Se vivo estivesse, Roberto Campos, completaria 101 anos.
Roberto Campos nasceu em 17 de abril de 1917, em Cuiabá (MT). Campos faleceu em
9 de outubro de 2001, no Rio de Janeiro.
Economista por formação, Roberto Campos foi diplomata,
ocupou os cargos de deputado federal, senador e ministro do Planejamento no
governo Castello Branco.
Biografia
Filho de um professor e de uma costureira, ficou órfão de
pai aos dois anos de idade. Seguindo o desejo da mãe, mudou-se para Minas
Gerais, na cidade de Guaxupé, onde foi estudar Filosofia e Teologia num
seminário católico. Deixou o seminário em 1937, às vésperas de sua ordenação.
Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde, inicialmente, prestou
concurso para escriturário do serviço público, neste concurso foi reprovado por
não saber datilografar. Também tentou o concurso para inspetor de ensino, mas
novamente teve de desistir - desta vez porque os diplomas do seminário não
foram reconhecidos.
Ingressou no serviço diplomático em 1939, trabalhando como
diplomata nos EUA. Fez pós-graduação em Economia pela Universidade George Washington,
e iniciou uma tese de doutorado (Ph.D) na Universidade de Columbia de Nova
York, a qual não chegou a concluir.
Participou, com o decano dos economistas brasileiros Eugênio
Gudin, da Conferência de Bretton Woods, responsável pela criação do Banco
Mundial e do FMI.
Trabalhou no segundo governo de Getúlio Vargas quando foi um
dos criadores do atual Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), do qual foi posteriormente presidente, de agosto de 1958 a julho de
1959 e participou da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos, que estudou os
problemas econômicos brasileiros. Rompeu com Getúlio Vargas e foi designado
para trabalhar no consulado brasileiro em Los Angeles, onde aproveitou para
conhecer profundamente o cinema de Hollywood.
No governo de Juscelino Kubitschek, teve participação
importante no Plano de Metas, sendo um dos coordenadores dos grupos de
trabalhos desse plano. Roberto Campos havia sugerido que se chamasse
"Programa de Metas", sugestão que Juscelino não acatou. Roberto Campos
sugeriu também que se fizesse um plano mais amplo visando combater o déficit
público e equilibrar as contas externas através de uma reforma cambial.
Exerceu os cargos de Embaixador do Brasil em Washington no
governo João Goulart e Londres no governo Ernesto Geisel. Quando embaixador em
Londres, Roberto Campos participou da banca de doutoramento em York do futuro
presidente de Portugal, o professor Aníbal Cavaco Silva.
Apoiou, em 1964, o golpe militar no Brasil, e tornou-se
ministro do Planejamento no governo Castelo Branco. Como ministro, juntamente
com o colega Octávio Gouveia de Bulhões do Ministério da Fazenda, modernizou a
economia e o estado brasileiro através de diversas reformas e controlou a
inflação.
No Governo Castelo Branco, Roberto Campos participou do
grupo que criou: o Banco Nacional da Habitação (BNH), o salário-educação, o
cruzeiro novo, a indexação de preços na economia brasileira através da correção
monetária pelas ORTNs, Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional. Elaborou e
executou uma reforma fiscal através do novo Código Tributário Nacional, Lei nº
5.172, de 25 de outubro de 1966. Liberalizou a lei de remessas de lucros, Lei
nº 4.390, de 29 de agosto de 1964.
Criou, em conjunto com outros, o Banco Central do Brasil, o
FGTS e o Estatuto da Terra. Foi o autor dos artigos econômicos da Constituição
de 1967, a qual foi, nas palavras dele, "a constituição menos
inflacionista do mundo", a qual, entre outros dispositivos
anti-inflacionários, não permitia que o Congresso Nacional fizesse emendas ao
orçamento que aumentassem os gastos públicos da união.
O gosto pelo cinema, desenvolvido no período diplomático
passado na Califórnia, fez com que garantisse as condições para a criação do
Instituto Nacional do Cinema (INC), em 1966. Seu cunhado, o cineasta Flávio
Tambellini, foi o primeiro presidente do INC.
Como ministro foi combatido por governadores, entre eles
Adhemar de Barros e Carlos Lacerda, que eram contra o corte de gastos públicos
que Roberto Campos determinou para combater a inflação.
Roberto Campos teve grande influência na formulação da
política externa do Brasil do governo Castelo Branco através da sua teoria dos
círculos concêntricos.
