas Salles.
Quem apresentou Lucas Salles a Jair Bolsonaro foi o coordenador político do pesselista no Nordeste, Julian Lemos, candidato a deputado federal e vice-presidente do PSL. Ainda na fase de pré-campanha, o publicitário se apresentava como consultor político e “marquetólogo” de Bolsonaro — ele e seu cliente não gostam do termo “marqueteiro”.
Lucas Salles, sócio da 9ideia, é o pai de Gabriel e o marido de Maria Dias, os sócios da Mosqueteiros. Os três moram em João Pessoa, a 800 quilômetros de Petrolina. Quando ÉPOCA visitou a 9ideia, na capital paraibana, Lucas Salles e Maria Dias estavam na agência, um pequeno prédio de três andares localizado em uma esquina. O térreo é alugado por uma loja de bolsas, a agência ocupa os outros dois pisos.
Em uma sala de reuniões, ao lado de um aquário em que dez funcionários trabalhavam, o casal falou à reportagem. Perguntei por que receberam o pagamento da campanha pelo CNPJ da Mosqueteiros Filmes, quando quem estava de fato prestando o serviço era a 9ideia. “A 9ideia não está na campanha, não. A Mosqueteiros é que está. É uma empresa de Petrolina, mas tem uma filial aqui, no segundo andar deste prédio”, afirmou Lucas Salles. Segundo Maria Dias, a 9ideia não pode atuar na produção de filmes para a campanha porque é uma agência de publicidade de varejo. Seu objeto social é de agência publicitária, não de produtora de filmes. “O Cenp, que é o Conselho Executivo das Normas-Padrão, não permite que agências de publicidade atendam a contas eleitorais”, afirmou Maria Dias. A Mosqueteiros tem um CNPJ na Paraíba desde 2013.
Em seguida, Lucas Salles me levou ao segundo andar da agência, onde fica, segundo ele, a produtora de filmes. Gabriel Salles, representante legal da Mosqueteiros, teve problemas de saúde nos últimos meses e por isso não estava trabalhando, segundo seu pai. O local estava vazio. Havia um adesivo da Mosqueteiros Filmes exposto na porta de uma pequena sala trancada. “Aqui é a Mosqueteiros.” Depois de pedir para uma auxiliar trazer a chave da sala, ele mostrou alguns itens jogados no chão, como tripés e lâmpadas. “Os equipamentos mais caros ficam lá embaixo, porque é mais seguro”, explicou.
De volta ao primeiro andar, perguntei se aqueles funcionários, na sede da 9ideia, não eram os que estavam realmente trabalhando na campanha presidencial. Lucas Salles respondeu que sim e disse que contratou apenas três frilas para a Mosqueteiros, no Rio de Janeiro. “Mas os funcionários da 9ideia vão ser remunerados de alguma forma com esse dinheiro da campanha que a Mosqueteiros recebeu?”, perguntei. “Sim, vou dar um bônus para eles”, explicou. Segundo o publicitário, eram 16 empregados da 9ideia envolvidos no início do projeto, mas alguns pediram demissão porque sentiram “desconforto” em trabalhar para Bolsonaro.
Lucas Salles nasceu há 55 anos em Campina Grande. Estudou comunicação, militou no PT e hoje dá aula de marketing político em João Pessoa. Usa óculos com uma armação escura e pesada, que contrasta com sua careca. Maria Dias, de 50 anos, também especializada em marketing, é sócia da 9ideia e encarregada da parte jurídica e financeira da empresa. O casal trabalha junto há 30 anos.
Quando fala de Bolsonaro, Salles mostra-se apaixonado. “Tenho uma relação próxima com ele. Quando o conheci, ele perguntou: ‘Você está preparado para a missão?’. Falei: ‘Fui forjado para estar aqui’.” Ele acompanhou Bolsonaro em debates e elaborou o jingle da campanha com o músico Dinarte Nóbrega, seu funcionário. A música “Muda Brasil, muda de verdade” começa com as notas do Hino Nacional. A letra fala em “Bolsonaro, com amor e com coragem”. “Me disseram que não tinha nada a ver falar de amor, que Bolsonaro não tem a ver com amor. Mas, para mim, Deus é amor.” Na sala de reunião, há uma Bíblia sobre a mesa.
 Bolsonaro informou ao TSE ter gasto apenas R$ 1,1 milhão até agora. A produtora Mosqueteiros representa o segundo maior gasto, após uma despesa de R$ 250 mil com uma agência de viagens. As receitas vêm de arrecadação coletiva e de doações de pessoas físicas, segundo a prestação de contas. A estrutura pequena se justifica, em parte, pelo perfil da campanha. Com apenas oito segundos de televisão e 11 inserções de 30 segundos, o foco está nas redes sociais, onde o candidato tem milhões de seguidores.
Outra empresa de marketing, a AM4, centraliza a distribuição de conteúdo digital. Muitos vídeos para compartilhar nas redes sociais são produzidos pela equipe de Salles, e outros são apenas transmissões de discursos de Bolsonaro e de seus filhos. O publicitário de João Pessoa não especificou quanto dinheiro vai tirar da Mosqueteiros para remunerar os funcionários da 9ideia que trabalham na campanha, qual é o salário deles nem qual é o formato que prevê para esse pagamento extra, já que não planeja envolver o CNPJ da agência de publicidade na prestação de contas. O valor pago, R$ 240 mil, está muito abaixo da média do mercado. Para suas produtoras de vídeo, Geraldo Alckmin pagou R$ 15 milhões, e Henrique Meirelles R$ 10 milhões. Os gastos do PT com a mesma atividade foram de R$ 5,2 milhões e os de Ciro Gomes R$ 2,3 milhões.
Perguntei a Salles se ele poderia ter envolvimento na distribuição da verba, já que não é sócio da Mosqueteiros. “Não, mas eu posso fazer parte dela trabalhando nela, para administrar.” Questionei se ele era funcionário da empresa. “Não.” Perguntei se, nesse caso, estava ou não trabalhando na campanha. “Estou na Alfa9.” A Alfa9, sua microempresa, registrada como LCL Salles, recebeu R$ 30 mil da campanha de Bolsonaro, um valor separado do pagamento à Mosqueteiros. Salles disse usar esse dinheiro também para contratar autônomos quando é necessário. O objeto social registrado para a Alfa9 é marketing direto, o que a habilita a prestar serviços de consultoria política, segundo ele. No segundo andar também há um adesivo com a logomarca da Alfa9.
A campanha de Bolsonaro indicou a advogada Karina Kufa, responsável pela prestação de contas, para explicar o imbróglio. “Não há nenhuma irregularidade na contratação”, disse por telefone. “A empresa (Mosqueteiros) tem estrutura suficiente para atender a uma demanda de pequeno porte.” Ao ser questionada sobre o fato de funcionários da 9ideia prestarem serviço para a campanha, Kufa disse que se trata de um problema trabalhista. “Se tiver um problema trabalhista com a empresa dele, de ele estar fazendo o desvio de trabalhadores de uma empresa para outra, isso não é problema da campanha. A campanha contrata empresas.”
De acordo com advogados eleitorais, informar na prestação de contas o CNPJ de uma empresa laranja, que não é a que de fato está prestando o serviço, pode ser considerado crime de falsidade ideológica eleitoral se constatada a intenção de fraude. O Código Eleitoral prevê uma pena de até cinco anos para o delito. Para Salles, não há irregularidade, e cada CNPJ tem seu objeto de atuação nesse caso. “É normal ter duas empresas, uma agência e uma produtora. Se faz assim no Brasil, nos Estados Unidos. Não há nenhum impedimento legal ou moral.”
Para Daniel Falcão, professor de Direito Eleitoral da USP de Ribeirão Preto, São Paulo, uma situação como essa poderia ser um sinal de gasto ou captação ilícita, o que pode motivar uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral. “É muito comum no Brasil pagar dinheiro para uma empresa que não existe. No julgamento da chapa Dilma-Temer pelo TSE, foi um dos pontos centrais. A campanha tem a responsabilidade e a obrigação de verificar exatamente para quem está pagando.”
Empresas também não podem prestar serviços gratuitos a uma campanha eleitoral. Desde que o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu doações de empresas, em 2015, uma pessoa jurídica não pode fornecer apoio a um candidato sem cobrar. “Se a empresa está trabalhando sem receber formalmente em sua conta, pode ser uma doação empresarial ilícita e configurar abuso de poder econômico”, afirmou Marcellus Ferreira Pinto, advogado especializado em Direito Eleitoral.
A captação ilícita está configurada quando há gastos bancados com recursos financeiros que não vêm da conta de campanha, o que é conhecido como caixa dois. Para ser considerado abusivo, esse gasto deve ser uma parcela relevante do total de despesas, a ponto de mudar o resultado da eleição. Uma das consequências da condenação por abuso de poder econômico é a cassação da chapa ou do mandato político. “Não é possível dizer se há abuso de poder econômico sem uma investigação, mas há, nesse caso, uma situação de desorganização contábil, que leva a uma falta de transparência”, disse Raquel Machado, professora de Direito Eleitoral da Universidade Federal do Ceará. “É uma situação comum no Brasil e muito grave. Há empresas contratadas em campanhas que são empresas de fachada.”
Em março do ano passado, a 9ideia foi condenada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) a devolver dinheiro aos cofres públicos. O tribunal reprovou a prestação de contas de um convênio do Ministério do Turismo com a prefeitura de Cajazeiras, na Paraíba. O serviço superfaturado foi um festival de shows de forró em junho de 2009. O ex-prefeito Leonid Souza de Abreu foi condenado solidariamente com a 9ideia a devolver R$ 103 mil. A decisão do TCU incluiu uma multa de R$ 15 mil para a agência. O casal Lucas Salles e Maria Dias afirmou que a responsabilidade é da prefeitura, que teria perdido os comprovantes de que os serviços foram prestados pela agência. Um recurso foi apresentado contra a decisão do TCU.
Das cinco empresas de que Salles é sócio, duas são consideradas inativas pela Receita por terem omitido declarações fiscais, a Praxxi Comunicação e a Associação dos Amigos de Algodão de Jandaíra. Outras duas, a 9ideia e a microempresa em seu nome, a Alfa9 (LCL Salles), têm débitos fiscais inscritos com a União. A 9ideia também está sendo processada por débitos fiscais com a prefeitura de João Pessoa. A 9ideia não nega que tenha eventualmente ficado sem pagar impostos. “A empresa que disser que não tem imposto a ser pago, pode ir atrás que tem coisa”, afirmou Maria Dias.
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quinta-feira, 27 de setembro de 2018

