domingo, 30 de novembro de 2014

'CORAÇÃO VALENTE' FRAQUEJOU DIANTE DOS DERROTADOS DE OUTUBRO

Do blog do Mário Magalhães
Um mês e um dia depois de triunfar nas urnas, Dilma Rousseff confirmou nesta quinta-feira que Joaquim Levy _diretor do Bradesco, sócio de ideias de Armínio Fraga e conselheiro ad hoc do candidato Aécio Neves_ será o próximo ministro da Fazenda.
A presidente não se pronunciou de viva voz. Talvez temesse não ser reconhecida como a candidata com acento de esquerda que conquistou a reeleição.
Assim como os adesivos colados no tapume acima, fotografado hoje de manhã aqui no Rio, vão perdendo o viço e a identidade.
Não parece que a eleição foi ontem ou anteontem, mas que é mais velha do que as novelas reprisadas na TV.
Qualquer cidadão que não cultive o auto-engano ou professe a desonestidade intelectual sabe que a distância entre o discurso da petista na campanha deste ano e a entronização de Levy no Ministério mais importante se assemelha ao abismo entre o Barcelona do Pep Guardiola e o Botafogo do Maurício Assumpção.
Os louvaminheiros não contam, pois a adulação a Dilma estaria garantida fosse o escolhido o economista João Pedro Stédile, dirigente histórico do MST, ou o ex-ministro Pedro Malan, conselheiro do Itaú. É gente sempre disposta a aplaudir, vendendo os argumentos da véspera ao preço de Black Friday ou nem isso.
Portanto, abstenho-me de relembrar, uma vez mais, o que a concorrente Dilma disse sobre a banqueira da campanha de Marina Silva e o ex-futuro ministro da Fazenda de nomeação extemporânea por Aécio Neves.
Que os eleitores de Dilma que a sufragaram por recusar o arrocho mercadista foram feitos de bobos, inexiste dúvida.
A manifestação inaugural de Levy depois de anunciada a indicação antecipou que virá arrocho, embora, moço educado, ele jamais vá empregar tal termo inconveniente.
No entanto, talvez por não me livrar de uma credulidade cristã e às vezes me faltar o ceticismo de ateu aconselhável no jornalismo, prefiro pensar que não houve dolo.
Noutras palavras, que Dilma não fez de caso pensado. O quê? Prometer uma coisa antes do pleito e aplicar outra em seguida.
É seu direito convocar quem bem entender para o governo. É ilegítimo, contudo, declarar antes que rejeitará determinadas ideias e seus arautos e depois implementá-las sob a batuta dos desqualificados de antes.
O que houve a partir da noite de 26 de outubro foi uma pressão equivalente a essas ondas que a Maya Gabeira encara mundo afora.
Não da maioria dos eleitores, que optaram por Dilma e supuseram que no governo reloaded ela faria o que afirmara.
E sim dos vencidos, cujo destacamento de vanguarda foi formado pelos empresários do setor financeiro.
A banca alardeou o caos, e certo jornalismo rebimbou o cenário de iminente fim dos tempos.
Três dias depois do segundo turno, uma primeira página de jornal tinha 14  (isso mesmo: catorze!) chamadas contra o governo federal. Pareceu o regresso à quadra em que João Goulart era o alvo.
Em vez de formar um time na economia com as características da pregação de palanque, Dilma chamou um Armínio Fraga com menos verniz, mas com mais disposição ainda para sufocar os gastos públicos que, num país de desigualdade obscena, promovem um pouco mais de igualdade.
É necessário muito malabarismo retórico para ajustar Joaquim Levy à política que a presidente propagandeara.
Não foi ele quem cedeu, mas ela.
Os brasileiros mais ricos estão em festa com a boa nova.
Na noite de ontem, no “Jornal Nacional'', um dos mais contundentes críticos do governo Dilma exultava. Era Maílson da Nóbrega, o consultor de endinheirados que, na pele de ministro, comandava a economia quando a inflação bateu em 84% num só mês, março de 1990.
Maílson tem mesmo motivos para celebrar. Ele e seus pares perderam a eleição, mas emplacaram o ministro da Fazenda.
Dilma Rousseff, “Coração Valente'' da campanha, fraquejou e prestigiou os derrotados de outubro.
Se supõe que eles se darão por satisfeitos, está enganada: a presidente vitaminou suas pretensões.
O apitou mal trilou. Há muito jogo pela frente. E Kátia Abreu se prepara para entrar no campo…
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MINISTÉRIOS

Charge do Clayton
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LUIZA ERUNDINA, 80 ANOS