Posteriormente, Campos tornou-se crítico dos rumos tomados
por duas de suas criações: a correção monetária e o Banco Central do Brasil.
Roberto Campos e Otávio Gouveia de Bulhões, e mais Eugênio
Gudin em 1954, foram os únicos economistas liberais a chegarem aos cargos de
ministros da área econômica desde Joaquim Murtinho que foi ministro da fazenda
de Campos Salles.
Foi senador, por Mato Grosso, pelo PDS, por oito anos
(1983-1991), e deputado federal pelo Rio de Janeiro por duas legislaturas
(1991-1999). Fez um discurso antológico na sua estreia no Senado Federal, que
foi respondido pelo senador Severo Gomes, surgindo, então, uma rivalidade que
marcaria época no Senado Federal.
Votou em Paulo Maluf na eleição indireta para presidente da
República em 15 de janeiro de 1985, argumentando ser adepto da fidelidade
partidária ao candidato do PDS e alegando que o referido candidato adotaria uma
política econômica alinhada aos princípios liberais e privatizantes que
defendia, linha programática que, em sua visão, não corresponderia à
administração do candidato da oposição, Tancredo de Almeida Neves (PMDB), o
vencedor do pleito.
No auge do Plano Cruzado durante o Governo José Sarney,
Roberto Campos foi uma das poucas vozes a criticá-lo.
Sentia-se como sendo o único parlamentar na Assembleia
Nacional Constituinte de 1988 a defender a economia de mercado. Não teve nenhuma
de suas ideias aprovadas quando deputado e senador. Apresentou 15 projetos de
leis no Senado, todos rejeitados, entre os quais, estão projetos propondo:
Livre negociação salarial no setor privado e estabelece
medidas de flexibilização do mercado de trabalho para evitar o desemprego.
Extinguir, como empresas estatais, as que forem
deficitárias, privatizando-as ou liquidando-as.
Estabelecer a livre negociação salarial.
Criar contratos de trabalho simplificados para facilitar
novos empregos.
Terminou o mandato de senador constituinte reclamando da
solidão do liberal no Brasil.
Ao lado de José Guilherme Merquior foi um dos ideólogos do
Governo Collor, chegando a ser fortemente cogitado para ocupar o cargo de
Ministro das Relações Exteriores no início de 1992, acerto que não se
concretizou devido a desacertos políticos entre o PDS e o governo federal.
Porém votou pela sua cassação, quando deixou o hospital onde estava internado
com septicemia e compareceu de cadeira de rodas no Congresso Nacional, seu voto
foi muito aplaudido.
Candidatou-se, à reeleição ao Senado Federal, pelo Rio de
Janeiro, em 1998, perdendo por uma diferença de 5%, para Roberto Saturnino
Braga.
Foi criticado por dar mais importância à Macroeconomia do
que à Microeconomia.
Criou o Banco União Comercial, o qual presidiu e que foi à
falência, em 1974. Este fato teria causado grande prejuízo ao Brasil, pois o
governo federal assumiu o passivo do Banco União Comercial, o qual era estimado
em milhões de dólares, provenientes de empréstimos contraídos, pelo banco, no
exterior. O Banco Central do Brasil ficou com a dívida do banco, junto aos
credores internos.
No governo federal chegou a Ministro do Planejamento. Seus
críticos afirmam que seu papel na criação do BNDES, Banco Central e do BNH, foi
apenas de coadjuvante. Estes afirmam que o Banco Central do Brasil teve origem
em um projeto de lei, apresentado em 1954, pelo deputado federal Ulysses
Guimarães, e que o BNH foi idealizado, exclusivamente, por Sandra Cavalcanti,
seu primeiro presidente.
Seus críticos dizem que foi ausente nas suas atribuições no
cargo de embaixador do governo João Goulart nos Estados Unidos.
Os opositores do liberalismo o criticam por ter sido um dos
maiores defensores do liberalismo econômico no Brasil.
Durante o início de sua carreira, Roberto Campos defendeu a
intervenção estatal na economia desde que ligada ao desenvolvimento conjunto do
setor privado capitalista e sem preconceito contra o capital estrangeiro, o que
lhe rendeu a reputação de entreguista e a apelido (codinome) "Bobby
Fields" dado por adversários que o viam como um americanista.
Fez este tipo de intervenção na economia, quando ministro do
planejamento e no Plano de Metas de Juscelino Kubitschek, onde não se criaram
muitas empresas estatais.