CANDIDATURA REJEITADA

Da Folha de S.Paulo
Por unanimidade, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) rejeitou nesta quinta-feira (27) a candidatura de Anthony Garotinho (PRP) ao governo do Rio.
Os ministros entenderam que ele não pode concorrer porque sua candidatura esbarra na Lei da Ficha Limpa
A decisão tem efeito imediato e ele está proibido de fazer campanha e de receber novos recursos para isso. 
Garotinho tentava reverter uma decisão do TRE-RJ (Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro).
No começo do mês, por unanimidade, o TRE-RJ indeferiu o registro de candidatura de Garotinho. 
Ele foi condenado por improbidade administrativa em maio deste ano, sob acusação de fraudes na saúde durante o mandato de sua mulher, Rosinha Garotinho (2003-2006), que geraram mais de R$ 234 milhões de danos ao erário.
O ministro Og Fernandes, relator do caso, havia concedido liminar (decisão provisória) para permitir Garotinho fazer campanha até que a ação fosse analisada pelo plenário do TSE.
No julgamento, o próprio ministro revogou a liminar. 
Além de Og Fernandes, votaram para barrar Garotinho na eleição os ministros Admar Gonzaga, Tarcísio Vieira, Jorge Mussi, Alexandre de Moraes --que substituiu Luís Roberto Barroso no julgamento --, Edson Fachin e Rosa Weber, presidente do tribunal.
"O dolo está devidamente assentado", disse Gonzaga. 
Para Fachin, não há dúvidas sobre a condenação de Garotinho. 
Moraes destacou que a Justiça Eleitoral reconheceu os fatores que levaram Garotinho a ser considerado inelegível. 
"O candidato ostenta condenação em segundo grau", ressaltou Mussi. 
Os magistrados entenderam ainda que não houve cerceamento de defesa. 
O vice-procurador-geral eleitoral, Humberto Jacques, disse que Garotinho era "sabidamente inelegível". 
Além disso, o TSE avaliou que outra condenação também o impede de ser candidato. Em 2018, o ex-governador foi condenado em segunda instância por calúnia contra o juiz federal Marcelo Leonardo Tavares, a partir de publicações em seu blog pessoale teve seus direitos políticos cassados. Ele não recorreu e o processo foi definitivamente encerrado em março.
A defesa de Garotinho deve recorrer da decisão, no próprio TSE e no STF (Supremo Tribunal Federal). Seus advogados dizem que, por enquanto, aguardam o julgamento de liminares que buscam suspender o efeito de suas condenações. ​
'O QUE ACONTECE CONTRA MIM É UMA VIOLÊNCIA', DIZ GAROTINHO
O ex-governador Anthony Garotinho (PRP) classificou a decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), de indeferir sua candidatura ao Palácio Guanabara, como “uma violência”. 
Garotinho eximiu os ministros do TSE de responsabilidade sobre a decisão que retirou sua candidatura. Afirmou que os magistrados julgaram com base nas informações enviadas pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Rio de Janeiro, que ele considera “contaminado”.
“Tenho certeza de que com o processo em mãos, o STF não permitirá essa violência. O que ocorre contra mim é uma violência. TSE tomou a decisão movido por decisões erradas do TRE-RJ, dominado por alguém que eu denunciei na notícia-crime da Lava Jato: sr. Luiz Zveiter [ex-presidente do Tribunal de Justiça]”, afirmou ele.
Ao mesmo tempo, ele criticou o que considerou celeridade na decisão sobre seu caso. Vinculou a julgamento ao seu crescimento na última pesquisa Ibope, em que subiu quatro pontos percentuais e empatou com o senador Romário (Podemos) em segundo lugar, ambos com 16%.
“Não querem que eu seja candidato? Fizeram esse julgamento para me tirar do debate de amanhã? Querem parar a investigação da Lava Jato no RJ porque denunciei pessoas poderosas? Entrou em pauta porque subi nas pesquisas? É melhor assumir”, disse ele.
O ex-governador afirmou, ainda, que o caso não poderia ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa porque a decisão não apontou enriquecimento ilícito de sua parte. O procurador Sidney Madruga, contudo, entendeu que o acórdão do tribunal aponta enriquecimento ilícito de outro envolvido no caso.
MESMO COM CANDIDATURA INDEFERIDA, GAROTINHO ESTARÁ NAS URNAS
Ainda que considerado inelegível pelo TSE, Garotinho estará nas urnas no dia 7 de outubro.
Isso porque, segundo o TRE-RJ, já foi feito o processo de inseminação das urnas, não sendo mais possível excluir o candidato. Sua situação constará como "indeferido com recurso" e os votos a ele serão considerados nulos, a menos que a decisão do TSE seja revertida.
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MORRE JOAQUIM RORIZ