A festa hoje é para a grande guerreira que não foge à luta, Luiza Erundina. Sinônimo de competência, coerência e luta pelos direitos humanos.  O trabalho parlamentar de Erundina é uma referência na política nacional. A honestidade e responsabilidade tem norteado a vida pública dessa paraibana que tem uma força e fé inabalável. Erundina nos enche de orgulho, é um ser humano fantástico.
Biografia – Luiza Erundina de Souza, nasceu no dia 30 de novembro de 1934 na cidade de Uiraúna, Paraíba. É a sétima de dez filhos de um artesão de selas e arreios de couro. Começa a trabalhar ainda na infância, vendendo bolos feitos pela mãe.
Repete a 5ª série duas vezes para não parar de estudar, uma vez que a cidade não tinha curso ginasial. Vai morar em Patos, com uma tia, em 1948, para cursar o ginásio. Forma-se em Serviço Social na Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa, em 1967, e segue para São Paulo em 1971 para fazer mestrado na Escola de Sociologia e Política. Luíza Erundina sonhava ser médica, contudo, por dificuldades de ordens diversas, viu-se obrigada a suspender os seus estudos durante nove anos. Mesmo assim, ajudaria a fundar, em Campina Grande, a Faculdade de Serviço Social.
Por vias da militância católica, ela assumiria, em 1958, o seu primeiro cargo público: aos 24 anos de idade, tornar-se-ia diretora de Educação e Cultura da Prefeitura Municipal de Campina Grande. E, em 1964, seria nomeada secretária de Educação e Cultura dessa cidade.
Erundina graduou-se como assistente social, em 1966, pela Universidade Federal da Paraíba; e, em 1970, concluiu o mestrado em Ciências Sociais, pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
Vale registrar que, em Campina Grande, na década de 1970, ela iniciava a sua atuação na esfera política, participando das Ligas Camponesas e fazendo oposição ao Golpe Militar. E que, naquela cidade e período histórico, a participação de mulheres nordestinas, na política, praticamente inexistia. Por essa razão, ela passaria a sofrer perseguições.
Foi em 1971 que Erundina decidiu se transferir para São Paulo em definitivo; e, ainda nesse ano, foi aprovada em um concurso público para assistente social da Prefeitura, indo trabalhar com os nordestinos migrantes nas favelas da periferia da cidade.
É aprovada em concurso para a Secretaria do Bem-Estar Social da prefeitura paulistana e logo depois passa a colaborar com movimentos de periferia que reivindicam moradia e ocupam terrenos públicos abandonados, muitas das vezes em associação com as Comunidades Eclesiais de Base. Em 1980, é convidada pelo então líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva a ser uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores (PT), pelo qual se elege vereadora em 1982 e deputada estadual constituinte em 1986. Em 1985, é escolhida pelo partido para ser a vice-prefeita na chapa do candidato Eduardo Suplicy por ocasião das eleições municipais daquele ano. Suplicy fica em terceiro no pleito, vencido por Jânio Quadros (PTB), mas a expressiva votação recebida pelo PT (cerca de 19% dos votos) impulsiona o crescimento do partido na cidade. Em 1987, já como deputada estadual, é agredida pela Polícia Militar durante uma manifestação de funcionários públicos contra o governo do estado (à época comandado por Orestes Quércia) promovida pelo PT.
Integrante da ala considerada mais radical do PT, ligada ao trotskismo, Luiza Erundina candidata-se em 1988 às prévias do partido para a decisão do candidato à prefeitura de São Paulo nas eleições daquele ano. O outro candidato das prévias é o deputado federal constituinte Plínio de Arruda Sampaio, oriundo do setor majoritário e moderado da legenda e apoiado por suas maiores lideranças: Lula, José Genoíno e José Dirceu. Erundina vence Plínio na disputa interna e se lança, com efeito, à corrida municipal, concorrendo com o ex-prefeito e ex-governador Paulo Maluf (PDS), com o secretário estadual João Oswaldo Leiva (PMDB), apoiado pelo governador Orestes Quércia e pelo prefeito Jânio Quadros, com o deputado federal José Serra (PSDB), com o jornalista e secretário municipal de Jânio, João Mellão Neto (PL), e com o ex-secretário municipal e genro de Jânio Quadros, Marco Antônio Mastrobuono (PTB).
De início em terceiro nas pesquisas eleitorais (atrás de Maluf e Leiva), com uma campanha caracterizada pelos baixos recursos, pela militância pesada do partido nos bairros (sobretudo periféricos, que se converteriam nos grandes redutos eleitorais de Erundina naquele ano) e pelos eloquentes ataques, durante o Horário Eleitoral Gratuito, à administração de Jânio Quadros e aos demais candidatos, vistos todos como representantes dos setores mais conservadores e elitistas da sociedade, Luiza Erundina foi crescendo aos poucos na eleição, beneficiada pela insatisfação generalizada da sociedade com o poder público, pela, à época, diferenciada proposta representada pelo PT, pela alta rejeição a Maluf e pelo baixo cacife eleitoral de Leiva, tido por muitos como um candidato-fantoche. Durante o processo, Erundina ainda agregou o apoio de demais siglas de esquerda, como o PDT e o PCdoB, chegando, na penúltima semana do pleito (na época não havia segundo turno), em situação de empate técnico com Leiva e atrás de Maluf.
A greve na Companhia Siderúrgica Nacional em Volta Redonda, ocorrida nas proximidades da eleição e que terminou com a morte de três operários devido à truculenta ação do Exército, ajudou a opinião pública a se sensibilizar acerca das reivindicações do movimento sindicalista e a rejeitar ainda mais o poder constituído de então. Alguns analistas políticos consideram que a repercussão da greve ajudou na vitória de Erundina em 15 de novembro de 1988, com 33% dos votos válidos, ante 24% de Maluf e 14% de Leiva, desmentindo as pesquisas dos dias anteriores, que davam vitória a Maluf. O próprio candidato do PDS, quando informado da vitória da petista por um jornalista da Rádio Jovem Pan, chegou a declarar que contestaria o resultado da eleição junto ao TRE. Contudo, tal intenção não foi concretizada. Após a totalização dos votos, descobriu-se que a Rede Globo não divulgou uma pesquisa do Ibope, concluída na véspera do dia da votação, que já indicava a vitória de Erundina. As circunstâncias da eleição de Erundina para a prefeitura da maior cidade do país causaram grande impacto, sobretudo pelo alto grau de surpresa, pelo próprio perfil pessoal da nova prefeita (solteira, migrante nordestina e ativa militante de esquerda) e pela significativa mudança em relação ao sistema administrativo outrora constituído.
Trajetória política
Prefeitura de São Paulo
Luiza Erundina foi prefeita do município de São Paulo entre 1989 e 1993, eleita pelo PT.
Na sua gestão elaborou ações importantes nas áreas de educação (os responsáveis pela pasta eram os educadores Paulo Freire e, depois, Mário Sérgio Cortella, reconhecidos internacionalmente) e saúde, como o aumento do salário e da capacitação dos professores da rede municipal, a melhoria na distribuição e qualidade da merenda escolar, a criação dos MOVAs (Movimentos de Alfabetização, centros de alfabetização e instrução de adultos) e a implantação de serviços de fonoaudiologia e neurologia, entre outros, nos postos da cidade, além do desenvolvimento de políticas sociais mais voltadas para a periferia.
A gestão de Erundina colocou a problemática habitacional como prioridade ao apoiar a implantação habitação de interesse social por mutirão autogerido, o que ajudou a diminuir o déficit habitacional no município. A prática do mutirão foi descontinuada por seus sucessores, como Paulo Maluf, os quais priorizaram a construção de edifícios de apartamentos por métodos convencionais, visto que os mutirões proporcionavam um certo nível de organização política aos envolvidos, assim como possibilitavam sua mobilização com relação ao atendimento de suas demandas, o que não ocorria nos projetos habitacionais de Maluf e dos demais prefeitos.
No setor de esportes, junto a seu secretário Juarez Soares, conseguiu trazer de volta a Fórmula 1 para a cidade, abrigando-a no circuito de Interlagos. Na área da cultura (comandada pela filósofa Marilena Chauí) foi responsável pela construção do Sambódromo do Anhembi e pela restauração das grandes bibliotecas do centro da cidade, como a Biblioteca Mário de Andrade. Também sancionou a lei de incentivo fiscal à cultura do município, a Lei Mendonça. Nos transportes públicos investiu na modernização da frota da CMTC e incentivou as empresas particulares a fazerem o mesmo, principalmente através de subsídios governamentais às tarifas. No transporte individual, Erundina foi bastante criticada por não ter dado continuidade em algumas obras viárias de seu antecessor Jânio Quadros, como os túneis sob o Rio Pinheiros e o Lago do Parque do Ibirapuera, empreitadas que foram retomadas por Paulo Maluf.
O ponto mais polêmico de sua gestão foi a tentativa de mudança nas regras da cobrança do IPTU, naquilo que se chamou de "IPTU progressivo": pelo projeto, apresentado em 1992 (último ano de sua gestão), proprietários de imóveis de maior valor teriam um aumento no imposto (ao mesmo tempo em que outros imóveis, isentos da cobrança, voltariam a contribuir), ao passo que imóveis menores teriam os custos diminuídos até a isenção. Tal medida foi duramente rechaçada pela Câmara dos Vereadores (de maioria oposicionista) e por setores da imprensa, até ser derrubada pelo Supremo Tribunal Federal, que considerou a iniciativa da prefeitura inconstitucional. Pela campanha deflagrada contra a atitude da prefeita e pela mesma potencialmente também atingir alguns setores da classe média, a administração de Luiza Erundina sofreu uma sensível queda em sua popularidade.
Durante seu período na prefeitura foi considerada uma das principais lideranças de esquerda no país, mas não conseguiu constituir um sucessor. O candidato de seu partido, Eduardo Suplicy, perdeu as eleições de 1992 para Paulo Maluf. Em 1996, 2000 e 2004, Erundina candidatou-se novamente ao cargo de prefeita, sem obter sucesso em nenhuma delas (apesar de ter disputado o segundo turno em 1996).
Ministra da Administração Federal
Com o advento do impeachment do presidente Fernando Collor, em 1993, logo após dar posse a Paulo Maluf na prefeitura de São Paulo, Luiza Erundina seria convidada, pelo vice de Collor e seu sucessor Itamar Franco (1992-1994), a se tornar ministra-chefe da Secretaria da Administração Federal, dentro dos esforços de Itamar Franco em constituir um governo de coalizão política (coalizão à época chamada de "política de entendimento nacional"), abrigando no primeiro escalão políticos e lideranças de diferentes correntes. Por ter aceitado o cargo, contrariando a orientação do partido, o Diretório Nacional do PT decidiu suspender, por um ano, todos os seus direitos e deveres partidários. Na ocasião, segundo uma nota divulgada pelo PT, a deputada teria rompido com a disciplina partidária, ao não consultar a legenda sobre o assunto, e ao desrespeitar a decisão do partido de fazer oposição a Itamar. Dessa maneira, em 1997 (mesmo após se candidatar pelo partido à prefeitura de São Paulo no ano anterior e ao Senado Federal em 1994), depois de 17 anos de militância, ela sairia do PT, posto que o episódio constituiu um desgaste progressivo seu com as demais lideranças da legenda. Em maio de 1993 deixou a Secretaria da Administração Federal principalmente devido a divergências com o Ministro da Casa Civil, Henrique Hargreaves, sendo substituida pelo general-de-brigada Romildo Canhim.
Saída do PT e entrada no PSB
Em 1998, Erundina transfere-se para o Partido Socialista Brasileiro (PSB); nesse ano, se elege deputada federal para a legislatura 1999-2003. No ano 2000, ela se candidata novamente à Prefeitura de São Paulo, mas perde a eleição para Marta Suplicy (PT). Em contrapartida, é reeleita deputada federal em 2002, para a legislatura 2003-2007, apoiando a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República.
Deputada federal
Em 1994 foi candidata ao Senado ficando em 3º lugar com mais de 4 milhões de votos, sendo derrotada por José Serra (PSDB) e Romeu Tuma (PL). Perdeu a eleição municipal de 1996 no segundo turno para Celso Pitta e, após uma série de desentendimentos com o partido, deixou o PT para filiar-se ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), representando por esse partido, a partir de 1999, o estado de São Paulo no Congresso Nacional em Brasília, como deputada federal.
Em 2002 e em 2006 foi novamente eleita para o posto. Nessas últimas eleições conseguiu obter expressiva votação, ficando entre os quinze parlamentares mais bem votados do estado. Em 2006, quando se reelege, faz oposição ao governo Lula.
Ainda em 2006, Erundina protestou contra o aumento de 91% nos salários dos parlamentares.
Em 2008 foi convidada para ser a vice na chapa encabeçada por Marta Suplicy à prefeitura de São Paulo, o que era de seu interesse, mas não de seu atual partido. O vice da campanha de Marta acabou sendo Aldo Rebelo do PC do B, apesar de o PSB ter decidido apoiar Marta.
Nas eleições de 2010, discorda do apoio de seu partido ao empresário Paulo Skaf para a disputa do governo de São Paulo e consegue, mais uma vez, se eleger para o Congresso Nacional, conquistando assim o quarto mandato seguido como deputada federal, sendo a décima mais votada do estado com 214.144 (1%), à frente de políticos como Arlindo Chinaglia, Márcio França, José Aníbal.
Candidatura a vice-prefeita de São Paulo
Luiza Erundina em anuncio para ocupar o cargo de vice-prefeita na campanha de Fernando Haddad para prefeito de São Paulo.
Em junho de 2012, tornou-se pré-candidata a vice-prefeita de São Paulo na chapa de Fernando Haddad (PT), composição muito celebrada pelo próprio PT por considerar que o nome de Luiza Erundina impulsionaria a campanha, já que Haddad, apesar de ter sido Ministro da Educação de Lula e Dilma Rousseff por mais de 6 anos, ainda era um nome pouco conhecido pela população como um todo. Entretanto, após a aliança do PT com Paulo Maluf e seu Partido Progressista também para a candidatura Haddad, firmada até mesmo com uma visita do ex-presidente Lula à residência de Maluf (em um ato político amplamente divulgado pela imprensa), Erundina anuncia seu declínio à candidatura. É substituída por Nádia Campeão, do Partido Comunista do Brasil. Contudo, Luiza Erundina continua a apoiar o nome de Fernando Haddad nas eleições, que se converteria no vencedor do pleito. 
Conteúdo Wikypedia
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sábado, 29 de novembro de 2014