Roberto Campos cunhou as expressões monetarismo e
estruturalismo na década de 1950 para identificar as duas principais visões que
os economistas tinham sobre inflação. Foi crítico da Cepal e dos economistas da
Unicamp. Era crítico também da Reforma Agrária.
Após o governo Castelo Branco, com o progresso do gigantismo
estatal e da burocratização no Brasil durante os governos subsequentes da
ditadura militar, muito especialmente nos governos de Emílio Garrastazu Médici
e Ernesto Geisel, intensificou sua posição aberta de doutrinário liberal
defendendo a tese de que um país só pode ter liberdade política com liberdade
econômica. Criticou fortemente as estatizações de empresas e a criação de novas
empresas estatais pelos seus sucessores no Ministério do Planejamento.
Convenceu-se de que o estatismo é trágico e empobrecedor
quando foi embaixador em Londres, nas décadas de 1970 e 1980, quando acompanhou
de perto o programa de privatização da economia inglesa feito pela primeira
ministra da Grã-Bretanha Margaret Thatcher. Nesse período participou da banca
de doutoramento em economia na Universidade de York do atual presidente de
Portugal Dr. Aníbal Cavaco Silva.
O triunfo do neoliberalismo, termo que ele dizia ser
inexato, na década de 1990, deu-lhe a oportunidade de dizer, no seu livro de
memórias:
Ao morrer, com 84 anos, deixou a fama, entre seus
admiradores, de sempre ter razão de remar contra a maré e ser um liberal
solitário no Brasil.
Combateu, sem o menor apoio e êxito, o monopólio da
Petrobras, que Roberto Campos chamava de Pretrossauro, repetindo a frase do
Presidente Castelo Branco que dizia: "Se é eficiente não precisa do
monopólio, se precisa, não o merece". Sobre Petróleo, Roberto Campos dizia
que "Petróleo é apenas um hidrocarboneto e não ideologia".
Previu em 1982, que a Lei de informática aprovada naquele
ano pelo Congresso Nacional e que era de iniciativa do governo João Figueiredo,
iria condenar o Brasil ao atraso na área de informática, forçando o país a
importar hardwares de países asiáticos.
Ex-keynesiano, mais tarde discípulo do economista austríaco
Friedrich August von Hayek, e lamentava ter perdido tempo com outros autores.
Roberto Campos postulava como Hayek que o Estado deveria ter o tamanho mínimo
possível para o cidadão não se tornar servo dele. Schumpeter também foi um
economista que Roberto Campos admirou já na juventude. Sua tese não concluída
de doutorado teria Schumpeter como "tutor").
Em 1994 diria que sua defesa do dirigismo estatal havia sido
um erro de juventude, "como a gonorreia" - um exemplo da ironia
corrosiva pela qual se tornou conhecido. Sua inteligência nunca deixou de ser
reconhecida até pelos inimigos políticos.
Seus adversários jamais cessaram de dizer que o seu apoio
entusiástico, no início, ao Golpe de 1964, não era consistente com suas defesas
da liberdade política, a não ser que por "liberdade" se entendesse a
liberdade econômica e o fato do país não cair nas mãos do comunismo. Seus
defensores, por outro lado, dizem que Roberto Campos fazia parte do "grupo
castelista" e que, portanto, apoiou só o Governos Castelo Branco e Geisel,
que, segundo seus defensores, foram governos mais liberais. Porém Roberto
Campos foi contra as estatizações e criações de empresas feitas por Geisel, do
qual ele mesmo foi o seu embaixador em Londres.
Sobre o socialismo e capitalismo, ele acreditava que:
" - O princípio axiológico do capitalismo é que o homem
é dono de seu corpo e do produto de suas faculdades e só pode ser privado do
produto dessas faculdades por consenso, contrato, ou pela aceitação de tributos
sujeitos ao crivo da representação democrática. Já o socialismo parte do
princípio de que o homem é proprietário de seu corpo, mas não é proprietário do
uso de suas faculdades. Esse produto pode — e deve — ser redistribuído segundo
determinados critérios ideológicos e políticos para alcançar algo definido como
justiça social… O resultado é que não se otimiza o esforço produtivo. Toda a
tragédia do socialismo é, no fundo, a sub-otimização do esforço
produtivo". (trecho retirado do livro "Conversas com Economistas
Brasileiros").