Do  G1, DF
O ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz morreu às 7h50 desta quinta-feira (27), após um choque séptico decorrente de complicações de infecção pulmonar. Ele tinha 82 anos. A informação foi confirmada pela família e pelos médicos.
A previsão é de que o velório de Roriz comece às 15h desta quinta, no Memorial JK, no centro de Brasília. O local foi escolhido pela viúva, Weslian Roriz. Às 9h de sexta (28), será rezada uma missa no monumento. O enterro será às 11h, no Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul.
Roriz estava internado no Hospital Brasília desde 24 de agosto, após sofrer um quadro de pneumonia e febre.
 Nesta quarta (26), o quadro clínico do ex-governador piorou. Segundo familiares, ele sofreu um infarto à tarde e duas paradas cardíacas e respiratórias no fim da noite, além de enfrentar um quadro infeccioso. Nas primeiras horas da noite, um padre foi chamado para ministrar a extrema-unção, sacramento ligado à tradição católica.
Nos últimos anos, Roriz lidava com diversas doenças crônicas como diabetes, mal de Alzheimer, demência, hipertensão e insuficiência renal (veja detalhes abaixo). Ele deixa a mulher, Weslian, três filhas – Jaqueline, Liliane e Wesliane –, quatro netos e um bisneto.
Roriz nasceu em 4 de agosto de 1936, em Luziânia (GO), e iniciou a carreira política na cidade goiana, onde foi vereador. Antes de iniciar a vida em Brasília, foi eleito deputado estadual (1978), deputado federal (1982) e vice-governador do estado de Goiás (1986). De 1987 a 1988, foi prefeito da capital, Goiânia, como interventor.
No mesmo dia em que deixou a prefeitura de Goiânia, em 17 de outubro de 1988, Roriz se tornou governador do Distrito Federal, indicado pelo então presidente do país, José Sarney. Na época, o DF não tinha o direito de eleger seu governador pelo voto direto.
Ele permaneceu no cargo até março de 1990, quando assumiu o Ministério da Agricultura nas duas primeiras semanas do governo de Fernando Collor. Nos quase 18 meses em que foi governador biônico do DF, ele foi acusado pelos adversários políticos de ter distribuído lotes a eleitores, já de olho na disputa direta pelo cargo em outubro de 1990.
Roriz voltou ao Palácio do Buriti em março de 1991 – desta vez, como o primeiro governador eleito da nova capital. A vice na chapa era Márcia Kubitschek, filha de Juscelino.
O político também foi eleito governador do Distrito Federal nas eleições de 1998 e 2002. Nesse período, inaugurou a primeira linha de metrô da capital federal e a Ponte JK, um dos principais cartões postais da cidade.
Saúde
O quadro de saúde de Roriz era considerado grave há pelo menos um ano. Em agosto de 2017, o ex-governador amputou dois dedos do pé e, dias depois, a perna direita na altura do joelho. O procedimento foi motivado por complicações do diabetes, descoberto há 30 anos.
Roriz também sofria de insuficiência renal, que o obrigava a fazer hemodiálise todo dia, em casa. Nos últimos meses, o político era levado mensalmente a hospitais particulares do Lago Sul, para exames e monitoramento das funções vitais.
Em abril deste ano, Roriz voltou a ser internado em leito semi-intensivo – desta vez, com quadro de pneumonia. A situação se repetiu em agosto e, desde então, o governador não recebeu alta novamente.
Em fevereiro, laudo do Instituto Médico Legal confirmou que Roriz tinha quadros de “mal de Alzheimer em estágio avançado” e “demência vascular”. No documento, constava que o político não tinha esboçado reação nos testes de estado mental.
Em depoimento ao IML, Weslian Roriz disse que os primeiros sintomas começaram há oito anos, e se agravaram desde 2015. Na descrição feita à época, disse que o marido “não sabe lidar com dinheiro, não realiza tarefas domésticas, ‘não sabe o que acontece na política’ e chama pela mulher com frequência, ao longo do dia”.
Importância política
Em 2015, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) – antigo opositor político – prestou homenagem a Roriz, a quem chamou de “governador que mais marcou a vida de Brasília”. Naquele momento, Roriz já estava em uma cadeira rodas e, em razão da saúde frágil, fez apenas um breve discurso ao receber o título de cidadão honorário de Brasília.
"Eu me sinto muito emocionado quando vejo essa casa, construída em homenagem a JK, cheia de gente. A emoção de me tornar cidadão de Brasília, essa cidade que me acolheu e que me permitiu viver os melhores momentos da minha vida. Não tenho muito o que falar.”
“O que consegui realizar, os amigos que fiz ao longo dos anos, falam por mim", disse Roriz, amparado por aliados históricos do clã.
Trajetória conturbada
Paralelo ao sucesso nas urnas, Roriz protagonizou uma sucessão de escândalos na política do DF. Já no quarto mandato, após a eleição de 2002, Roriz deixou o governo para se candidatar ao Senado.
Eleito com 113 mil votos, ele renunciou após cinco meses no cargo, em julho de 2007, para evitar um processo de cassação por quebra de decoro no Conselho de Ética do Senado.
De acordo com as investigações da Polícia Civil na operação Aquarela, Roriz foi gravado ao telefone com o ex-diretor do Banco de Brasília (BRB) Tarcísio Franklin de Moura, negociando a partilha de R$ 2,2 milhões sacados em uma agência da instituição.
O episódio ficou conhecido como “Bezerra de Ouro” porque Roriz afirmou que o valor se referia à compra do embrião de uma bezerra de raça, em São Paulo.
Durante a operação, Moura e outros citados foram presos pela Polícia Civil. O grupo foi acusado de lavagem de dinheiro e fraude em licitações, entre outros crimes.
Em 2017, Roriz deixou de ser réu por formação de quadrilha e peculato porque os crimes prescreveram. Além da demora para a conclusão do caso, Roriz recebeu o direito à atenuação de pena por ter mais de 80 anos.
Candidatura derrubada
No último movimento político como protagonista, em 2010, Joaquim Roriz chegou a lançar candidatura ao governo do Distrito Federal, buscando um quinto mandato no cargo. A tentativa foi vetada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) com base na lei da Ficha Limpa.
A coligação “Esperança Renovada” indicou como substituta a mulher dele, Weslian Roriz. Ela disputou o segundo turno contra o candidato do PT, Agnelo Queiroz, mas recebeu 33,9% dos votos e foi derrotada.
No último dia de campanha, o clã Roriz empregou todos os minutos do programa eleitoral em direitos de resposta.
Caixa de Pandora
Joaquim Roriz também foi investigado na Operação Caixa de Pandora. A ação foi deflagrada pela Polícia Federal (PF) em 2009, com base na delação do ex-secretário de Relações Institucionais do DF Durval Barbosa. O escândalo também ficou conhecido como "Mensalão do DEM”.
Em fevereiro de 2016, Joaquim Roriz e Arruda foram condenados por improbidade administrativa pelo envolvimento no esquema de corrupção. As defesas recorreram, e um pedido de perícia nos gravadores usados por Barbosa travou o processo por dois anos. Em agosto, a suspeita de fraude foi descartada.
Legado político
Já fora da vida pública, Roriz deixou como principais herdeiras do legado político duas das três filhas: Liliane e Jaqueline. Atualmente, os três estão inelegíveis com base na Lei da Ficha Limpa.
Jaqueline foi flagrada, em vídeo, recebendo dinheiro das mãos de Durval Barbosa no mensalão do DEM. Eleita deputada federal em 2010, foi denunciada por quebra de decoro no Conselho de Ética da Câmara – o plenário rejeitou o processo em votação secreta.
Em 2014, no entanto, Jaqueline foi condenada por improbidade administrativa ligada ao caso, e virou “ficha suja” junto com o pai. Naquele ano, oito membros do clã Roriz se inscreveram nas eleições, mas apenas Liliane Roriz foi eleita.
Como distrital, Liliane denunciou um suposto esquema de propina na Câmara Legislativa do DF para privilegiar empresas de saúde que tinham faturas a receber do governo. Atualmente, cinco distritais são réus na operação Drácon, ligada à denúncia – Liliane não é acusada.
A deputada, no entanto, está inelegível porque foi condenada por compra de votos e falsidade ideológica na campanha de 2010. Liliane recorreu, mas não se candidatou para as eleições deste ano.
Veja mais notícias sobre a região no G1 DF.
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MAIS UM PETARDO DO GENERAL

Da VEJA
O candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), general Hamilton Mourão (PRTB), criticou, em palestra na Câmara de Dirigentes Lojistas de Uruguaiana (RS), na última terça-feira, 25, o pagamento de 13º salário e o pagamento do adicional de férias no Brasil. Para o general reformado do Exército, os direitos trabalhistas são “jabuticabas” — isto é, ocorrem só no Brasil e em mais nenhum outro país do mundo. Mourão defendeu uma “implementação séria da reforma trabalhista”.