O PT TUCANOU

Da IstoÉ
Para tirar o País da recessão e disciplinar as contas públicas, a presidente Dilma adota o receituário do PSDB, que tanto criticou na campanha, e anuncia uma composição ministerial com jeito de oposição
Se os símbolos dos partidos políticos retratassem as posições das legendas e dos seus principais representantes, a estrela do PT no segundo mandato de Dilma Rousseff poderia ganhar um bico tucano, símbolo maior do PSDB. Mesmo sob os protestos do seu partido e de aliados fisiológicos, Dilma dá aos primeiros contornos do seu próximo governo uma aparência semelhante ao que seus opositores defenderam durante a eleição. A explicação para a mudança de rumo é simples: a presidente precisa tirar o País do atoleiro em que se encontra. E o sucesso do próximo mandato depende diretamente da retomada do crescimento e do controle dos gastos públicos, que andam desgovernados. Para fazer isso, foi preciso assumir, mesmo que a contragosto, que ela e sua equipe econômica erraram muito nos últimos anos. Ao reconhecer que algumas das propostas defendidas pelo adversário Aécio Neves (PSDB) durante a campanha eram mesmo vitais para a correção de rota, ficou difícil para Dilma fugir de uma composição ministerial com jeito de oposição e se livrar da acusação de ter cometido estelionato eleitoral.
CARTILHA COM PENA E BICO
Joaquim Levy, anunciado como novo ministro da Fazenda, é ligado aos tucanos e um dos defensores do controle fiscal e do arrocho das contas públicas.
Na última quinta-feira 27, a presidente confirmou as expectativas que rondavam o mercado há algumas semanas e oficializou sua nova equipe econômica. Em uma tentativa de reconstruir suas relações com investidores e grandes empresários, escolheu o economista Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. O novo ministro é ligado aos tucanos e participou do governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Ele defende, sem subterfúgios, rigor no controle fiscal e arrocho das contas públicas, propostas que Dilma demonizou durante a campanha.
As ironias que envolvem a escolha não param por aí. Levy mantém relações próximas com Aécio Neves e segue a mesma linha do amigo Armínio Fraga, o economista que montou o plano de governo da área para o PSDB na última eleição. Durante a campanha, Dilma atribuiu a Fraga uma futura culpa pela recessão ou pela falta de comida e emprego para os brasileiros de baixa renda, em um eventual governo tucano. A opção por um ministro alinhado com o grupo do seu maior adversário causou estranheza. “É uma decisão da presidente. É um quadro qualificado, com quem tenho uma relação pessoal. Mas fico com uma expressão usada hoje pelo ministro Armínio Fraga: a indicação de Joaquim Levy é comparável a um grande quadro da CIA ser convidado para comandar a KGB.”
A inclinação de Dilma em direção às ideias da oposição, que ela combateu durante a campanha, ficou evidente também em relação aos juros. A presidente repetiu diversas vezes que as propostas econômicas do PSDB, e a promessa de perseguir o controle da inflação, iriam causar o aumento dos juros e provocar recessão e desemprego. Seus programas e seus discursos demonstravam que essas propostas estavam distantes dos planos do PT. No dia seguinte ao resultado do segundo turno da eleição, no entanto, ela anunciou o reajuste dos combustíveis. Dois dias depois, o Banco Central aumentou as taxas de juros para 11,25%, o maior patamar em três anos. A decisão pegou o mercado de surpresa e evidenciou quão pouco valiam as promessas eleitorais da presidente.
Embora a repercussão da escolha do novo ministro da Fazenda alinhado com as metas fiscais e o controle das contas desperte certo otimismo, ainda há um clima de desconfiança em relação à postura de Dilma, que sempre tentou comandar a política econômica ditando as regras pessoalmente. Agora, Levy assume com a promessa de independência e carta-branca para tomar o rumo de uma sonhada – e ainda improvável – guinada na economia. Em sua primeira aparição pública depois da confirmação de seu nome, Levy, acompanhado do escolhido para o Planejamento, Nelson Barbosa, e de Alexandre Tombini, que fica no Banco Central, deixou claro que é ortodoxo e que vai trabalhar para restabelecer o superávit primário nas contas públicas e atingir uma economia de 1,2% do PIB em 2015. “Alcançar essas metas será fundamental para um aumento da confiança e criará bases para a retomada do crescimento da economia e da evolução dos avanços sociais”, disse Levy.
Em muitos aspectos manifestados depois do resultado das urnas, a presidente reeleita parece outra pessoa. Antes, ela se armava com números – muitas vezes equivocados – sobre a economia, adotava um discurso repetitivo de que não havia descontrole de gastos e que a inflação a 6,5% estava controlada. Agora, sua nova equipe econômica vai promover cortes, trabalhar para puxar a inflação para a meta de 4,5% e adotar as medidas impopulares que a então candidata tantas vezes, em tom de ameaça de quem previa o caos, disse que seus adversários adotariam. Ao escalar seu time, Dilma mostrou que ficou impossível continuar atuando como a personagem que tem o controle de um País próspero, à imagem e semelhança do que era mostrado nos programas eleitorais elaborados pelo marqueteiro de campanha, João Santana.
TENSÃO NO CAMPO PETISTA
Ao convidar Kátia Abreu, um símbolo do ruralismo e dos grandes latifúndios, para comandar o Ministério da Agricultura, Dilma bate de frente com o PT.
As contradições entre o discurso de Dilma e do seu partido e as primeiras medidas que ela adotou depois de eleita despertaram reações em diversos setores que a apoiaram. Um manifesto com mais de 4.500 assinaturas de petistas resume a insatisfação. O texto afirma que é preciso manter a coerência e obedecer ao projeto de governo apresentado durante a eleição. Um dos articuladores do manifesto, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e conselheiro econômico da presidente Dilma, resume o sentimento de quem assina o documento. “O problema é que o projeto de governo que ganhou não vingou. Então, Dilma terminou comprando a versão da política e da economia que os adversários diziam que era a correta. Não vejo isso como um bom sinal. A sociedade não deve ser surpreendida com mudanças nos programas depois das eleições”, opina o economista.
As recentes decisões da presidente Dilma e suas escolhas afinadas com a cartilha da oposição irritaram petistas de todas as correntes. No partido, o sentimento é de que a presidente que assume o segundo mandato segue com o antigo defeito de não dialogar antes de decidir e ignorar as posições do PT sobre diversos assuntos. A incapacidade da presidente de ouvir aliados foi um dos principais empecilhos para a consolidação de alianças em torno do projeto de reeleição. Dilma sofreu resistências dentro do próprio partido e foi obrigada a prometer uma mudança de postura. Coisa que petistas experientes reclamam que não está acontecendo.
Mesmo diante da insatisfação generalizada, poucos militantes de peso admitem publicamente as críticas que fazem nos bastidores à presidente. Raros são os militantes históricos e influentes que levantam a cabeça para marcar posição de resistência às mudanças do segundo mandato. Ex-dirigente nacional, Valter Pomar é um bom exemplo dessa dualidade. Líder da corrente Articulação de Esquerda, ele assina o manifesto em defesa da coerência da presidente reeleita e do respeito ao programa do partido, mas concede: “Dadas a relação de forças no Congresso, as debilidades da esquerda e dos setores populares, para não falar de certas dificuldades estruturais, sabemos que não há condições de fazermos o governo dos nossos sonhos”, diz Pomar. “O que não pode acontecer é acharmos que esta situação difícil é imutável. Para evitar isso, o governo deve ajudar a democratizar a comunicação, ajudar a luta pela reforma política e fazer tudo o que estiver ao seu alcance para manter e melhorar a vida material e cultural da classe trabalhadora”, acrescenta. Pomar agora tem a expectativa de que, depois da escolha da equipe econômica, Dilma nomeie ministros que sinalizem na direção de suas preocupações.
A revolta dos apoiadores de Dilma com a guinada ensaiada para os próximos meses se espalha por outros setores. Na Agricultura, por exemplo, a presidente promove uma incrível coleção de posições divergentes. Em agosto, quando estava em plena campanha, a então candidata participou de uma sabatina na Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Diante de uma plateia lotada de grandes ruralistas e representantes de peso do agronegócio, Dilma não causou entusiasmo com seu discurso. Ela prometeu trabalhar pela “classe média rural” e afirmou que a proposta pleiteada por empresários sobre regulamentação dos contratos terceirizados deveria ser amplamente debatida com trabalhadores. A frieza com que os ruralistas receberam o discurso de Dilma contrastou, dias depois, com o entusiasmo que eles demonstraram na recepção ao candidato Aécio Neves. O tucano foi ovacionado ao defender a proposta de criar um superministério na área e repetir que o agronegócio precisava ter espaço no governo proporcional ao seu tamanho e importância.
Para quem assistiu ao duelo eleitoral, parecia que o cenário era de ideologias partidárias. Dilma, do PT, defendia os ruralistas e suas reivindicações com a cautela de quem representava um partido de esquerda, historicamente ligado a movimentos sociais e às minorias. Às vésperas de anunciar seu novo ministério, o cenário mudou. Dilma se prepara para enfrentar seus aliados e apoiadores por nomear como ministra da Agricultura a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO). A parlamentar é uma grande produtora rural, preside a CNA e é adversária histórica de entidades ambientalistas e dos movimentos sociais que lutam por terras. Ao convidar um símbolo do ruralismo e dos grandes latifúndios, Dilma ignora os apelos do PT e abre espaço para os pleitos da categoria, que antes ela parecia não apoiar. A indicação aumenta, além disso, o clima tenso entre PT e PMDB, que tem na pasta da Agricultura um dos seus feudos e na senadora do Tocantins – neófita no partido – uma concorrente pelo comando da pasta.
Ao se aproximar dos ruralistas nos moldes do que prometeu fazer o PSDB, Dilma deixou em alerta entidades e instituições historicamente aliadas ao PT. Quando percebeu as resistências que se formam nos mais diferentes setores, ela recebeu um grupo de intelectuais no Planalto durante duas horas na semana passada. Ouviu as críticas sem muita paciência, mas prometeu não abandonar as diretrizes que seu partido e aliados defendem. O problema é que a governabilidade construída por ela depende diretamente das forças antagônicas que deram respaldo à sua reeleição. O preço dessas alianças começa a pesar nas costas da presidente e as pressões para manter-se coerente já não surtem efeitos. Ao estilo Dilma, a presidente deixa de lado diretrizes das propostas e das ideias que defendeu ao longo da campanha sem fornecer explicações. Reeleita, dá sinais de que simpatiza com a cartilha tucana – ou de que pelo menos se convenceu de que o receituário do PSDB, tão criticado por ela na campanha, é o melhor caminho agora – e que seu segundo mandato terá menos a cara do PT. A tucanização do PT pode ser a receita para evitar um novo fiasco. O problema é se os próprios eleitores de Dilma começarem a pensar que, se era para copiar o ideário tucano, teria sido melhor ter escolhido o original, e não a imitação. O raciocínio faz todo sentido.
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DEIXA O HOMEM TRABALHAR