Temos algumas jabuticabas que a gente sabe que é uma mochila nas costas de todo empresário. Jabuticabas brasileiras: 13º salário. Se a gente arrecada doze, como é que nós pagamos treze? É complicado, e é o único lugar em que a pessoa entra em férias e ganha mais, é aqui no Brasil. São coisas nossas, a legislação que está aí, é sempre aquela visão dita social, mas com o chapéu dos outros, não é com o chapéu do governo”, disse o militar reformado

Após VEJA revelar a declaração de Hamilton Mourão em Uruguaiana, Jair Bolsonaro desautorizou o vice por meio de sua conta no Twitter. “O 13° salário do trabalhador está previsto no art. 7° da Constituição em capítulo das cláusulas pétreas (não passível de ser suprimido sequer por proposta de emenda à Constituição). Criticá-lo, além de uma ofensa à [sic] quem trabalha, confessa desconhecer a Constituição”, escreveu o presidenciável.
Hamilton Mourão também criticou o pagamento de imposto sindical, extinto pela reforma trabalhista aprovada pelo Congresso em 2017. “Sabemos perfeitamente o custo que tem o trabalhador essa questão do sindicato, do imposto sindical, em cima da atividade produtiva, é o mais custo que existe”, disse Mourão.

Na palestra na cidade gaúcha, Hamilton Mourão defendeu um ajuste fiscal com “disciplina fiscal”. “Terá que ser produzido um ajuste fiscal, se não for produzido um ajuste fiscal o governo vai fechar. Isso vai importar em sacrifício de toda ordem, quem está dizendo que vai ser anos maravilhosos logo no começo está mentindo escandalosamente para a população”, afirmou ele, que propôs “enxugamento do Estado”, “liberalização financeira”, “desregulamentação”, abertura comercial e revisão progressiva de desonerações.

Sobre a ideia de Paulo Guedes, economista escolhido por Jair Bolsonaro para um superministério da Economia, de criar um imposto aos moldes da CPMF, o imposto do cheque, Hamilton Mourão disse que “é um imposto que vai tributando em cascata. Para que ocorra algum tipo de imposto dessa natureza, os outros têm que ser abaixados”.

Ao falar sobre juros e por que, na sua visão, “o capital custa caro” no Brasil, Mourão comparou os brasileiros à cigarra da fábula A Cigarra e a Formiga e afirmou que há pouca poupança no país. “Nós somos um país de poupança baixa, o brasileiro poupa pouco, nós somos muito mais cigarras do que formigas, infelizmente”, lamentou.
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AMEAÇA RELATADA

Da Folha de S.Paulo
Cinco brasileiros que vivem na Noruega e conviveram com Ana Cristina Valle, ex-mulher de Jair Bolsonaro (PSL), confirmaram à Folhao relato que consta em documento oficial do Itamaraty, redigido em 2011.
O registro diplomático informa que ela afirmou ao vice-cônsul naquele país que havia sido ameaçada de morte pelo ex-marido e que por isso havia fugido do Brasil.
O caso foi revelado pela Folha, nesta terça (25). Logo após a publicação da reportagem, Ana Cristina divulgou vídeo nas redes sociais no qual negava ter falado sobre o assunto com a embaixada brasileira, rechaçava ter sido alvo de qualquer ameaça e defendia Jair Bolsonaro, atacando a imprensa. 
Dos cinco brasileiros que aceitaram falar com a reportagem, quatro disseram que só o fariam sob anonimato, com medo de represália. Uma decidiu se identificar. 
Simone Afonso, ainda reside na Noruega e conta que conheceu Ana Cristina em 2009, quando ela deixou o Brasil. 
“Ela tentou asilo político aqui, o que foi negado pelo departamento de imigração local. Dizia que estava sendo ameaçada pelo ex-marido, o Jair Bolsonaro, que ele havia tirado a guarda do filho dela”, contou. 
“Todo mundo aqui em Oslo sabe que o discurso dela era: estou aqui por medo do meu ex-marido”, continuou. “E se você quiser, a gente pode fazer uma lista de pessoas daqui que sabem dessa história.”
As outras quatro testemunhas relatam o caso da mesma forma. Segundo elas, Ana Valle, como ela é conhecida por lá, chegou à Noruega muito fragilizada e se aproximou de um grupo de brasileiros. 
Segundo os relatos dos brasileiros, ela costumava repetir que a “minha cabeça vale R$ 50 mil”. Como não tinha fluência na língua local e falava com dificuldade o inglês, Ana dependia das pessoas que acabara de conhecer.
Simone Afonso contou que Ana chegou a morar na casa de um brasileiro em Oslo. Fernando Xavier, disse ela, teria alugado um quarto para a ex-mulher de Bolsonaro até que ela pudesse se estabelecer no país.
Em suas redes sociais, Xavier compartilhou a reportagem da Folhadesta terça (25). “Olha as verdades surgindo do teatro de vampiros!!!! (sic) Chegou ameaçada e ficou anos sem ver o filho!!!”, escreveu. “Eu sou testemunha e muitas outras pessoas da sociedade de Oslo!!!”
Uma das pessoas ouvidas pela Folha disse que, em maio deste ano, Ana Cristina esteve no país afirmando que iria disputar uma vaga de deputada federal pelo Podemos.
Quando ainda morava no exterior, a ex-mulher de Bolsonaro contou aos brasileiros detalhes da disputa judicial que travou com o ex-marido pela guarda do filho do casal, Renan. 
Uma das pessoas com as quais a Folha conversou disse ter enviado para Ana Cristina, no Brasil, a certidão de nascimento com a qual ela conseguiu tirar o filho do país sem a autorização de Bolsonaro —foi isso o que levou o deputado a mobilizar o Itamaraty.
A ex-mulher do presidenciável usou um documento antigo, anterior ao reconhecimento da paternidade. Nele, apenas seu nome constava como responsável pelo menino. Essa mesma pessoa diz que presenciou a ligação do vice-cônsul que consta no telegrama reservado arquivado no Itamaraty. 
REAÇÕES
O vídeo em que Ana Cristina Valle nega a ameaça de morte relatada ao Itamaraty e revelada pela Folha está sendo compartilhado entre os brasileiros que conviveram com ela na Noruega. De acordo com os relatos, ninguém entende o apoio repentino ao ex-marido, de quem ela dizia que tinha medo. 
Muitos deles foram até as redes sociais dela para questioná-la. Dizem que quem conviveu com ela sabe do que chamam de história verdadeira. “Por que, de repente, ela está apoiando a candidatura?”, pergunta Simone Afonso. “Ninguém que é ameaçado de morte quer depois carregar o sobrenome dessa pessoa.”
Ana Cristina foi procurada para comentar os relatos, mas não respondeu até o fechamento desta reportagem. No vídeo publicado na terça para rebater a reportagem da Folha, ela disse que estava indignada. “Venho aqui muito indignada desmentir a suja Folha de S.Paulo, que publica que o Jair me ameaçou de morte. Nunca.”
“Pai do meu filho, meu ex-marido. Ele é muito querido, por mim e por todos. Ele não tem essa índole”, ela disse. “Espero que vocês acreditem que essa mídia suja só quer denegrir a imagem dele, porque ele está em primeiro lugar nas pesquisas e assim vai ficar.”
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quarta-feira, 26 de setembro de 2018