Da Época
Foi um anúncio bem ao estilo de comunicação da presidente Dilma Rousseff, repleto de solavancos e  improvisos. Na quinta-feira passada, em Brasília, ela finalmente confirmou a escolha do economista e engenheiro Joaquim Levy, cujo nome já fora “vazado” pelos assessores palacianos dez dias antes, para ocupar o Ministério da Fazenda. Levy, um dos nomes mais respeitados do país na área das finanças públicas, substituirá Guido Mantega, que está no cargo desde 2006 e entrou em aviso prévio durante a campanha eleitoral. Dilma disse que ele sairia do governo numa entrevista coletiva transmitida pela TV em rede nacional. Com Levy, ex-secretário do Tesouro na gestão de Antonio Palocci na Fazenda, Dilma anunciou o resto da equipe que comandará a economia. Fazem parte do grupo o economista Nelson Barbosa, no Ministério do Planejamento, e Alexandre Tombini, que continuará no comando do Banco Central. A nova equipe, com Levy à frente, terá a difícil missão de administrar a “herança maldita”que a Dilma do primeiro mandato deixará para a Dilma do segundo mandato. Com um crescimento próximo de zero, a inflação queimando o teto da meta, fixado em 6,5% ao ano, juros e câmbio em alta e as contas públicas no vermelho, Levy e seus pares não têm tempo a perder.
A grande dúvida é se Dilma deixará de comandar a economia e dará autonomia para Levy, Barbosa e Tombini trabalharem e fazerem o que for preciso para recolocar a economia de volta nos trilhos. Um economista do mercado financeiro que conversou com ele depois de sua indicação afirma que Dilma o deixará trabalhar em paz. Isso foi dito na quinta-feira pelo próprio Levy. “Há uma confiança”, afirmou Levy. “Não tenho indicação nenhuma em sentido contrário.” Para mudar a percepção em relação ao governo e despertar o “espírito animal” dos empresários, que puxará os investimentos e o crescimento econômico, as primeiras ações da nova equipe econômica serão decisivas.
Dilma deverá percorrer o caminho inverso de Lula. Lula começou o governo com austeridade exemplar e foco no controle da inflação. Só abriu os cofres para combater a crise global, em 2008. Dilma gastou demais no primeiro mandato e agora terá de apertar os cintos para recolocar a economia nos trilhos. Terá também de acertar a regulação nos setores de energia elétrica, petróleo e gás, desarranjados no primeiro mandato. Eles precisam atrair grandes investidores para superar os gargalos existentes hoje. Mais que tudo, Dilma terá de recuperar a credibilidade do governo e retomar a confiança de empresários e investidores, aqui e lá fora, perdida nos últimos anos em decorrência da política econômica errática, da “contabilidade criativa” usada para mascarar gastos excessivos e de uma postura relapsa em relação à inflação.
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CAIU A FICHA!

A reportagem de capa da revista Veja desta semana mostra que a escolha de Joaquim Levy para o comando do Ministério da Fazenda traz a perspectiva de uma mudança radical na política econômica, com a previsão de um desejado controle nos gastos públicos e a volta do combate à inflação. É um passo na direção certa. Resta saber como Dilma Rousseff conviverá com ideias diferentes das suas.

Se der autonomia, será mais uma mentira da presidente Dilma a ser desmascarada. Na campanha, Dilma e seu marketing selvagem espalharam o medo da autonomia econômica e acusou principalmente Marina, que, se ex-ministra do Meio Ambiente fosse eleita, estaria entregando a área econômica para banqueiros e os brasileiros ficariam sem alimentos  na mesa. Terrorismo eleitoral.
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O JUIZ QUE SACODE O BRASIL

No topo do caso Petrobras, que investiga o possível desvio organizado de mais de 9 bilhões de reais e está abalando as estruturas institucionais do Brasil, está um juiz federal de 42 anos: Sergio Moro, considerado um dos maiores especialistas em lavagem de dinheiro do país (senão o maior). No último dia 14, ao assinar uma ordem de prisão contra 21 dos membros mais ricos e poderosos do establishment empresarial, ele se tornou também uma das personalidades mais respeitadas e comentadas do país.
Nas ruas de Curitiba, onde o escritório de Moro centraliza as investigações da Operação Lava Jato, o magistrado já é uma figura popular. “Ele é um juiz com impulso, não se detém diante de nada”, afirma o diretor de uma importante emissora local que tenta dissimular seu entusiasmo. Outros jornalistas intervêm para elogiar seu “sentido de justiça”. A crescente reputação de Moro intimida até os advogados de defesa dos 13 empresários ainda presos. “Ele tem muito respaldo na Justiça Federal”, reconhece Pedro Henrique Xavier, advogado da importante construtora Galvão Engenharia SA. Na delegacia da Polícia Federal onde dividem a cela e prestam depoimentos os milionários detidos, os letrados reclamam diariamente porque seus clientes ainda não abandonaram a cadeia. No entanto, seus pedidos de habeas corpus (contra prisões arbitrárias) são sistematicamente negados por outros magistrados. “Ele é um juiz metódico e com muita iniciativa”, admite outro advogado durante um recesso.
Pouco se sabe sobre a vida privada de Sergio Moro que, apesar da sua juventude, é um dos três candidatos a ocupar o lugar deixado por Joaquim Barbosa no Supremo Tribunal Federal (a máxima autoridade judicial do país) este ano. Casado e com dois filhos, apaixonado por ciclismo, Moro nasceu na cidade paranaense de Maringá, onde estudou direito antes de completar a sua formação na Universidade de Harvard (EUA). Doutor em Direito, juiz desde 1996 e também professor universitário, Moro se especializou em crimes financeiros e cursou um mestrado prático no caso Banestado, um processo judicial desenvolvido entre 2003 e 2007, que levou à condenação de 97 pessoas pelo envio ilegais de divisas ao exterior de vários bancos brasileiros. Um dos condenados foi outro cidadão paranaense chamado Alberto Youssef, doleiro de profissão, transformado hoje um elo crucial no caso da Petrobras.
Existe unanimidade de que o caso Banestado foi o passo final na formação de um juiz “justiceiro”, na opinião de uma fonte policial, que também alcançou alguma reputação acadêmica: seu livro Crimes de Lavagem de Dinheiro (2011) é uma referência nacional na área. Moro colaborou inclusive com a juíza Rosa Weber na fase final do caso mensalão, na época o maior caso de corrupção da história moderna do Brasil. Por tudo isso, a Assembleia Legislativa do estado do Paraná prepara-se para conceder o título de Cidadão Ilustre ao juiz.
Adjetivos coletados em várias conversas informais com agentes, advogados e estudantes de Curitiba permitem ver um perfil de juiz teimoso, reservado, técnico, frio (embora educado), extremamente competente, razoavelmente distante dos olhares da imprensa e sem medo de enfrentar figurões. Apesar das críticas feitas pelos advogados dos empresários, atua com cautela: na semana passada, quando a Polícia Federal relacionou José Carlos Cosenzo, atual diretor de Abastecimento da Petrobras, com a corrupção, Moro exigiu provas. Horas mais tarde, a pedido do juiz, a polícia enviou uma nota oficial admitindo o “erro” da menção de Cosenzo, que foi amplamente distribuído pela Petrobras.
O expediente Lava Jato cresce à medida que mais acusados (nove, por enquanto) são adicionados ao esquema das delações premiadas, o que espalha o pânico entre empreiteiros, políticos, diretores da Petrobras e até mesmo banqueiros. O trabalho de Moro, de qualquer maneira, tem uma data de validade: o indiciamento provável de políticos (como reconhece abertamente um fiscal relacionado com o caso). É um segredo bem conhecido que a Polícia Federal está tentando atrasar a imputação de políticos (com foro privilegiado), pois implicaria a imediata transferência do caso para o Supremo Tribunal Federal, localizado em Brasília. “Moro vai seguir o rastro do dinheiro, não importa quem atingir”, insiste outro promotor que prefere o anonimato. “O resto não depende mais dele.”
Esta manobra levou a muitas críticas mais menos explícitas de opinólogos e advogados. Os ataques somam-se às censuras feitas por funcionários do PT durante a recente campanha eleitoral por supostos vazamentos com interesses eleitorais. O advogado Alberto Zacharias Toron da construtora UTC argumenta que Moro incorre em uma forma de “extorsão de confissões e delações [...] Quem colabora é liberado. Quem não cooperar tem a prisão preventiva decretada”. Os escritórios de advocacia mais exclusivos do Brasil estão esperando que o juiz cometa um erro grave o suficiente para impedir ou alterar uma causa “que recai sobre a forma de atuação das elites brasileiras”, observa o analista Adriano Pires: “O sistemático de superfaturamento e subornos”.
Em seu já famoso mandado de prisão do último dia 14, o juiz se referia às declarações da presidenta, Dilma Rousseff, e seu adversário do PSDB-MG, o senador Aécio Neves, que durante a disputa eleitoral defenderam a continuidade da investigação. Moro escreveu: “As chamadas provenientes de duas das principais autoridades políticas do país, localizadas em campos políticos opostos, confirmam a necessidade de resposta institucional imediata para interromper o ciclo delitivo descoberto pelas investigações criminais, tornando inevitável o remédio amargo, isto é, a prisão preventiva.” Para muitos um herói, para outros um “justiceiro” incômodo, ninguém dúvida já que o juiz Moro poderia mudar para sempre o futuro do Brasil a partir de um escritório em Curitiba.
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A INDECÊNCIA NA POLÍTICA

Por Fábio Campos, colunista do O Povo
Na campanha, a propaganda de Dilma Rousseff atacou duramente Marina Silva. A âncora da crítica foi a relação de Marina com Neca Setubal, a educadora que detém menos de 2% das ações do Itau. Reeleita, a presidente resolve convidar o presidente do Bradesco, um dos dois maiores bancos do País, para comandar a economia. Porém, Luis Carlos Trabuco segue a orientação do dono do Bradesco, Lázaro Brandão, e rejeita o convite.
A simples rejeição de um convite de tamanha envergadura já significa uma desmoralização. Nesses casos, é de praxe enviar “embaixadores” para fazer sondagens antes de se efetivar o convite. Afinal, não fica nada bem para o cargo de presidente da República uma resposta negativa.
Mas ela aconteceu.
Mas não ficou apenas nisso. Consta que o comando do Bradesco, para contemplar a presidente, sugeriu o nome de Joaquim Levy, executivo do banco, para o Ministério da Fazenda. Dilma acatou a ideia. O homem que vai assumir o pasta da formulação econômica é de espírito tucano e colaborou informalmente com a campanha de Aécio Neves, o senador que, para a campanha petista, é a encarnação do mal na terra.
Leio no jornal: “Segundo três integrantes do time do tucano e um parlamentar que acompanhou a campanha de Aécio, a linha direta de Levy era com Armínio Fraga, ex-presidente do BC de Fernando Henrique Cardoso e coordenador do programa econômico do PSDB”. Mais: ‘Levy é pupilo do Armínio e foi ouvido na campanha’, disse um aliado da equipe do então presidenciável”.
Ainda tem mais: “O ex-secretário do Tesouro, hoje no Bradesco, foi aluno de Armínio. Os dois mantêm uma relação próxima. Na campanha, Levy trocava ideias com Armínio sobre propostas para a área fiscal. Ele, no entanto, não produziu textos para a campanha nem frequentava pessoalmente reuniões com o grupo de economistas de Aécio”.
A coisa funciona assim: na campanha, digo uma coisa. Convenço mais da metade do eleitorado, transformo em bobos os meus seguidores mais fiéis e de melhor formação escolar, e, no poder, faço extamente o contrário daquilo que preguei. É indecente.
As campanhas eleitorais no Brasil são como um mundo à parte. Elas se transformaram em uma grande e sem vergonha zona franca da mentira. De dois em dois anos, durante três meses, não há nenhum compromisso com a verdade, com a ética, com códigos de honra, com a decência. Tudo pelo poder.
Mas, há consequências. Quando um político investido no mais alto cargo da República encarna esse comportamento é o fundo do poço. Notem: Dilma não era apenas a candidata. Ela era a presidente da República no pleno exercício do cargo, fazendo a ONU de palanque e concedendo entrevistas quase diárias no próprio palácio presidencial.
O País não elegeu um tucano, mas agora terá um no comando da economia brasileira. Notem: quem foi demitido em plena campanha é um petista de referência no âmbito acadêmico. Gostem ou não, é um formulador econômico. Nos meus tempos da Ciências Econômicas da UFC, o curso adotava um livro de capa branca com letras vermelhas chamado A economia política brasileira. Autor: Guido Mantega.
Portanto, a indicação de Levy é uma derrota para o petismo de raiz.
É uma vitória da política econômica de Fernando Henrique Cardoso.
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sexta-feira, 28 de novembro de 2014

ESTRELA COM VAZAMANETO

Charge do Elvis
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ARROCHO ECONÔMICO

A história se repete. Collor disse que Lula, caso eleito, confiscaria a poupança dos brasileiros. Ganhou a eleição, e ele mesmo protagonizou o confisco das cadernetas.
Na recente campanha, Dilma afirmou que a oposição, se vencesse a disputa, promoveria um arrocho na economia.
Mas é a nova equipe econômica, anunciada ontem, que prepara um duro ajuste, de mais de R$ 50 bilhões, e já começa a colocá-lo em prática antes mesmo de tomar posse, algo nunca visto no país.
Nova equipe econômica: Joaquim Levy, assume o Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa é o novo titular do Ministério do Planejamento e Alexandre Tombini continua no Banco Central.
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BLACK FRAUDE ELEITORAL

Os brasileiros receberam outro tipo de black friday. No governo Dilma, a população do país recebeu a black fraude eleitoral.
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quarta-feira, 26 de novembro de 2014

CALCINHA NO PLENÁRIO

A vereadora Lucimara Passos (PCdoB) usou a tribuna da Câmara de Aracaju, nessa terça-feira (25), para fazer um discurso inusitado de crítica ao colega Agamenon Sobral (PP), durante o qual o chamou de "criminoso" e o desafiou a lhe dar "uma surra".
Durante o discurso, a vereadora tirou uma calcinha do bolso, mostrou aos colegas e disse que estava sem a peça íntima em protesto contra o vereador Agamenon - que na semana passada teria chamado de vagabunda uma mulher que quis se casar sem calcinha e teria dito que ela merecia "uma surra".
"Hoje vim com um vestido mais curto. Também trouxe a minha calcinha no bolso. Alguém pode me chamar de vagabunda? Alguém pode dizer que tenho de ser surrada?", questionou, para silêncio da casa.
E questionou os parlamentares: "Os senhores não podem me julgar, nem julgar uma mulher pela roupa que ela veste, em função da calcinha que usa ou se não usa. Isso não define o meu caráter. Será que vão me dar uma surra quando eu descer daqui?".
A vereadora pediu punição ao colega que fez o pronunciamento. "Esse vereador já cometeu aqui vários crimes. Antes de chamar a mulher de vagabunda, dizer que merecia uma surra, disse que ia começar a andar armado, que a população tinha de se armar, que tinha de pendurar bandido de cabeça para baixo. E essa Casa não fez nada para puni-lo; tornou-se conivente com esse vereador; não disse a ele que ele não pode proceder dessa maneira", afirmou.
O discurso da vereadora fez alusão ao dia 25 de novembro, quando é celebrado o Dia Internacional de Combate à Violência contra a Mulher. "Infelizmente, ainda nos deparamos com certo tipo de comportamento desprezível, abominável, que ainda enxerga a mulher como propriedade do homem. Esse é um dos maiores fatores da violência. Enquanto o homem não se libertar desse sentimento, as mulheres serão vítimas", disse.
Em entrevista a veículos de comunicações de Aracaju, o vereador disse que a vereadora estava querendo "aparecer" e pediu para ser investigado. "É direito do vereador contestar. Sobre a Comissão de Ética, quero que seja efetivada porque já cansei de provar várias vezes sobre tudo o que trato aqui. Não tenho medo. A vereadora pode vir para tribuna de calcinha ou sem, como quiser, o problema é dela."
Do UOL, de Maceió
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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

MINISTERIÁVEIS

Charge do Aroeira
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domingo, 23 de novembro de 2014