APOLOGIA À TORTURA

Um dos filhos do candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro (PSL), o vereador Carlos Bolsonaro publicou em suas redes sociais uma foto em referência ao movimento #Elenão, criado por mulheres contrárias ao presidenciável, com uma simulação de tortura. A foto foi publicada nos stories do vereador no Instagram na noite de terça-feira, 25.
A “brincadeira” mostra um homem amarrado, com o rosto ensanguentado e a cabeça dentro de um saco plástico, e no peito está escrito #EleNão. A imagem tem ainda uma frase “sobre pais que choram no chuveiro”, em uma referência de pais que sentem vergonha de seus filhos por serem homossexuais. Na sequência, a foto publicada é uma de seu pai com a hashtag #EleSim.
Originalmente, a publicação da “tortura” é do perfil no Instagram @direitapvh, que traz postagens críticas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e homenagem ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
A reportagem ainda não conseguiu contato com o vereador. Em seu Twitter, ele se posicionou oficialmente no início da tarde: “Novamente inventam como se eu tivesse divulgado uma foto dizendo que quem escreve a hashtag #elenao mereceria alguma maldade. Não, canalhas! Foi apenas a replicação da foto de alguém que considera isso uma arte. Me agradeçam por divulgar e não mintam como sempre”, disse.
Carlos Bolsonaro
@CarlosBolsonaro
 Novamente inventam como se eu tivesse divulgado uma foto dizendo que quem escreve a hashtag #elenao mereceria alguma maldade. Não, canalhas! Foi apenas a replicação da foto de alguém que considera isso uma arte. Me agradeçam por divulgar e não mintam como sempre! Segue a verdade:
Do Estadão Conteúdo, via ISTOÉ
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AMEAÇA DE MORTE

Da Folha de São Paulo

BRASÍLIA Ex-mulher do candidato à Presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro, Ana Cristina Valle afirmou ao Itamaraty em 2011 que foi ameaçada de morte por ele, o que a levou a deixar o Brasil. O relato consta de um telegrama reservado arquivado no órgão, ao qual a Folha teve acesso. Na época Bolsonaro e Ana Cristina travavam uma disputa judicial no Rio de Janeiro sobre a guarda do filho do casal, então com cerca de 12 anos.
“A senhora Ana Cristina Siqueira Valle disse ter deixado o Brasil há dois anos [em 2009] ‘por ter sido ameaçada de morte’ pelo pai do menor [Bolsonaro]. Aduziu ela que tal acusação poderia motivar pedido de asilo político neste país [Noruega]”, diz o telegrama.
Em outro trecho do documento, Ana Cristina disse considerar que, ao procurá-la, o vice-consulado do Brasil na Noruega “estava agindo em nome do deputado federal Jair Bolsonaro”.
O mesmo telegrama havia sido liberado à Folha pela Lei de Acesso à Informação, porém com esses e outros trechos cobertos por tarja preta. Duas fontes ouvidas pela reportagem e o então embaixador, Carlos Henrique Cardim, que assina os textos, confirmaram a íntegra dos documentos.
Atualmente Ana Cristina, ex-servidora da Câmara Municipal de Resende (RJ), usa o sobrenome “Bolsonaro” e é candidata a deputada federal pelo Podemos. Ela disse apoiar a candidatura do ex-marido ao Planalto e considerou “superado” o episódio na Noruega, apesar de ter admitido ter sido pressionada por ele à época.
Conforme a Folha revelou no domingo (23), Bolsonaro mobilizou o Itamaraty, em 2011, como deputado federal, para que o órgão intercedesse em seu favor depois que Ana Cristina viajou para a Noruega com o filho do casal.
Segundo o site do Itamaraty e resposta enviada à reportagem, o órgão não pode interferir em assuntos pessoais de brasileiros no exterior. No entanto, em 2011 localizou e manteve contato com Ana Cristina a pedido de Bolsonaro.
A afirmação dela sobre a suposta ameaça de morte consta da íntegra de um telegrama de julho de 2011 enviado a Brasília pela Embaixada Brasileira em Oslo e escrito por Cardim a partir de informações prestadas pelo vice-cônsul naquele país.
Procurado pela reportagem, o diplomata, professor do Instituto de Ciência Política da UnB (Universidade de Brasília), disse se recordar do conteúdo do documento. Ele contou que, em julho de 2011, foi acionado por escrito pelo Itamaraty, em Brasília, e também procurado por Bolsonaro, com quem conversou por telefone. Segundo Cardim, Bolsonaro estava contrariado com o fato de sua ex-mulher ter viajado, sem a sua autorização, com o filho para a Noruega.
Depois da conversa com o deputado, o então embaixador recebeu as informações do vice-cônsul do Brasil em Oslo, que havia entrado em contato telefônico com Ana Cristina. Segundo Cardim, o procedimento “segue uma rotina das embaixadas do Brasil”.
“Foi explicada a ela a legislação do Brasil, da Noruega. E aí ela mencionou para o vice-cônsul que estava pensando em pedir asilo. E que teria dito ao vice-cônsul que sofreu uma ameaça de morte do deputado Bolsonaro. E o vice-cônsul me transmitiu isso”, descreveu o ex-embaixador à Folha.
Cardim disse ainda que, com o telegrama, fez apenas “um relato” da situação. “Não estou aqui [no telegrama] julgando se houve ou não essa ameaça. Só estou registrando o fato que ela falou para o vice-cônsul. E ponto. Lá [embaixada] não é delegacia de polícia. Se ela quiser apresentar uma queixa, ela vai a uma delegacia de polícia no Brasil, apresenta, é outro processo, compreende?”, explicou o diplomata.
A conversa de Ana Cristina com o funcionário do Itamaraty, um oficial de chancelaria que exercia a função de vice-cônsul, ocorreu porque Bolsonaro havia procurado, dias antes, a sede do Itamaraty em Brasília para pedir uma intervenção do órgão a respeito do paradeiro de seu filho.
O vice-cônsul na época era Matheus Henrique Zóqui, que, procurado, não se manifestou sobre o assunto.
Por lei, segundo o embaixador, uma criança só podia sair do país acompanhada de apenas um dos pais desde que houvesse junto uma autorização do pai ou da mãe que não estivesse na viagem.
A íntegra de outro telegrama, agora também obtida pela Folha, mostra que Bolsonaro relatou ao Itamaraty que Ana Cristina havia obtido um passaporte para seu filho “com base em certidão de nascimento expedida antes do reconhecimento de paternidade feito pelo deputado Bolsonaro”. Dessa forma, no documento constaria apenas o nome da criança como Renan Valle, sem o sobrenome do deputado, e, no campo da filiação, não aparecia o nome do pai.  O telegrama não esclarece quando Bolsonaro reconheceu a paternidade do menino.
Na reunião em Brasília, Bolsonaro disse, segundo o telegrama, que seu filho morava há dois anos em sua residência do Rio de Janeiro, “onde frequenta escola e tem sua vida estruturada”. O deputado disse ainda que o gesto da ex-mulher “constituiria falsidade ideológica com intuito de sequestro” e, por isso, pediu a “gestão do Itamaraty para averiguar as condições em que estaria o menor”.
OUTRO LADO
Procurado por meio de sua assessoria, Bolsonaro não havia se pronunciado até o fechamento desta reportagem. Ele está internado no hospital Albert Einstein, em São Paulo, se recuperando de um atentado a faca sofrido em Juiz de Fora (MG) no último dia 6.
Em entrevista à Folha na semana passada, Ana Cristina disse que o deputado estava equivocado porque ela não tinha a intenção de fugir com a criança, e sim passar um período de férias na Noruega porque o menino reivindicava a presença da mãe ao seu lado. Ela disse que a ligação telefônica dada pelo pessoal da Embaixada foi para seu marido norueguês, e não para ela.
“Foi uma pressão que [Bolsonaro] fez. Mas é uma questão de pai, de foro íntimo, entendeu, de família mesmo. Eu achava que ele nem deveria ter feito isso, mas se ele fez... E depois acabou tudo bem, ele tirou a ação [que corria no Rio] e ficou tudo bem. [...] É coisa de pai, que eu respeito ele, porque ele tem um amor fora do comum pelos filhos”, disse Ana Cristina.
Nesta terça-feira (25), novamente procurada pela reportagem, Ana Cristina disse por mensagem de aplicativo de telefone celular que “não falou com nenhum cônsul ou vice”. Indagada se falaria com a reportagem ao telefone, ela respondeu: “Sobre este assunto não tenho nada a dizer”. Questionada se houve ameaças de morte de Bolsonaro contra ela por volta de 2009, ela respondeu que havia conversado com seu marido norueguês e ele “falou que não disse nada disso”. “Acho que vocês estão pegando pesado falando isso”, escreveu Ana Cristina.
Procurado pela Folha nesta terça-feira (25) o Itamaraty informou, por meio de sua assessora, que, “em razão do direito constitucional à privacidade, reafirmado na Lei de Acesso à Informação, o Ministério das Relações Exteriores não se pronuncia sobre questões específicas envolvendo brasileiros no exterior”.
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terça-feira, 25 de setembro de 2018