MACUNADILMA

Artigo de Fernando Gabeira
Dois dias depois do Juízo Final, fui nadar como de costume. Um grupo de torcedores do Flamengo desceu do ônibus e bloqueou o passeio. Eram do Espírito Santo, vieram num ônibus especial. Um deles me olhou com raiva e disse que eu tinha cara de vascaíno. Ele vestia uma camisa vermelha e preta com o símbolo da Alemanha. Um alemão me aporrinhando, pensei, e deixei para cuidar disso, como faço com toda irritação matinal, depois dos 400 metros na água.
A ideia da divisão emergiu na minha cabeça. Estamos divididos. O olhar que me lançou era um olhar de desdém ao vascaíno. O outro dele era o vascaíno com uma série de defeitos que se atribui a ele. Eu mesmo, ao pensar num alemão, no sentido em que se usa nos morros do Rio, fortalecia a ideia de divisão, entre mim e o outro, nós e eles. Passamos por uma campanha eleitoral pesada. O outro do petista era o tucano e vice-versa. Todos falamos em superar a divisão, depois de outubro, e achar saídas para os grandes problemas nacionais.
Entre o lugar onde estamos agora e a ilha onde nos reconciliaremos há um oceano de petróleo, na verdade um petrolão, o maior escândalo de nossa História.
Dilma afirmou na Austrália que seu governo foi o primeiro a combater a corrupção. Jogou o Lula na fogueira, tentando, como um canguru, driblar a tempestade que a ameaça.
Dilma não quis investigar. O que apareceu no escândalo surgiu de um trabalho autônomo da polícia e da Justiça.
Nesse período, Dilma brincou de esconde-esconde. Orientou sua base a boicotar a CPI. Abriu-se um inquérito na Petrobras para apurar denúncias de suborno na compra de plataformas, e constatou-se que nada houve de errado. Inocentes. Na Holanda, a empresa SBM confessou ao governo de seu país que pagou US$ 139 milhões a diretores da Petrobras.
Milhões pra cá, milhões pra lá, um diretor indicado pelo partido na cadeia, o tesoureiro do partido denunciado na delação premiada, a cunhada do tesoureiro levada à PF, tudo isso acontecendo, Dilma e o PT fazem cara de paisagem, como se não fosse com eles.
Nos depoimentos até agora, mais de R$ 200 milhões foram entregues ao homem do PT na Petrobras. O homem é amigo do tesoureiro. Talvez Dilma acredite que esse dinheiro todo foi doado à Africa para combater o surto do ebola. Mas a lógica indica que tenha sido usado nas campanhas políticas. Campanhas caras, de líderes e postes, estes mais caros ainda, porque demandam profissionais para redesenhá-los da cabeça aos pés, passando, naturalmente, pelo cérebro.
Estamos entrando numa tempestade, e a única forma de atravessá-la é admitir as evidências e aceitar que o bloco no poder assaltou a Petrobras.
Isto vale também para as empresas. Os advogados vão orientá-las a negar, embora já existam tantos depoimentos incisivos. No exterior, o conselho óbvio seria admitir o erro, pagar por ele, reformular sua estratégia. A visão macunaímica de que não importam os fatos, mas sim as versões, certamente será superada pelo realismo.
O bloco no poder pensou que isso poderia ser apenas do tamanho do mensalão. Ignorou que estava assaltando uma empresa com vínculos internacionais. Investigam na Holanda, nos Estados Unidos: o cerco está fechado. Dilma e o PT não perceberam que estão no fim da linha. E acabaram de ganhar as eleições. Será preciso muita humildade para sobreviver.
E isso não é o forte de quem quer dobrar a aritmética nas contas públicas, esconde o salto de 122% no desmatamento da Amazônia, põe para baixo do tapete números da redução da miséria.
Tudo por um modelo que preserva o emprego, dizia Dilma. Enquanto isso, 30.283 pessoas perderam seus postos de trabalho no mês em que ela se reelegeu. E como não bastasse o domínio dos números, querem o domínio das mentes: o ministro da Justiça diz à oposição como ela deve se comportar diante do escândalo. Todo um complexo político-empresarial que atrasa o Brasil foi por terra no dia do Juízo Final. Nem precisava de um impulso tão grande: estava podre.
Quando Dilma se distanciou, olimpicamente, do escândalo da Petrobras, lembrei-me do primeiro artigo que escrevi sobre o tema: “Passa passa Pasadena, quero ver passar”. Era o seu título. E veio o petrolão como uma onda gigantesca.
Dilma aprovou a compra de Pasadena “sem ter os dados”. Isso cola no Brasil. Nos Estados Unidos, onde a negociata está sendo investigada, a responsabilidade alcança também os dirigentes. Ao se distanciar do escândalo da Petrobras, Dilma parece acreditar que nasceu de novo nas eleições e vai enfrentar a tempestade com guarda-chuva e galochas do marketing.
Vai se molhar. Há uma crise econômica pela frente. Investidores estrangeiros observam cautelosos. Precisamos deles, inclusive no pré-sal. Não dá para enganar mais e erguer o punho cerrado entrando na cadeia. Já era patética a performance de José Dirceu no mensalão. No petrolão, seria um gesto, num certo sentido, libertador: sair dali para uma clínica psiquiátrica.
Artigo publicado no Segundo Caderno do Globo em 23/11/2014
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EFEITO LAVA A JATO

Charge do Fernando Brum
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sábado, 22 de novembro de 2014

ASSUNTO DE CAPA

As quatro principais revistas do país Veja, Época, IstoÉ e Carta Capital que começaram a circular neste fim de semana, trouxeram - mais uma vez - como assunto de capa a Operação Lava Jato. A prisão dos diretores das maiores empreiteiras brasileiras e seus vínculos com políticos do PT e partidos da base aliada. Até o PSDB, da oposição foi citado na delação premiada.
Época traz o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto como um dos próximos alvos da Operação Lava Jato, pelo número de citações que seu nome aparece nas investigações se soma a delação de um empresário preso que indica o envolvimento dele no petrolão.
O PT e o governo estão apavorados com a possível convocação do tesoureiro do partido pela Polícia Federal e revelar o que sabe sobre o dinheiro desviado no petrolão,  que serviu para abastecer as campanhas petistas e partidos aliados, como delatou um dos presos à PF.
A Veja traz na capa uma reportagem exclusiva, onde revela que a presidente Dilma e o ex-diretor da Petrobrás, Paulo Roberto Costa trocaram mensagens eletrônicas. Segundo a revista, as mensagens eletrônicas de 2009 indicam que Dilma e Lula ignoraram alertas de irregularidades em obras da Petrobras, usadas pelos corruptos do caso Lava Jato.
A revista IstoÉ também traz matéria exclusiva sobre a Operação Lava Jato e revela que a PF concluiu que o dinheiro desviado abasteceu as campanhas de partidos políticos. Documentos apreendidos,  depoimentos e movimentações bancarias mostram que o superfaturamento das obras da Petrobrás entrou oficialmente nas contas eleitorais do PT, PMDB, PP e PTB.  
O assunto de capa da Carta Capital também é a megaoperação da Polícia Federal, mas ao contrário das outras revistas,  afirma que a Operação tem o poder de redimir o Brasil de tantas outras investigações frustradas e punições nunca aplicadas.
A linha editorial da Carta Capital é de esquerda e desde de 2003, com o advento do governo Lula, a revista trilha nesse caminho de defensa do governo federal, seu maior anunciante. Cerca de 85% dos anúncios da publicação de Mino Carta, são do governo federal.
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O "POBRE" DEPUTADO

O deputado federal Alfredo Kaefer (PSDB) tentou obter o benefício de assistência jurídica integral e gratuita alegando ser pobre. O pedido, no entanto, foi negado pela Juíza Gabrielle Britto de Oliveira, após o parlamentar deixar de comprovar no prazo estabelecido a necessidade da solicitação.
A magistrada havia pedido em julho que o tucano comprovasse a pobreza, porque tinha indícios de falsidade de informação. Para que o benefício fosse, então, concedido era necessário apresentação de documentos ou outro meio de prova hábil a comprovar a carência financeira do deputado.
Alfredo Kaefer justificou que, na condição de avalista dos contratos de sua empresa (Diplomata S/A Industrial e Comercial) vem sofrendo diversas cobranças judiciais tendo que arcar com muitas custas processuais. Kaefer também justificou que a única renda que obtém é do cargo de deputado e que o pagamento destas custas (R$ 910) importaria em um desiquilíbrio financeiro que atingiria a manutenção das necessidades da família.
Em seu despacho, a juíza argumenta que o deputado não apresentou qualquer elemento que “fosse capaz de sustentar suas alegações”. Ela também citou o fato de Alfredo Kaefer ter declarado para a Justiça Eleitoral ter 108.581.709,91 em bens, sendo, portanto, o deputado federal mais rico do país.
“A própria natureza da demanda – execução de título extrajudicial onde se pretende a cobrança de diversos contratos firmados pela empresa do embargante e por ele avalizados que ultrapassam a vultuosa quantia de R$ 430.000,00 (quatrocentos e trinta mil reais) – já se mostra conflitante com a concessão do benefício. É evidente que uma empresa que pactua diversos contratos que somam o referido montante possui um considerável faturamento, mais do que suficiente para o pagamento das custas processuais”, destacou a juíza Gabrielle Britto de Oliveira.
Ainda em sua decisão, a magistrada reforça que a Diplomata é uma sociedade de grande porte e que possui diversas filiais também em outros Estados. Gabrielle também grifou decisão da 1ª Vara Cível, onde tramita a recuperação judicial da empresa de Kaefer, em que consta que ele e a esposa, Clarice Roman “realizaram pagamentos espontâneos nos valores de R$ 2.439.700,00 (dois milhões e quatrocentos e trinta e nove mil e setecentos reais) e R$ 2.310.000,00 (dois milhões e trezentos e dez mil reais), respectivamente”.
“Não é crível que uma empresa/grupo econômico que possua a referida dívida astronômica, apesar da situação, tenha um faturamento que restaria prejudicado com o ônus das custas processuais, ou ainda, que um de seus proprietários (embargante), com patrimônio declarado com mais de 100 milhões de reais, teria sua situação financeira abalada pelo pagamento das custas do processo. Seria, no mínimo, total falta de bom senso acreditar nisso”, complementa a juíza.
O deputado federal foi, então, condenado a pagar todas as custas judiciais e teve o pedido de assistência jurídica gratuita indeferido. Esse é apenas um dos processos a que o deputado responde nas Varas Cíveis de Cascavel.
Do CGN
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APOCALIPSE AGORA