BOLETIM MÉDICO

Do O GLOBO
O candidato à Presidência do PDT, Ciro Gomes, deu entrada na tarde desta terça-feira no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, após sentir um desconforto na região da bexiga. Segundo integrantes da campanha, o candidato foi submetido a um exame de tomografia com contraste e deve permanecer no hospital por mais algumas horas.
Em nota, a assessoria de imprensa do candidato afirmou que, após exames, Ciro Gomes passou por um procedimento de cauterização de vasos da próstata. A intervenção foi realizado com sucesso pelo médico urologista Miguel Srougi. Por ser um procedimento simples, o presidenciável poderá retornar às suas atividades o mais breve possível.
De acordo com a assessoria de imprensa do candidato, Ciro permanecerá no hospital durante esta noite. O candidato fez agenda na manhã desta terça-feira na Baixada Fluminense e depois viajou para São Paulo.
Na quarta-feira, o candidato do PDT deve participar do debate presidencial que será promovido pelo jornal "Folha de S.Paulo", pelo "SBT" e pelo "UOL". Mais cedo, depois de ver ampliada de oito para 11 pontos percentuais sua desvantagem em relação ao petista Fernando Haddad, que está em segundo lugar, na última pesquisa Ibope, o candidato disse apostar nos três debates de TV que estão marcados até o dia da votação, e no alto índice de mulheres indecisas para ir ao segundo turno da eleição.
O candidato do PDT tem tentado se apresentar como uma alternativa à polarização entre Bolsonaro e Haddad. O ato político de Ciro na Praça do Relógio, em Duque de Caxias, no entanto, foi esvaziado. Havia cerca de 20 militantes o esperando no local e a presença do candidato não atraiu um grande número de pessoas.
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DUELO AO ENTARDECER

Artigo de Fernando Gabeira
‘Satanás, pegue tudo o que é seu e deixe esta nação.” Esta frase do Cabo Daciolo diante da fogueira era apenas um lembrete de que estas eleições parecem um sonho dentro de sonhos.
Posso imaginar o Satanás, posso vê-lo retirando seus pertences como um passageiro após a aterrissagem. Não consigo imaginar o que Satanás tem de carregar, esse tudo o que é seu.
Não tenho tempo para divagar sobre isso. Prefiro esperar a saída dele e, ao me dar conta das coisas que estão faltando, possa concluir que foram levadas por Satanás.
Outro dia, algumas pessoas me xingavam na rede. E não eram as mesmas de sempre. Descobri que foi um delírio do Ciro Gomes.
Numa entrevista a um repórter de esquerda, ele confessou que salvou Lula do mensalão e que para isso falou com várias pessoas. Eu, inclusive. Nunca houve essa conversa. Trabalhava na CPI dos Sanguessugas, que, aliás, foi bastante dura. Ciro contou essa história para impressionar o PT. Já foi punido porque o PT lançou Haddad.
E as pessoas que me xingaram, essas também estão perdoadas porque carregam o fardo cognitivo de acreditar em bravatas de campanha.
Vamos à realidade que também parece um sonho: as pesquisas apontam para um duelo entre dois líderes populares, um na cadeia, outro, no hospital.
Claro que o duelo entre os dois envolve visões diferentes de mundo, conflitantes realidades. Eles apenas encarnam fortes correntes na sociedade
Tanto Lula quanto Bolsonaro, além de suas personalidades, representam também o êxito da comunicação verbal, com seus encantos e defeitos.
São nomes falados em todo o território nacional. Escapam do círculo relativamente pequeno do universo político e se entendem com quem querem se entender.
Às vezes, um milionário, estimulado por marqueteiros, faz uma investida, mas descobre logo que o mar é imenso, quantos não morrem alguns metros além da praia? Ao que tudo indica, os dois personagens encarnam multidões, ávidas por mudanças e pela continuidade.
Depois de anos de dominação da esquerda, a grande interrogação do processo é saber se continua ou dá lugar às forças de oposição que cresceram no combate ao governo petista.
Isso me parece a realidade. Mas, como o processo é imprevisível, o fato de se encarnar em duas pessoas aumenta sua imprevisibilidade.
Tenho a impressão de que essas grandes tendências se movem de uma forma tão autônoma que não vejo espaço para a ação individual detê-la, embora ache que os candidatos devam continuar lutando, os eleitores votando no que acharem o melhor etc.
Mas, por via das dúvidas, creio que o mais prudente é se preparar para uma nova realidade, onde uma dessas forças será a vencedora.
Em termos eleitorais, os moderados foram engolidos pela onda. Isso não significa que não terão importância no futuro. Apesar de tudo, a moderação é a única força capaz de empurrar os vencedores para a ideia de um projeto nacional mais abrangente, superar o clima nostálgico de Guerra Fria que envolve os contendores.
Apesar dos excelentes livros sobre o declínio da democracia, esse enredo foi vivido intensamente no Brasil. O Congresso, de baixo nível, tende a não se renovar. O Supremo se desgastou ao vivo e a cores.
Cabo Daciolo convida para uma luta contra principados e potentados. Adoraria estar junto, mas dificilmente terei tempo na vida real.
O cenário que se desenha não é o melhor para um grande projeto de reconstrução. No entanto, precisamos sair dessa maré. De qualquer forma, a nova conjuntura vai inspirar cuidado. Esta palavra é sempre associada aos mais velhos.
De fato, na juventude, cuidado não era assim tão valorizado. Pura irresponsabilidade? Parcialmente, por acreditar na destruição construtiva, uma vontade de virar a mesa.
Assim como Satanás, segundo o Cabo Daciolo, tem que preparar suas coisas e deixar a nação, fico me perguntando que coisas tenho de juntar para a fase que se aproxima.
Uma delas, certamente, é saber que, apesar de sua decadência, não podemos passar sem a democracia, que, por sua vez, precisa evoluir.
A realidade está aí. É possível se perguntar onde tudo começou, dizer “bem que avisei”, buscar os culpados. Suspeito que não nos dará tempo para divagações. Em outras palavras: apertar os cintos.
Artigo publicado no O GLOBO em 24/09/2018
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segunda-feira, 24 de setembro de 2018