Artigo de Fernando Gabeira
Passada uma semana do juízo final, ainda me pergunto cadê a Dilma. Ela disse que as contas públicas estavam sob controle e elas aparecem com imenso rombo. Como superar essa traição da aritmética? Uma lei que altere as regras. A partir de hoje, dois e dois são cinco, revogam-se as disposições em contrário.
Os sonhos de hegemonia do PT invadem a matemática, como Lysenko invadiu a biologia nos anos 30 na Rússia, decretando que a genética era uma ciência burguesa. A diferença é que lá matavam os cientistas. Aqui tenho toda a liberdade para dizer que mentem.
Cadê você, Dilma? Disse que o desmatamento na Amazônia estava sob controle e desaba sobre nós o aumento de 122% no mês de outubro. Por mais cética que possa ser, você vai acabar encontrando um elo entre o desmatamento na Amazônia e a seca no Sudeste.
Cadê você, Dilma? Atacou Marina porque sua colaboradora em educação era da família de banqueiros; atacou Aécio porque indicou um homem do mercado, dos mais talentosos, para ministro da Fazenda. E hoje você procura com uma lanterna alguém do mercado que assuma o ministério.
Podia parar por aqui. Mas sua declaração na Austrália sobre a prisão dos empreiteiros foi fantástica. O Brasil vai mudar, não é mais como no passado, quando se fazia vista grossa para a corrupção. Não se lembrou de que seu governo bombardeou a CPI. Nem que a Petrobrás fez um inquérito vazio sobre corrupção na compra de plataformas. A SBM holandesa confessou que gastou US$ 139 milhões em propina.
E Pasadena, companheira?
O PT está aí há 12 anos. Lula fez vista grossa para a corrupção? Se você quer definir uma diferença, não se esqueça de que o homem do PT na Petrobras foi preso. Ele é amigo do tesoureiro do PT. A cunhada do tesoureiro do PT foi levada a depor porque recebeu grana em seu apartamento em São Paulo.
De que passado você fala, Dilma? Como acha que vai conseguir se desvencilhar dele? A grana de suas campanhas foi um maná que caiu dos céus?
Um dos traços do PT é sempre criar uma versão vitoriosa para suas trapalhadas. José Dirceu ergueu o punho cerrado, entrando na prisão, como se fosse o herói de uma nobre resistência. Se Dilma e Lula, por acaso, um dia forem presos, certamente, dirão: nunca antes neste país um presidente determinou que prendessem a si próprio.
Embora fosse um fruto do movimento de arte moderna no Brasil, Macunaíma é um herói pós-moderno. Ele se move com desenvoltura num universo onde as versões predominam sobre as evidências. Nesta primeira semana do juízo final, pressinto a possibilidade de uma volta ao realismo. É muito aflitivo ver o País nessa situação, enquanto robôs pousam em cometas e EUA e China concordam em reduzir as emissões de gases de efeito estufa. O realismo precisa chegar rápido para a equação, pelo menos, de dois problemas urgentes: água e energia. Lobão é o ministro da energia e foi citado no escândalo. Com perdão da rima, paira sobre o Lobão a espada do petrolão. Como é que um homem desses pode enfrentar os desafios modernos da energia, sobretudo a autoprodução por fontes renováveis?
Grandes obras ainda são necessárias. Mas enquanto houver gente querendo abarcar o mundo a partir das estatais, empreiteiras pautando os projetos, como foi o caso da Petrobrás, vamos patinar. O mesmo vale para o saneamento, que pode ser feito também por pequenas iniciativas e técnicas, adequadas ao lugar.
Os homens das empreiteiras foram presos no dia do juízo final. Este pode ser um caminho não apenas para mudar a política no Brasil, mas mudar também o planejamento. A crise hídrica mostra como o mundo girou e a gente ficou no mesmo lugar. Existe planejamento, mas baseado em regularidades que estão indo água abaixo com as mudanças climáticas.
O dia do juízo final não foi o último dia da vida. É preciso que isso avance rápido porque um ano de dificuldades nos espera. Não adianta Dilma dizer que toda a sua política foi para manter o emprego. Em outubro, tenho 30.283 razões para desmentir sua fala de campanha: postos de trabalho perdidos no período.
Não será derrubando a aritmética, driblando os fatos que o governo conseguirá sair do seu labirinto. O desejo de controlar a realidade se estende ao controle da própria oposição. O ministro da Justiça dá entrevista para dizer como a oposição se deve comportar diante do maior escândalo da História. Se depois de saquear a Petrobrás um governo adversário aconselhasse ao mais ingênuo dos petistas como se comportar, ele riria na cara do interlocutor. Só não rio mais porque ando preocupado. Essa mistura de preocupação e riso me faz sentir personagem de uma tragicomédia.
Em 2003, disse que o PT tinha morrido como símbolo de renovação. Me enganei. O PT morreu muitas vezes mais. Tenho de recorrer ao Livro Tibetano dos Mortos, que aconselha a seguir o caminho depois da morte, sem apego, em busca da reencarnação. Em termos políticos, seria render-se à evidência de que saqueou a Petrobrás, comprou, de novo, a base aliada e mergulhar numa profunda reflexão autocrítica. No momento, negam tudo, mas isso o Livro Tibetano também prevê: o apego à vida passada é muito comum. Certas almas não vão embora fácil.
A crise é um excelente psicodrama: o ceticismo político, a engrenagem que liga governo a empreiteiras, o desprezo pelas evidências, tudo isso vira material didático.
Dizem que Dilma vive uma tempestade perfeita com a conjunção de tantos fatores negativos. Navegar num tempo assim, só com o preciso conhecimento que o velho Zé do Peixe tinha da costa de Aracaju, pedra por pedra, corrente por corrente.
No mar revolto, sob a tempestade, os raios e trovões não obedecem aos marqueteiros. Por que obedeceriam?
O ministro da Justiça vê o incômodo de um terceiro turno. Não haverá terceiro turno, e, sim, terceiro ato. E ato final de uma peça de teatro é, quase sempre, aquele em que os personagens se revelam. Por que esses olhos tão grandes? Por que esse nariz tão grande, as mãos tão grandes, vovozinha?

Artigo publicado no Estado de São Paulo em 21/11/2014 
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sexta-feira, 21 de novembro de 2014

LARGADA QUEIMADA

O acordão realizado entre líderes do governo e da oposição de direita no início desse mês, em Brasília, mostra que nem o PT nem o PSDB querem realmente investigar qualquer coisa do recente escândalo da Petrobrás. E não é por menos, já que esses dois partidos estão envolvidos até o pescoço com as denúncias de corrupção.
Pelo acordo costurado na CPI mista, nem Palocci, Dilma, Lula ou Aécio, e demais políticos do PT ou PSDB, devem ser convocados para prestarem depoimentos. De um total de 497 requerimentos, apenas os que não comprometiam os partidos foram aprovados. A CPI também não aprovou os pedidos de quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico das empreiteiras envolvidas nas maracutais.
O mais recente escândalo da Petrobrás explodiu na chamada "Operação Lava Jato" da Polícia Federal e a prisão do doleiro Alberto Youssef, acusado de lavagem de dinheiro. As investigações apontaram um megaesquema de cartel, superfaturamento e pagamento de propina na Petrobrás e grandes empresas, cujo articulador seria o ex-diretor de Refino e Abastecimento, Paulo Roberto Costa, também preso na operação. Como funcionava isso? As empreiteiras, como a OAS, Odebrecht, Camargo Correa, entre outras, se reuniam, dividiam entre si os contratos com a Petrobrás, superfaturavam os valores e depois deixavam 3% pra propina, que ia pros bolsos dos políticos e pra bancar campanhas eleitorais.
Inicialmente, o escândalo atingiu o PT e partidos aliados como o PP e o PMDB. No entanto, surgiram indícios que o PSDB também se beneficiou com essa farra. Paulo Roberto teria dito em depoimento que o ex-presidente da sigla, Sérgio Guerra, morto em março deste ano, recebeu R$ 10 milhões para esvaziar a CPI da Petrobrás em 2009. Outros políticos tucanos também teriam metido a mão nesse dinheiro.
Esse escândalo mostra que tanto o PT quanto o PSDB se beneficiaram do desvio da Petrobrás e que não estão comprometidos com nenhuma investigação. É cínica e hipócrita o discurso de Aécio cobrando investigação, enquanto por debaixo dos panos faz acordão com o PT. Estão todos comprometidos com o esquema e com as próprias empreiteiras envolvidas, todas grandes doadoras de campanha para ambos os partidos. Dessa forma, Aécio já queima na largada como oposição.
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APOSENTADORIA MARCADA

Ex-presidente da Câmara e um dos políticos de proa em Brasília nos últimos 40 anos, o deputado Inocêncio Oliveira (PR-PE) fez na tarde desta quarta-feira (19) um longo discurso no plenário para marcar a sua aposentadoria.
Com 76 anos e no final do seu décimo mandato consecutivo como deputado, Inocêncio foi um dos líderes da Arena, a sigla de apoio à ditadura militar (1964-1985) e do PFL (hoje DEM) no auge da legenda, durante a gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
"Vou concluir meu mandato parlamentar no sentimento do dever cumprido e aposentar-me pela Previdência Social como qualquer trabalhador brasileiro", discursou o deputado, em uma fala que se estendeu por mais de duas horas devido aos vários apartes de colegas do governo e da oposição.
No discurso, ele exaltou a democracia e enumerou os vários cargos que ocupou em sua carreira política. A mulher, duas filhas e duas netas acompanharam a sessão.
Inocêncio presidiu a Câmara em 1993 e 1994, mas entrou em declínio político após ser derrotado por Aécio Neves (PSDB) em 2001, quando tentava novamente voltar ao comando da Casa.
Apesar disso, desde 1989 o pernambucano ocupou vários cargos na Mesa Diretora, o que lhe rendeu o apelido de "deputado guardanapo", que não sai da mesa.
Após deixar o PFL, o deputado passou ainda pelo PMDB antes de ingressar no PL, hoje PR, sua atual sigla. Ele não conseguiu se manter na Mesa nas eleições internas de 2013 e não disputou a reeleição neste ano. Oficialmente, seu último mandato se encerra no final de janeiro.
Nos últimos anos o deputado vem enfrentando problemas de saúde, como artrose e dificuldades de audição.
Na década passada, Inocêncio foi condenado pela Justiça do Trabalho sob a acusação de manter funcionários em situação análoga à escravidão em uma fazenda no Maranhão. Na parte criminal, o Supremo Tribunal Federal rejeitou a acusação e arquivou o inquérito sobre o caso.
Da Folha de S. Paulo
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MAIS TEMPO PARA CUIDAR