TEM ATÉ EDUCAÇÃO FAKE NA SOBRAL DE CIRO

Da ISTOÉ
Alardeada como uma das principais bandeiras dos Ferreira Gomes no Ceará e usada no discurso do presidenciável Ciro Gomes (PDT) como modelo a ser ampliado para todo o Brasil, a gestão educacional de Sobral e de várias cidades do interior cearense virou caso de polícia. Nas últimas semanas, surgiram denúncias de que os bons índices alcançados no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) não somente em Sobral, cidade administrada pelo irmão de Ciro, Ivo Gomes, mas também em outras cidades próximas, podem ter sido fraudados. O Ideb é o índice que mede a qualidade da educação nos municípios. As denúncias estão sendo investigadas pela Polícia Civil do Ceará, pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Polícia Federal.
De acordo com as acusações, ex-alunos e ex-professores afirmam que visando a elevação dos índices educacionais, principalmente em Sobral e em Itapajé, diretores e professores utilizavam de expedientes como adulteração das notas no Sistema Integrado de Gestão Escolar (SIGE), aliciamento e cooptação de estudantes com melhor desempenho escolar para substituir os de rendimento mais baixo, professores permitindo que os alunos colassem nos testes, entre outras práticas.
Nos programas eleitorais, o exemplo de Sobral tinha servido de plataforma da campanha política de Ciro Gomes. Os números, de fato, impressionavam. Sobral, segundo a propaganda oficial, exibia 30 escolas municipais entre as 100 melhores do Brasil e chegou a um Ideb de 9,1 em 2017. A escalada do Ideb de Sobral começou em 2005. Saiu de 4 naquele ano, pulando para 8,8 em 2015. Na semana passada, porém, esse milagre passou a ser fortemente questionado, depois da denúncia relacionada às fraudes no Ideb ter sido encaminhada ao MPF cearense. Já foi determinado pelo procurador Alexandre Meireles Marques que as Procuradorias da República em Sobral e Itapajé iniciem o processo de apuração. A atuação do MPF vai abranger não somente Sobral, mas também Coreaú e Itapajé, cidades alinhadas ao projeto político dos Ferreira Gomes. A PF do Ceará também já instaurou inquérito e iniciou as investigações. O secretário de Educação de Sobral, Herbert Lima, nega as acusações e as classifica como “fruto de perseguição política do grupo contrário” à administração dos Ferreira Gomes. “Temos uma rede com 22 mil alunos. Esse é um universo muito grande de alunos para que nós tivéssemos esse tipo de capacidade de intervenção direta”, argumenta o secretário.
As fraudes nos exames
Não é o que pensam as autoridades que apuram o caso. Além do trabalho do MPF e da PF, há também uma investigação da Polícia Civil do Ceará, batizada de “Educação do Mal”. A operação apura a suspeita fortemente de manipulação de dados educacionais para majorar o desempenho dos municípios cearenses. De acordo com as conclusões da Polícia Civil, pelo menos 30 alunos que tinham baixo rendimento na Escola Padre Manuel Lima e Silva foram aprovados, mesmo sem ter notas para isso. Durante a operação, foram cumpridos mandados de busca e apreensão na escola. Boletins escolares e diários de classe foram apreendidos e servidores da Secretaria de Educação de Itapajé passaram a ser investigados, acusados de crimes como associação criminosa, inserção de dados falsos em sistemas de informação pública, prevaricação e condescendência criminosa.
Uma das bases do suposto esquema para burlar o Ideb, de acordo com as denúncias, seria a escolha dos melhores alunos em cada unidade escolar para que eles fossem responsáveis por realizar as provas. Um ex-aluno da Escola Maria do Carmo Andrade afirmou em depoimento à PF, na segunda-feira 17, que durante os anos de 2015 e 2016 foi convencido a fazer a Prova Brasil em turmas que não eram originalmente suas. Antônio (nome fictício), de 16 anos, declarou que foi orientado pela coordenação da escola a repassar as respostas a outros alunos que tivessem dificuldades nas avaliações. No depoimento, ao qual ISTOÉ teve acesso, o ex-aluno declarou que foi procurado em virtude de seu desempenho escolar e que “quando fazia as provas em outras turmas, se passava por outros alunos por orientação da coordenadora da escola”.
Um ex-professor da rede pública de Sobral ouvido por ISTOÉ afirmou que foi pressionado por superiores a aprovar alunos que não tinham coeficiente de desempenho suficiente. “Teve um caso de um aluno que tinha nota quatro, mas queriam que eu desse seis para ele. Eu simplesmente me recusei”, disse o docente, que também prestou depoimento. Sobral era tida como referência na educação básica brasileira. Caberá às autoridades esclarecerem se estamos diante de mais um estelionato político.
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A ÚLTIMA AMEAÇA DA AMÉRICA LATINA

Da The Economist
"DEUS é brasileiro", diz um ditado que se tornou o título de um filme popular. A beleza, a riqueza natural e a música do Brasil muitas vezes fazem com que pareça singularmente abençoado. Mas hoje em dia os brasileiros devem se perguntar se, como a divindade no filme, Deus saiu de férias. A economia é um desastre, as finanças públicas estão sob pressão e a política está completamente podre. O crime de rua está aumentando também. Sete cidades brasileiras estão entre as 20 mais violentas do mundo.
As eleições nacionais no próximo mês dão ao Brasil a chance de começar de novo. No entanto, se, como parece muito possível, a vitória for para Jair Bolsonaro, um populista de direita, eles correm o risco de tornar tudo pior. Sr. Bolsonaro, cujo nome do meio é Messias, ou "Messias", promete a salvação; na verdade, ele é uma ameaça para o Brasil e para a América Latina.
Bolsonaro é o último de uma parada de populistas - de Donald Trump na América, a Rodrigo Duterte nas Filipinas e a uma coalizão de esquerda e direita com Matteo Salvini na Itália. Na América Latina, Andrés Manuel López Obrador, um rebelde de esquerda, tomará posse no México em dezembro. O Sr. Bolsonaro seria uma adição particularmente desagradável ao clube (ver Briefing ). Se ele vencesse, poderia colocar em risco a própria sobrevivência da democracia no maior país da América Latina.
Amargura brasileira
Os populistas recorrem a queixas semelhantes. Uma economia fracassada é uma delas - e no Brasil a falha foi catastrófica. Na pior recessão de sua história, o PIB por pessoa encolheu 10% em 2014-16 e ainda não se recuperou. A taxa de desemprego é de 12%. O cheiro de autoflagelação e corrupção da elite é outra queixa - e no Brasil é um fedor. As investigações interligadas conhecidas como Lava Jato (Car Wash) desacreditaram toda a classe política. Dezenas de políticos estão sob investigação. Michel Temer, que se tornou presidente do Brasil em 2016 depois que sua antecessora, Dilma Rousseff, foi impugnada por acusações não relacionadas, evitou julgamento pelo Supremo Tribunal apenas porque o Congresso votou para poupá-lo. Luiz Inácio Lula da Silva, outro ex-presidente, foi preso por corrupção e desqualificado de concorrer às eleições.
O senhor deputado Bolsonaro explorou a sua fúria de forma brilhante. Até os escândalos da Lava Jato, ele era um congressista de sete mandatos do estado do Rio de Janeiro. Ele tem uma longa história de ser grosseiramente ofensivo. Ele disse que não iria violentar uma congressista porque ela era "muito feia"; ele disse que preferiria um filho morto a um gay; e ele sugeriu que as pessoas que vivem em assentamentos fundados por escravos fugitivos são gordos e preguiçosos. De repente, essa disposição de quebrar tabus está sendo tomada como prova de que ele é diferente dos hacks políticos da capital, Brasília.
Para os brasileiros desesperados para se livrarem de políticos corruptos e traficantes de drogas assassinos, o Sr. Bolsonaro se apresenta como um xerife sensato. Cristão evangélico, ele mistura o conservadorismo social com o liberalismo econômico, ao qual ele se converteu recentemente. Seu principal conselheiro econômico é Paulo Guedes, que foi educado na Universidade de Chicago, um bastião de idéias de livre mercado. Ele defende a privatização de todas as empresas estatais brasileiras e a simplificação “brutal” dos impostos. O senhor deputado Bolsonaro propõe reduzir o número de ministérios de 29 para 15 e colocar os generais no comando de alguns deles.
Sua fórmula está ganhando apoio. As pesquisas dão a ele 28% dos votos e ele é claramente o favorito em um campo lotado para o primeiro turno das eleições de 7 de outubro. Este mês, ele foi esfaqueado no estômago em um comício, o que o colocou no hospital. Isso só o tornou mais popular - e protegeu-o de um exame mais minucioso pela mídia e seus oponentes. Se enfrentar Fernando Haddad, o candidato do Partido dos Trabalhadores de esquerda (PT) de Lula no segundo turno no final do mês, muitos eleitores de classe média e alta, que culpam Lula e o PT acima de tudo pelos problemas do Brasil , poderia ser levado em seus braços.
A tentação de Pinochet
Eles não devem ser enganados. Além de suas visões sociais não liberais, Bolsonaro tem uma admiração preocupante pela ditadura. Ele dedicou seu voto para destituir Dilma Rousseff ao comandante de uma unidade responsável por 500 casos de tortura e 40 assassinatos sob o regime militar, que governou o Brasil de 1964 a 1985. O companheiro de chapa de Bolsonaro é Hamilton Mourão, um general aposentado. no ano passado, enquanto estava de uniforme, pensou que o exército poderia intervir para resolver os problemas do Brasil. A resposta do Sr. Bolsonaro ao crime é, na verdade, matar mais criminosos - embora, em 2016, a polícia tenha matado mais de 4.000 pessoas.
A América Latina já experimentou antes misturando políticas autoritárias e economia liberal. Augusto Pinochet, um governante brutal do Chile entre 1973 e 1990, foi aconselhado pelo livre mercado “Chicago Boys”. Eles ajudaram a estabelecer o terreno para a prosperidade relativa de hoje no Chile, mas a um custo humano e social terrível. Os brasileiros têm um fatalismo sobre a corrupção, resumido na frase “rouba, mas faz” (“rouba, mas age”). Eles não deveriam se apaixonar pelo Sr. Bolsonaro - cuja frase poderia ser “eles torturaram, mas agiram”. A América Latina conhece todos os tipos de homens fortes, a maioria deles terríveis. Para provas recentes, olhe apenas para os desastres na Venezuela e na Nicarágua.
Bolsonaro pode não ser capaz de converter seu populismo em ditadura ao estilo de Pinochet, mesmo que quisesse. Mas a democracia do Brasil ainda é jovem. Até mesmo um flerte com autoritarismo é preocupante. Todos os presidentes brasileiros precisam de uma coalizão no Congresso para aprovar a legislação. O senhor Bolsonaro tem poucos amigos políticos. Para governar, ele poderia ser levado a degradar ainda mais a política, potencialmente pavimentando o caminho para alguém ainda pior.
Em vez de cair nas promessas vãs de um político perigoso, na esperança de que ele possa resolver todos os seus problemas, os brasileiros devem perceber que a tarefa de curar sua democracia e reformar sua economia não será fácil nem rápida. Algum progresso foi feito - como a proibição de doações corporativas a partidos e o congelamento de gastos federais. Muito mais reformas são necessárias. O senhor Bolsonaro não é o homem que o fornece.
Tradução via Google
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sábado, 22 de setembro de 2018