A Comissão Especial da Primeira Infância discutiu nesta quarta-feira, pela primeira vez, emendas para o Projeto de Lei 6.998/2013, que pretende ser o marco legal da primeira infância. Um dos pontos polêmicos do dispositivo é o aumento do tempo de licença-maternidade para um ano e de licença-paternidade para um mês.
Para o autor do projeto, deputado Osmar Terra (PMDB-RS), este é um ponto importante, mas que ainda está sendo discutido pelos membros da comissão. “Não será um gasto a mais para as empresas, é um investimento que vai prevenir muitos problemas futuros, não só para a família, mas para a sociedade toda”, explicou.
O projeto foca em um conjunto de ações para o início da vida, como ampliar a qualidade do atendimento para crianças até 6 anos, com carreira, capacitação e, inclusive, com a criação de novas funções públicas, que cuidem do início da vida, de modo a valorizar o papel da mãe e do pai junto à criança, bem como criar espaços públicos para garantir que as crianças tenham locais adequados para se desenvolver.
Além disso, o projeto prevê a criação de um sistema de avaliação do desenvolvimento da criança, para verificar se o modelo de cuidado está adequado ou precisa ser alterado.
Segundo Terra, a primeira infância começou a ser intensamente pesquisada há cerca de 20 anos, e é durante esse período que a criança desenvolve as estruturas sociais, afetivas e cognitivas. Logo, a atenção deve ser maior para assegurar condições de desenvolvimento saudável.
Segundo o relator, deputado João Ananias (PCdoB-CE), o projeto deve ser votado no dia 2 de dezembro, na Comissão Especial da Primeira Infância. O dispositivo altera a Lei 8,069 - o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Agência Brasil
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quinta-feira, 20 de novembro de 2014

MORRE MÁRCIO THOMAZ BASTOS

O advogado e ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, de 79 anos, morreu na manhã desta quinta-feira (20) no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. A informação foi confirmada pela equipe médica.
Bastos foi internado na terça-feira (18) para tratamento de descompensação de fibrose pulmonar, segundo boletim médico divulgado pelo hospital.
 Bastos foi ministro da Justiça entre 2003 e 2007 durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele era formado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) na turma de 1958 e atuou na acusação dos assassinos de Chico Mendes, do cantor Lindomar Castilho e do jornalista Pimenta Neves.
Durante o julgamento do mensalão, Bastos defendeu ex-dirigentes do Banco Rural e entrou com reclamação contra o então presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, questionando o fato de Barbosa não ter levado pedidos da defesa dos réus para análise do plenário do STF.  O advogado atuou também na defesa do médico Roger Abdelmassih, condenado a 278 anos de prisão por 48 ataques sexuais a 37 vítimas.
Em  1990, após a eleição do presidente Fernando Collor, integrou o governo paralelo instituído pelo Partido dos Trabalhadores como encarregado do setor de Justiça e Segurança.  Em 1992, participou ao lado do jurista Evandro Lins e Silva da redação da petição que resultou no impeachment de Collor.
É fundador do movimento Ação pela Cidadania, juntamente com Severo Gomes, Jair Meneghelli e Dom Luciano Mendes de Almeida. É fundador do Instituto de Defesa do Direito de Defesa.
Do G1, em São Paulo.
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LEMBRANDO CAROLINA MARIA DE JESUS

Nesse Dia da Consciência Negra o blog Sou Chocolate e Não Desisto faz homenagem a grande escritora  Carolina Maria de Jesus. Negra e moradora de favela, Carolina foi catadora de papel, mãe e escritora. O seu diário foi transformado em livro, o Quarto de Despejo – diário de uma favelada,  se tornou um best-seller, sendo traduzido para 13 idiomas e fazendo uma denúncia sócio-política sobre a vida do negro na favela.
O sucesso estrondoso de Quarto de despejo, o livro, motivou Quarto de despejo, o disco. Em 1961, Carolina Maria de Jesus gravou um LP com doze composições, todas de sua autoria. Clique aqui e ouça as 12 faixas.
Carolina Maria de Jesus nasceu em Minas Gerais, em 1914, numa comunidade rural onde seus pais eram meeiros. Filha ilegítima de um homem que já era casado, foi tratada como pária durante toda a infância, e sua personalidade agressiva não fez nada para aliviar a situação.
Quando chegou à idade de sete anos, a mãe de Carolina forçou-a a frequentar a escola depois que a esposa de um rico fazendeiro pagou as despesas para Carolina, bem como outras pobres crianças negras no bairro.
No entanto, ela parou de frequentar a escola pelo segundo ano, mas aprendeu a ler e escrever. Ela mal sabia na época, essas coisas desempenhariam um papel muito importante na sua vida adulta.
A mãe de Carolina tinha dois filhos ilegítimos, o que ocasionou sua expulsão da Igreja Católica enquanto ela ainda era jovem. No entanto, ao longo de sua vida, ela foi uma católica devota, mesmo nunca tendo sido readmitida na Igreja Católica. Em seu diário, ela muitas vezes fez referências bíblicas, e à Deus.
Em 1937 sua mãe morreu e ela foi forçada a migrar para a metrópole de São Paulo. Carolina fez sua própria casa, usando madeira, lata, papelão, e qualquer outra coisa que pudesse encontrar. Ela iria sair todas as noites para coletar papel, a fim de conseguir dinheiro para sustentar a família.
Quando ela encontrava revistas e cadernos antigos, guardava para escrever dentro Ela começou a escrever sobre seu dia-a-dia, sobre como foi morar na favela. Isto irritava seus vizinhos, que não eram alfabetizados, e por isso se sentiam desconfortáveis por vê-la sempre escrevendo, ainda mais sobre eles.
Teve vários casos amorosos quando jovens, embora tenha se recusado a casar-se, por ter visto muita violência doméstica na favela. Ela preferiu permanecer independente. Todos os seus três filhos tinham pais diferentes, um dos quais era um homem rico e branco.
Em seu diário, ela detalha o cotidiano de favelados e, sem rodeios, descreve os fatos políticos e sociais que ordem as suas vidas. Ela escreve sobre como a pobreza e o desespero pode levar as pessoas de alta autoridade moral a comprometer seus princípios, honra, e a si mesmos simplesmente para conseguir comida para si e suas famílias. Não há nenhuma chance de economizar dinheiro, pois quaisquer ganhos extras devem ir imediatamente para pagar dívidas.
O Diário de Carolina Maria de Jesus foi publicado em agosto de 1960. Ela foi descoberta pelo jornalista Audálio Dantas, em abril de 1958. Dantas estava cobrindo a abertura de um pequeno parque municipal. Imediatamente após a cerimônia uma gangue de rua chegou e reivindicou a área, perseguindo as crianças. Dantas viu Carolina de pé na beira do playground gritando "Saia, ou eu vou colocar você em meu livro!" Os intrusos partiram. Dantas perguntou o que ela queria dizer sobre seu livro. Ela se mostrou tímida no início, mas levou-o para seu barraco e mostrou-lhe tudo. Ele pediu uma amostra pequena e correu no jornal. A história de Carolina "eletrizou a cidade" e, em 1960, Quarto de Despejo, foi publicado.
A tiragem inicial de dez mil exemplares se esgotou em uma semana (a wikipédia gringa diz que foras trinta mil cópias vendidas nos primeiros 3 dias). Embora escrito na linguagem simples e deselegante de uma favelada, seu diário foi traduzido para treze idiomas e tornou-se um best-seller na América do Norte e Europa.
Mas não foi somente fama e publicidade que Carolina ganhou com a publicação de seu diário, mas desprezo e hostilidade de seus vizinhos. "Você escreveu coisas ruins sobre mim, você fez pior do que eu fiz", gritou um vizinho bêbado. A chamavam de prostituta negra, que tinha se tornado rica por escrever sobre a favela, mas recusou-se a compartilhar do dinheiro.
Junto com as palavras dos vizinhos cruéis, as pessoas jogavam pedras e penicos cheios nela e em seus filhos. As pessoas também estavam com raiva porque ela se mudou para uma casa de tijolos nos subúrbios com os ganhos iniciais do seu diário. "Vizinhos se juntaram ao redor do caminhão e não deixá-la partir. "Você acha que são de classe alta agora, não você", eles gritavam.
Os vizinhos locais desprezavam mesmo que a alta realização de seu diário aumentou o conhecimento dessas favelas ao redor do mundo. Para vizinhos locais Carolina esta publicação foi uma contusão de seu modo de vida.
Quarto de despejo – diário de uma favelada:  "Eu durmo. E tive um sonho maravilhoso. Sonhei que eu era um anjo. Meu vestido era amplo. Mangas longas cor de rosa. Eu ia da terra para o céu. E pegava as estrelas na mão para contempla-las. Conversar com as estrelas. Elas organizaram um espetáculo para homenagear- me. Dançavam ao meu redor e formavam um risco luminoso. Quando despertei pensei: eu sou tão pobre. Não posso. Ir a um espetáculo, por isso Deus me envia estes sonhos deslumbrantes para minh'alma dolorida. Ao Deus que me protege, envio meus agradecimentos".

Leia Viva a Benedita da Silva
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