CAIXA DOIS

Do O GLOBO
BRASÍLIA — Em acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR) e homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), os executivos da empreiteira Galvão Engenharia relataram que Lúcio Gomes, irmão do candidato à presidência pelo PDT, Ciro Gomes, recebeu R$ 1,1 milhão em dinheiro vivo e captou R$ 5,5 milhões via doações eleitorais oficiais para o PSB em troca da liberação de pagamentos de obras no governo do Ceará durante a gestão de Cid Gomes (2007-2014), outro irmão do presidenciável.
O GLOBO teve acesso à delação de Jorge Henrique Marques Valença, ex-executivo da construtora, homologada em dezembro passado e mantida até hoje sob sigilo. Ele afirma que “havia uma sistemática por meio da qual se conectava a liberação de pagamentos devidos pelo estado do Ceará com financiamento de campanhas e doações oficiais e não-oficiais”.
Segundo Valença, Lúcio “orientava a empresa a procurar diretamente Ciro ou Cid para uma ‘conversa institucional’, na qual deveriam indicar a ordem dos recebimentos das pendencias que deveriam ser cobradas”, diz o delator. A construtora detinha alguns dos principais contratos da gestão cearense, como a Arena Castelão, Eixão das Águas e o Centro de Eventos da capital.
Valença afirma, no entanto, que nunca esteve com Ciro e que o presidenciável e o governador procuravam “dar uma aparência institucional ao serem abordados sobre pagamentos devidos pelo Estado do Ceará à empresa”. Procurado, Ciro Gomes negou a acusação e disse que processará o delator. Cid Gomes não quis se manifestar.
O delator frisou que Lúcio Gomes “fazia questão de sistematicamente verbalizar que não estava vinculando uma coisa com a outra, no entanto expressamente fazia pedidos de doação para as campanhas justamente no contexto de cobranças”. O delator afirma que tratava Lúcio por três pseudônimos nos e-mails da companhia: “LG”, “Tela” e “Tela plana”. Procurado, Lúcio Gomes também negou as acusações, embora reconheça que o partido recebeu doações legais da Galvão.
O caso mais emblemático citado na delação envolve uma negociação, em 2010, para o pagamento de um crédito de R$ 28 milhões relativos à construção do Eixão das Águas. O delator afirma ter sido recebido na casa de Lúcio Gomes, onde ouviu do irmão de Ciro o pedido de R$ 6,4 milhões em espécie para ser empregado nas eleições daquele ano. A empreiteira teria autorizado a negociação e recebeu ao longo do ano seguinte R$ 18 milhões do governo cearense — o saldo de R$ 10 milhões foi prometido para o ano seguinte, mas nunca teria sido pago.
Em função do pagamento apenas parcial, o delator afirma que repassou R$ 1,1 milhão em espécie para Lúcio Gomes. Jorge Valença anexou à delação uma planilha em que discrimina a entrega de seis parcelas entre R$ 150.000 e R$ 200.000, que teriam sido recebidas no apartamento do delator e no escritório da Galvão Engenharia em Fortaleza.
Para corroborar seus relatos, o ex-executivo entregou comprovantes bancários dos repasses oficiais, trocas de e-mails e planilhas internas com o controle da entrega de dinheiro em espécie.
 Em um e-mail, de 16 de dezembro de 2010, a seus superiores na empreiteira, Valença avisa que já havia previsão para o pagamento ser feito e pede que os executivos da empreiteira procurem Cid e Ciro: “Já tem orçamento!!! Só falta ok do governador (Cid Gomes). Estou agindo, mas é importante a ajuda do Mário (Galvão, sócio da empresa e também delator) com o irmão mais velho (Ciro Gomes), que já está no Brasil”. Naquela semana de dezembro de 2010, a imprensa noticiou que Ciro Gomes estava em viagem à Europa e retornaria ao Brasil na quarta-feira 15. O e-mail foi enviado, portanto, no dia seguinte ao seu retorno.
CIRO E LÚCIO DESMENTE
Procurado, Lúcio Gomes confirmou que conhece Jorge Valença e que esteve na empreiteira diversas vezes, mas negou que tenha negociado recursos. “Eu trabalhava na Oi, que vendeu para o consórcio da empreiteira, administrador da Arena Castelão, todo o sistema de bilhetagem, controle de vigilância e telões. Como eu era gerente de vendas, participei de reuniões, mas aí foi uma relação privada privada. Só estive na empresa nesse contexto”, disse Lúcio. Ele confirmou, no entanto, que a Galvão contribuiu legalmente para as campanhas de 2010 e 2012 do PSB no Ceará.
Ciro Gomes também negou as acusações: “Isso é uma completa mentira. Me causa grande constrangimento ver um jornal como O GLOBO, há poucos dias da eleição, reproduzir uma infâmia dessas em cima de uma história de 38 anos de vida pública sem nunca ter me envolvido em nenhum escândalo ou roubalheira. Quem quer que sustente essa calúnia, será por mim processado, como sempre fiz”.
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